terça-feira, 25 de setembro de 2012

Viajando por Allaryia


Tudo começou há uns anos, já não faço a mais pálida ideia de quantos, exactamente pela altura que passou há pouco: o meu aniversário. Digamos que tenho uma prima que é espectacular por várias razões, uma das quais é o facto de ser das poucas pessoas que me foi dando livros, como prenda.

Este assunto dos livros como prenda dá muito que falar, pois por estranho que pareça, as pessoas que mais lêem são exactamente as que menos livros recebem, a maior parte das vezes. Mas pronto, isso fica para outra vez.

O que interessa é que essa minha prima me ofereceu um livro, certa vez: Os Filhos do Flagelo, de Filipe Faria. Livro que eu não conhecia, de um autor português que eu não conhecia. Nem nunca tinha visto a capa em lado nenhum. Como é óbvio, a curiosidade explodiu por ali fora.

Mas quando comecei a investigar o livro, deparei-me as palavras no topo, por cima do título, que agora sei serem o nome desta saga pioneira de high fantasy portuguesa: Crónicas de Allaryia. A minha memória não é lá grande coisa, mas em termos de literatura é uma máquina e, como tal, foi logo buscar uma vaga memória de uma consulta no centro de saúde, uma coisa de rotina, em que o homenzinho me queria falar sobre sexualidade e afins, para que eu estivesse informado e prevenido e isso tudo.

Como é óbvio, ele não foi logo directo ao assunto, com medo de assustar o eu-adolescente, ou algo do género, mas começou por fazer a abordagem pessoal: "Então o que é que gostas de fazer?", pergunta à qual a resposta mais imediata é "Ler.", já há vários anos. Perguntou-me então se eu já tinha ouvido falar das Crónicas de Allaryia. Não tinha, nem percebi muito bem, pois respondi que tinha lido As Crónicas de Nárnia e tinha gostado. Ele lá me explicou que eram outras diferentes, mas eu não fiquei muito convencido, e a memória acaba-se aqui.

Isto queria dizer que eu já tinha ouvido falar de algo relacionado com aquele livro. A curiosidade anteriormente explodida, conseguiu explodir com a sua própria explosão, num mega rebentamento da mais pura e genuína curiosidade. Mas rapidamente descobri que Os Filhos do Flagelo era o segundo volume destas Crónicas. O desespero da procura pelo primeiro volume durou algum tempo, até que o encontrei e devorei, assim como o segundo, o terceiro e o quarto. Depois esperei pelo quinto, que devorei. Depois pelo sexto, que devorei. E depois esperei o que me pareceu bastante tempo pelo sétimo e último, numa edição de luxo que não me farto de gabar, que ainda não devorei. E porquê?

Porque sou louco. Como já não me lembrava a 100% da história, meti na cabeça que ia ler os sete volumes todos seguidos. Assim por alto, são entre 3500 e 4000 páginas basicamente sobre a mesma coisa. Para muita gente que conheço, ler 3 linhas sobre o mesmo assunto é algo extenuante, nem sequer quero tentar imaginar a reacção delas a esta minha decisão. Um colapso nervoso? Um enfarte agudo do miocárdio? Coma literário? Nem sei.

Mas é exactamente isso que eu vou fazer. Se aguentei 1376 páginas de Stephen King e 4 custosas epopeias de seguida, consigo lidar com 4000 páginas de high fantasy. Especialmente porque compensa. Lembro-me perfeitamente que fiquei deslumbrado com esta saga. A certa altura fui até completamente fanático. Com o tempo comecei-me a aperceber das falhas na escrita e na história, e da clara evolução do autor ao longo dos livros, mas nunca perdi esse fascínio por esta saga. Não só por ser um tipo de literatura que aprecio bastante, mas também por ser português, por o autor ter escrito o primeiro livro com 16 anos e a coisa não ter saído uma grandessíssima porcaria, e por ser inovador. Os autores portugueses não escrevem high fantasy. Ricardo Pinto não conta, que escreve em inglês, e a saga da Sandra Carvalho é posterior à do Filipe Faria, portanto que eu saiba, o Filipe foi o primeiro!

É preciso coragem, é preciso vontade e é preciso talento, diga-se o que se disser da sua escrita e dos seus livros. A verdade é que admiro muito este autor e esta saga, e mal posso esperar por terminar a sua leitura, nesta minha autêntica Viagem por Allaryia, um mundo que tem um cantinho especial nas minhas estantes.

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