domingo, 6 de janeiro de 2013

As Trevas Fantásticas

Título: As Trevas Fantásticas
Autor: David Soares

Sinopse: Estas são AS TREVAS FANTÁSTICAS; pequenas porções de escuridade que se entrosam com as nossas experiências, esquivas se procurarmos olhá-las de frente, sentidas, somente, com o rabo do olho. Cinco contos que vão convidá-lo a viajar pelo tempo e pelo espaço numa peregrinação negra.

Opinião: Para além de ter a capa mais perturbadora que eu me lembro de ver num livro, As Trevas Fantásticas é o quinto livro que leio de David Soares, um escritor que não me canso de elogiar pela sua imaginação, pelo macabro e puro horror das suas histórias, bem como pela qualidade da sua prosa.

É um escritor que já conheço há algum tempo, mas que só comecei a ler o ano passado. E se já me fascinava antes do primeiro contacto que tive com os seus livros, a partir desse momento David Soares tornou-se um dos escritores que idolatro na concepção mais fanática e embasbacada da palavra que consigam imaginar. Portanto, é sempre com uma boa dose de expectativas que encaro um livro deste escritor. Já as tive ligeiramente defraudadas, mas ainda está para chegar o livro que esteja abaixo de "Bom!", e este está bem acima disso.

Os seus 5 contos percorrem aquilo que me pareceu uma vasta gama de, digamos, temas, todos vistos pelo mesmo prisma do horror e do macabro. Desde o bizarro mais bizarro, ao triste e tocante, passando pelo macabro agressivo, As Trevas Fantásticas escondem muita coisa...

O primeiro é O Bezoar, o exemplo mais claro de uma história profundamente bizarra. Digamos que envolve um monstro, o Bezoar do título, que é deveras... peculiar, uma forma bastante original de cortar o cabelo, e que ainda fala sobre a atracção sexual, com duas páginas de receita culinária pelo meio, de forma completamente aleatória. Mas foquem-se na primeira coisa que eu disse. Esta é uma história profundamente bizarra.

O segundo conto é o espectacular Corações no Verão. Deve ter sido o melhor conto deste livro, até porque apresenta uma faceta que eu desconhecia em David Soares, pelo menos de forma tão aprimorada: esta história dum rapazinho com problemas de coração (profundamente bizarros, este David Soares é completamente louco) que tem uma paixoneta por uma rapariguita, parece simples demais. E como é óbvio, desenvolve-se de forma muito mais interessante.

Para contrabalançar um pouco, de seguida aparece o menos interessante do conjunto, Pela mão de um Vampiro, que bate na tecla demasiado gasta do vampiro, mas que pelo menos tem uma história interessante e vampiros verdadeiramente vampirescos. Ou melhor, pelo menos são bastante sanguinários. Bem, há um vampiro escritor, e um vampiro que quer escrever, há um bocado de sangue e tripas e um final moderadamente interessante.

E para retomar um pouco o nível, aparece No vale, a igreja, um conto fenomenal que retrata a homossexualidade (ah! o choque! o horror!, deixem-se de coisas, até parece que um bocado de sodomia nos livros de David Soares é muito estranho), mas não como tema fulcral e até de forma bastante natural, o que foi uma mudança bastante agradável de todas as personagens orgulhosamente gays com vontade de se justificarem ao mundo. O tema fulcral é uma comunidade que foge em peso de uma epidemia mortífera e acaba por encontrar algo bastante inesperado e perigoso onde menos esperavam...

Por fim, O Círculo de Sangue é o conto mais curto e aquele que mais me impressionou, pela sua agressividade e pelo seu tom quase poético, ainda que extremamente sangrento e macabro, com David Soares a provar mais uma vez que o sangue e as tripas podem ser descritas de forma bastante literária. A história é bastante... bem, é profundamente bizarra, e envolve uma mulher que consegue ter filhos, mas não por muito tempo, e é um conto que tenta passar de forma bastante explícita uma mensagem mais profunda sobre a organização cíclica das coisas.

Resumindo, não é o melhor que já li de David Soares e tem um conto que não aquece nem arrefece, mas é um livro de um bom autor que, como já disse lá em cima, não me canso de elogiar. O horror e o macabro no seu melhor, desta vez com uma pitada de sentimentalismo que desconhecia!

2 comentários:

C. Quartin disse...

só quero dizer que até pode ser um tipo de coisa que não ande, bem, propriamente a ler, e que provavelmente em alguns aspectos que descreves tem pouco a ver com os meus gostos, mas consegues deixar-me curiosa às vezes.

Rui Bastos disse...

Devias experimentar!