Autor: Fernando Pessoa
Opinião: Aconteceu um milagre! A sério! Para quem me conhece isto vai ser chocante, eu sei, mas espero que aguentem. Para quem não me conhece, eu explico, em termos simples e simplistas: eu odeio tudo o que o Pessoa (e derivados) escreveu. Mas desta vez, nesta releitura em específico apercebi-me de algo diferente, finalmente caí em mim e dei conta que... Estava a brincar. Odiei na mesma.
Qual é o problema disto? É que há uma lei algures num tomo obscuro num canto obscuro duma biblioteca obscura, que proíbe um português de não gostar de Pessoa. Oh, não me venham com tretas, eu sei do que falo. Entre as pessoas com quem me dou, assim de repente, só conheço uma que leia tanto como eu, e de forma ainda mais diversificada. E é difícil apanharem-me em falso numa conversa sobre livros e literatura, que eu tenho sempre muito a dizer.
Ou seja, sou um tipo informado e que percebe do assunto, quer a minha professora de História do nono ano queira ou não (velhas quezílias). E no entanto sabem o que é que acontece se eu disser que não gosto de Pessoa?
"Ainda vais a tempo!", "Não sabes o que é Literatura.", "É porque não percebes, só pode.", "Olha aqui esta parte, isto não é lindo? Como é que podes não gostar?", "Quando cresceres vais perceber.".
E a lista continua. Eu raramente respondo de forma (muito) agressiva, mas sabem o que é que me passa pela cabeça?
Sim, sem tirar nem pôr. Pelo simples facto de que, por muito arrogante que eu seja, ninguém pode negar que eu percebo de Literatura, mesmo que assumam que todo o conhecimento que eu tenho do assunto passou para a minha cabeça por osmose, de tanto queimar as pestanas. Ainda por cima quando eu sou o primeiro a realçar, e a admirar, o génio de Fernando Pessoa. O homem era, de facto, brilhante, e tinha uma mente como se fazem poucas. E não é preciso ser muito esperto para perceber que o homem tinha talento - desafio-vos a tentarem escreverem textos como se fossem três pessoas diferentes, mas ao ponto de que uma pessoa que leia consiga distinguir claramente uma personalidade distinta para cada uma dessas personagens, que têm os seus estilos e peculiaridades muito próprias.
Pessoa fez disso às dezenas. É impossível consegui-lo sem se ser um génio, um esquizofrénico ou, e esta é a minha versão favorita, um bocadinho dos dois.
Portanto eu, como toda a gente com dois dedos de testa, sou da opinião de que o homem era um génio e que merece de facto ser mencionado como uma das maiores personalidades portuguesas de sempre. Apenas não gosto das coisas que ele escreveu.
Desculpem, mas eu sou um tipo chateado que anda particularmente chateado. Este longo preâmbulo serve para mostrar que quando eu digo que a Mensagem é uma leitura de casa de banho, não o estou a dizer só porque sim. Digo-o de forma provocativa, mas sei bem o que estou a dizer. A releitura não me convenceu.
Eu até consigo encontrar pedaços que aprecio. Enquanto citações. A sério, o livro está cheio de marcadores autocolantes de um laranja brilhante a apontarem para sítios à espera de serem transcritos. Mas como um todo, sabem o que isto é? Uma resposta melancólica a Os Lusíadas, e pouco mais.
"Sim, Luís, tens razão, nós já fomos os maiores. E sim, Luís, tens toda a razão, agora somos uns nhonhas. Mas sabes que mais? Ainda vamos ser os maiores outra vez, olha aqui o potencial, olha, olha aqui, oh para este povo cheio de potencial, até já nos deixámos de confiar em reuniões departamentais dos deuses, e criámos os nossos próprios mitos! Somos DIVINOS, olha para nós, estamos tristes por já não sermos o que fomos, mas potencial! NÓS SUAMOS POTENCIAL PELOS NOSSOS POROS, LUÍS!!"
Enfim. O livro está escrito com a mesma simplicidade técnica da poesia do ortónimo. Não, não é a simplicidade de quem recusa a máquina da complexidade estilística e quer quebrar barreiras; é a simplicidade de quem estava tão perfeitamente convencido da sua genialidade que sabia que podia não ter demasiado trabalho.
O tipo era óptimo a encadear palavras para que as frases soassem bonitas, mas era péssimo a encadear frases para que as ideias soassem a alguma coisa palpável. É por isso que a sua prosa era entediante, no mínimo, e é por isso que se dava melhor com a poesia, o formato literário em que a forma se sobrepõe ao conteúdo.
A lengalenga que nos vendem na escola é que isto é a melhor coisa de sempre. Só que não. E quem contraria é crucificado ("booo, boooo, estás a exagerar"... pois estou). Infelizmente este autor, e a grandiosidade da sua excelsa obra, já estão instalados e fazem parte da mobília. E é pena. Porque há muito bom autor, entre romances, contos, teatros e poesia (se eu tivesse paciência para procurar estes últimos), que merecia ser estudado. E em vez disso, paletes de Fernando Pessoa a serem-nos enfiadas pelas sinapses adentro! Nem digo para o eliminarem do programa, mas caramba, variem um bocado a coisa e...
Fiquemos por aqui.