Título: Fausto
Autor: Johann Wolfgang von Goethe
Tradutor: Agostinho d'Ornellas
Opinião: Fausto é, sem dúvida, um livro grandioso. Apesar dos percalços que me "atrapalharam" a leitura da segunda parte desta obra, consegui reconhecer a substância sublime que a compõe.
E caso tivesse dúvidas, aquilo que li na primeira parte foi prova mais do que suficiente de que tinha nas mãos uma das grandes obras da literatura mundial, um verdadeiro épico, ainda que, dos 4 que escolhi para esta temporada, seja aquele que mais foge aos cânones deste género épico.
Não apresenta qualquer tipo de regularidade, intercalando versos soltos (e não é culpa da tradução, que nas notas vem referenciado que era isso que o autor utilizava) com passagens rimadas, versos longos com versos curtos, introduzindo até alguma prosa. As estrofes, todas sendo, sem excepção - que me lembre - falas das personagens, variam entre 1 e várias dezenas de versos.
Além disso tem um tom alegórico muito mais marcado, muito mais visível. Enquanto que n'Os Lusíadas se retratam acontecimentos históricos, mais ou menos romanceados e em Beowulf aparecem várias representações metafóricas, este Fausto é muito mais rico em autênticas fábulas inseridas dentro da narrativa, dominando-a por completo. Como tal, pareceu-me ter uma linha de acção muito mais confusa e repartida em momentos do que os livros anteriores.
O que mais adorei foram mesmo as personagens, nomeadamente as principais, cada uma com as suas particularidades e funções específicas: Fausto, o cientista desiludido, que na sua eterna busca pelo conhecimento descurou aspectos que percebe serem importantes, como o amor e o apaziguamento da sua própria alma; Mefistófeles, sempre educado e lisonjeiro, que oferece a Fausto aquilo que lhe falta, em troca da sua alma; e até Helena, de certa forma, a representação da beleza inatingível, por quem Fausto se apaixona.
O ponto forte são os monólogos, cada um mais fascinante que o outro, embora nada consiga ultrapassar o inicial, de Fausto, em que ele dá conta daquilo que sabe e de como tem noção do quanto não sabe, como sente a falta de coisas que o conhecimento por si só não lhe consegue dar, no fundo, como eu já disse várias vezes, um cientista desiludido, com incursões por todo o lado, da Medicina à Teologia, da Alquimia à Magia e tudo o mais!
É curioso de ver que foi esta história de Fausto, que não nasceu com Goethe, mas que com ele teve um forte impulso, que deu origem a todas as histórias de pactos com o Diabo, todas elas ligeiramente desvirtuadas daquilo que este pacto original é, uma troca vista como justa, com um Mefistófeles nada traiçoeiro nem enganador e um final deveras... surpreendente.
Resumindo, um bom livro, que acredito só não ter achado melhor devido à falta de tempo que me interrompeu e estendeu a leitura por mais tempo do que aquilo que ela merecia.
2 comentários:
Ola Rui, concordo com você sobre o final, foi surpreendente. No entanto apreciei o livro todo. Gothe escreveu o Fausto ao longo da sua vida, talvez seja natural que o estilo mude um pouco, mas existe uma harmonia.
Pois, ele demorou uma boa dezena e tal de anos a escrever a obra, tendo inclusive havido um grande hiato entre o final da primeira parte e o começo da segundo...
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