quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Vulcão de Ouro

Título: O Vulcão de Ouro
Autor: Jules Verne
Tradutor: Irene Fialho e Luísa Mellid-Franco

Sinopse: É o tempo heróico da febre do ouro. Mineiros e bandidos percorrem as paisagens agrestes da região norte do Canadá à procura da utopia dourada. Dois primos oriundos de Montreal atravessam montanhas, lagos e rios unidos pela mesma vontade de conquista e pela miragem de uma riqueza sem limites. Romance de acção vertiginosa e espectaculares surpresas, O Vulcão de Ouro surgiu já depois da morte do autor num versão do seu filho, Michel Verne, que adulterava gravemente o original. Na sequência da descoberta do manuscrito pela Sociedade Júlio Verne, temos agora a possibilidade de o conhecer em todo o seu fulgor e imaginação.

Opinião: Juro que já me tinha esquecido de como me é fácil ler Jules Verne. Por alguma razão tenho ali na estante 51 livros dele, dos quais já li mais de metade, ao longo dos anos. Para além de uma profunda admiração por este escritor, tenho a maior parte da sua obra.

Portanto foi com espanto que vi alguém a emprestar-me não 1, mas 2 livros que não fazem parte da minha colecção. E ambos livros dos quais eu nunca tinha ouvido falar. O que descobri é que tanto este como o outro são livros especiais: Um padre em 1839 é um romance da juventude do autor, inacabado e ainda sem o seu estilo característico completamente assente; O Vulcão de Ouro é um romance póstumo que sofreu profundas alterações por parte do filho, Michel Verne.

Mas esta edição é exactamente uma edição publicada a partir do manuscrito original, muito cuidadosa e certamente bastante fiel. Tem uma breve introdução ao assunto e uma explicação e contextualização da obra e da temática que ela apresenta. Para além disso, ao longo de todo o livro são assinalados os pormenores que o autor foi modificando, os que se esqueceu, e espaços que deixou em branco, para serem preenchidos aquando de uma revisão que nunca chegou a acontecer.

E tal como a grande maioria dos seus livros, este insere-se nas suas Viagens Extraordinárias, neste caso a de 2 primos, Summy Skin e Ben Raddle, que viajam até ao Klondike na altura da febre do ouro por causa de um pedaço de terreno que lhes é deixado pelo tio, Josias Lacoste. O objectivo é avaliá-lo para o venderem ao melhor preço, ou para o trabalharem de forma a maximizarem o lucro, mais por vontade de Ben do que por de Summy. O primeiro é inevitavelmente atingido pela perigosa febre do ouro, e os primos nunca mais têm descanso.

Aquilo que é explicado na introdução ao livro é bastante claro quanto à mensagem principal do livro, embora não precisasse, pois ela passa perfeitamente através da narrativa. Verne usa esta história para condenar a corrida ao ouro, da qual raras eram as pessoas que saíam mais ricas do que entravam. O problema é exposto de forma mais óbvia pelo dilema entre os dois primos: Ben, engenheiro, audacioso e ambicioso, anseia por explorar e fazer parte dos prospectores, enquanto que Summy, mais comedido e conformado, opõe-se sempre fortemente a todas as ideias do género.

Verne queria demonstrar como os que enriqueciam no Klondike e em sítios semelhantes, faziam-no apenas por sorte, e que quem se deixava envolver por esses trabalhos, dificilmente conseguia deixar de o fazer, tal era a ambição e a ganância que o ouro despertava, mas que quando o faziam, normalmente faziam-no entregues a misérias e a prejuízos elevados.

Só posso afirmar a qualidade do livro e do escritor, que muito admiro. O seu conhecimento quase enciclopédico da região onde se passa a história faz com que seja muito complicado acreditar que nunca a visitou, e que a maior parte da informação geográfica, histórica e social é proveniente das suas leituras e investigações. É bastante comum isto acontecer nos seus livros, quem os ler facilmente acredita que Verne foi um viajante inveterado, quando na realidade pouco saiu da sua cidade, quanto mais do seu país. Assim se vê o génio do autor.

Imagino que não seja fácil encontrar este livro, mas aconselho vivamente a quem o fizer, que o leia. Se não conseguirem, há dezenas de obras sempre à mão de semear, e não hesito em aconselhar qualquer uma delas.

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