sábado, 10 de outubro de 2015

Originalidade


Ser original não é muito fácil. Fazer algo novo, diferente o suficiente do que já existe, e ainda assim interessante o suficiente para cativar a audiência... É trabalho complicado. Eu ainda por cima estou na situação privilegiada de estar activamente envolvido em dois mundos em que isso é notório, bem como as suas consequências: a ciência e as letras.

Há um enorme cuidado no que a originalidade diz respeito, não só a nível de trabalho, mas também a nível de artigos científicos e até do próprio desenvolvimento das ideias. E, claro, a literatura também tem os seus polícias do plágio enraizados em cada leitor, sempre à cata da mais pequena falha desse género.

Mas é preciso esclarecer já que falta de originalidade não implica plágio. Uma coisa é não saberem o que escrever a seguir, e então escrevem algo previsível, simples e que já foi contado milhares de outras vezes em tantas outras histórias; outra é chegarem à mesma situação, pegarem num livro das vossas estantes, e copiarem meia dúzia de parágrafos e declararem-nos como vossos.

A primeira opção é fraca e pouco interessante, mas a segunda é criminosa e imoral!

No entanto também é preciso ver que isso da originalidade não cai do céu. Não é difícil que pessoas parecidas, a passarem pelo mesmo tipo de ambiente social e tudo o mais, acabem por escrever coisas parecidas. E isso não é plágio, como devem imaginar. Também tenho dificuldade em chamar-lhe "falta de originalidade", mas na verdade é o que é.

Esse conceito, para mim, significa algo tão simples como "dadas as mesmas condições, arranjar uma solução diferente". Pode fazer mais ou menos sentido, e dependendo do que estivermos a falar, ser mais ou menos legítimo enquanto solução, mas isso é quase secundário. Burocracias mentais, se assim quiserem.

E é exactamente por isso que é tão complicado ser-se original. É preciso ter uma mente que nos permita ver para lá daquilo que os outros vêem. Ou pelo menos é preciso ter a mente suficientemente aberta a que isso aconteça.

Como isso dá algum trabalho, as pessoas caem facilmente nos facilitismos. Para um cientista/engenheiro/pessoa genérica de ciências, há confiança de que um professor não vai verificar todas as referências e  não vai dar conta que lá no meio do texto aparecem dois parágrafos novos que resolvem tudo. Portanto é muito fácil ir buscar os ditos parágrafos a quem já o disse, e melhor, e simplesmente usar.

Isso é plágio. Depois há aquilo a que eu chamo de plágio moral, que é o que o Fifty shades of grey é em relação ao Twilight. A história, mesmo tendo em conta pouco mais do que as sinopses, são sobre uma rapariga peculiar de alguma forma que se apaixona por alguém "superior" a ela e aceita as condições dele sobre a relação, sem ai nem ui.

Felizmente isto são coisas (relativamente) isolados e (relativamente) pontuais, o que quer dizer que o que não falta por aí são livros de qualidade. Já se são originais ou não, deixo ao vosso critério.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sobre o que versam histórias? Relações e conflitos, valores e interesses. Está tudo dito. Ninguém pode ser completamente original quando a base da pirâmide está inventada.
Em policiais há um crime.
Em suspense há um evento.
Em novelas há um amor.
Em fantasias há mundos novos.
Em ficção científica há tecnologia.
Acho que confundir plágio com falta de originalidade é um pouco excessivo. O plágio é o puro copy paste sem aspas. A falta de originalidade é diferente. Acho que a falta de originalidade dá-se quando se cai em clichés inconscientemente. A mulher forte e sexy saber lutar, o detective omnisciente, o herói sem medo, o rico mau... Estes são apenas alguns exemplos de clichés que podem gerar pouca originalidade... ou então podem ser adaptados e gerarem ainda melhores histórias que as anteriores.
Depende tudo do escritor.

Abraço
FBF

Rui Bastos disse...

Sim, a minha ideia é essa... Algo que não é original não é necessariamente plágio!