Título: O Bom Inverno
Autor: João Tordo
Sinopse: Quando o narrador - um escritor frustrado e hipocondríaco - se desloca a Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Planeando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer um escritor italiano mais jovem, mais enérgico e muito pouco sensato, que o convence a ir com ele até Sabaudia, em Itália, onde o famoso produtor de cinema Don Metzger reúne um leque de convidados excêntricos numa casa escondida no meio de um bosque. O cinema não é, porém, a única obsessão de Don: da sua propriedade em Sabaudia levantam voo balões de ar quente estranhamente vazios, construídos como obras de arte por Andrés Bosco, um catalão cuja relação com o produtor permanece um enigma. Nada, aliás, na casa de Metzger é o que parece; e, depois de uma primeira noite particularmente agitada, o narrador acorda com a pior notícia possível: Don foi encontrado morto no seu próprio lago. Bosco toma nas suas mãos a tarefa de descobrir o culpado e de o castigar, isolando o grupo de convidados na casa e montando-lhes um verdadeiro cerco. Confrontados com os seus piores medos, assustados, frágeis e egoístas, estes começarão a atraiçoar-se e a acusar-se mutuamente, num pesadelo que parece só poder terminar quando não sobrar ninguém para contar a história.
Opinião: Comprei este livro num momento de impulsividade inesperada. Estava num daqueles dias em que me apetecia comprar um livro, só porque sim. E enquanto passeava pelas prateleiras, vi este e mal tive tempo de pensar duas vezes: peguei e paguei. A única informação que tinha acerca deste livro, e deste autor, era tirada directamente da meia dúzia de críticas que tinha lido, e do pouco burburinho que já me tinha chegado, sobre o autor. Ou seja, não sabia nada de substancial.
Foi por essas razões que parti para a leitura deste livro completamente à descoberta. Não sabia o que esperar, as minhas expectativas eram ambíguas, enfim, acho que nunca comecei a ler um livro estando tão coberto de ignorância sobre o mesmo. E foi uma experiência bastante positiva, devo dizer. Demorei algum tempo a entrar no ritmo do livro, mas a partir do momento em que o consegui fazer, "foi sempre a abrir"!
No entanto devo dizer que os meus sentimentos relativamente a esta obra são maioritariamente ambíguos. Não tenho uma opinião muito bem definida sobre o que acabei de ler, em parte por ter reconhecido um escritor português, à medida que as linhas passavam, mas ao mesmo tempo ter dificuldade em acreditar que foi de facto um escritor português que imaginou este livro. Como é que eu hei-de explicar isto... A história tem momentos e pormenores tipicamente portugueses, mas ao mesmo tempo toda a obra é uma espécie de ruptura com a tradicional literatura portuguesa.
Para começar, tem óptimas personagens, factor típico dos grandes escritores portugueses, que sempre achei serem muito focados nas personagens, às vezes mais do que na história em si. Depois é uma mixórdia completamente inusitada de géneros: policial na essência, com laivos de comédia e longas tiradas reflexivas; um estilo que oscila entre o directo e o poético; a narrativa ora a focar-se no mistério existente desde o início, ora a esquecer isso e a deixar-se embargar no terror e no horror, criando uma atmosfera absolutamente macabra.
Além de tudo isto, é ainda uma história com reviravoltas atrás de reviravoltas, com um enredo tudo menos linear, que inclui até perguntas que ficam por responder e uma personagem que achei fascinante pelo simples facto de ter tanta relevância na história embora nunca apareça com vida (a não ser em flashbacks), pormenor a fazer lembrar o Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, com o seu General Gomes Freire de Andrade.
Esta conversa toda é para dizer que gostei bastante do livro, mas que se me perguntarem em como o classificar terei uma enorme dificuldade em responder. Não me perguntem que parte gostei mais, nem qual a minha personagem favorita, porque ainda estou a assimilar muita coisa. Tenho ainda que realçar dois aspectos que achei mais negativos: um, foram os diálogos, não os achei tão excepcionais como são pintados, achei-os banalíssimos, na sua maioria, sem nada de extraordinário, nem por aí além. E outro foi toda a nebulosidade da obra. É sempre muito vaga, as descrições têm poucos detalhes, deixando no ar uma sensação de estranheza que não me convenceu por completo... Mas, como é óbvio e já disse mais acima, gostei muito do livro, e espero vir a ler mais coisas deste autor bastante promissor.
3 comentários:
Uma pessoa, um dia, fez-me referência ao autor. Primeira vez que ouvi o seu nome. Depois disso, passei a prestar mais atenção, e tenho visto as capas. Tal como tu estavas, na ignorância permaneço. Não li nenhuma sinopse, não li mais do que o primeiro parágrafo de cada livro, e estou em pulgas para adquirir e ler um deles.
Mas, dentro de mim, não sei bem porquê, tenho as expectativas ao rubro. É como se este escritor escrevesse para mim, e eu, como leitor, tenha sido convidado a lê-lo. Muito, muito estranho.
É não é? É estranho, este autor tem uma aura qualquer à volta dos seus livros que me arrepia um bocado.
O que me levou a comprar este livro foi o autor ter vencido o Premio José Saramago.
Também não cheguei a grande conclusão sobre o autor. Sei que quando editar outro livro o vou ler, mas confesso que além de ter gostado da obra, esperava mais. A história está muito bem contado, muito bem escrita, o livro é de fácil leitura (o que não sempre é um bom aspecto), mas o que aprendemos depois de ler o livro? Será que a obra foi escrita a pensar numa adaptação ao cinema? Do ponto de vista filosófico que tema é abordado na obra?
Enviar um comentário