terça-feira, 19 de julho de 2011

Judas, o Obscuro

Título: Judas, o Obscuro
Autor: Thomas Hardy
Tradutor: Maria Franco e Cabral do Nascimento

Sinopse: "Judas, o Obscuro" narra o drama do pedreiro Judas Fawley, cujas ambições estão amarradas pela condição social. Depois de um casamento tumultuoso, Judas ruma a Christminster com o intuito de mudar a sua vida e apaixona-se pela delicada e intelectual Sue Bridehead que em nada se parece com a sua primeira mulher Arabella. Ambos protagonizam uma história de amor repleta de tragédia no panorama histórico-social de uma Inglaterra do século XVIII.

Opinião: O terceiro livro da excelente colecção "Não Nobel" é um clássico relativamente típico, se é que isso existe. Vamos lá ver se me consigo explicar: por um lado não apresenta nenhum elemento fora do comum, nem nenhum mistério nem nada desse tipo ou semelhante. Aquilo que é retratado neste livro é pura e simplesmente a vida de Judas Fawley, sábio por realizar, teólogo falhado e pedreiro de profissão.

No entanto não é propriamente a história tradicional, em que o protagonista vai conseguindo realizar objectivos e cumprir os mais variados desígnios, num caminho mais ou menos tortuoso para o sucesso ou para algum tipo de realização pessoal. Nem mesmo no que toca a encontrar o amor da sua vida. Pelo menos no que toca a ficar com essa pessoa. A história de Judas Fawley é muito mais obscura que isso, um caminho mais do que tortuoso, repleto dos mais variados obstáculos, numa sucessão de objectivos falhados e desígnios por cumprir, que destroem o seu optimismo a pouco e pouco, dando lugar a um pessimismo e um fatalismo quase irracional, ainda que bastante compreensível.

Aquilo que mais gostei neste livro foi mesmo a personagem principal, Judas, especialmente no princípio, quando quase que me conseguia identificar com ele, com a sua sede insaciável de saber e a sua determinação de ferro para lutar contra tudo e todos de forma a conseguir atingir o objectivo a que se propôs, de ir para Christminster e seguir uma carreira como universitário. Mas depois, quando isso caiu por terra por causa de uma mulher (ainda por cima aldrabona), Judas começou lentamente a ficar desesperado, praticamente a arrastar-se, cada vez mais, ao longo da história, numa agonia crescente que parece nunca mais ter fim.

E comecei a desgostar mais dele por causa das suas sucessivas desistências, por este ou aquele motivo, pelas cedências que fez aos ideais de outrem e às concessões que fez às normas da sociedade em geral. Mas quer dizer, eu não vivo naquela época, e não sofri nem uma décima parte das desgraças sucessivas que aquela personagem sofreu, nem nada que se pareça, portanto não posso falar muito, mas digamos que gostaria mais Judas tivesse revelado um bocadinho mais de espinha e tivesse lutado afincadamente contra as adversidades, fossem quais e quantas fossem.

Quanto à parte que menos gostei, foram mesmo as personagens femininas. Eu não sei qual era o problema deste autor com as mulheres, mas as personagens femininas ou eram velhotas meio malucas ou eram raparigas jovens extremamente inconstantes. Bem, talvez fossem mulheres normais (desculpem, não resisti), mas a verdade é que no que toca às raparigas inconstantes, só têm um aspecto que me agradou, a aversão à religiosidade, uma por ser relativamente ignorante e a outra por ser relativamente inteligente Mas tirando isso, por amor do deus que vocês quiserem, ora querem casar, ora não querem casar. Ora se divorciam, ora voltam a casar. Ora são pagãs fervorosas, ora são católicas beatíssimas. No espaço de duas páginas, que é como quem diz meia hora de tempo de história, chegam a mudar de ideias e de discurso 4 e 5 vezes!

Mas enfim, tirando essa parte, não me posso queixar, é um livro excelentemente bem escrito, ainda que com uma tradução pouco cuidada, mas enfim, foram só 6 euros, e independentemente disso, a história é óptima e reveladora daquilo que é mais básico e mais natural na condição humana, a nossa tendência para o pessimismo e para o fatalismo, e a nossa quase necessidade de acreditar em forças superiores que nos guiem, para que nos possamos recostar e deixar entregues nas suas mãos, desculpabilizando-nos dos nossos erros.

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