A primeira temporada desta série é extraordinária. Matthew McConaughey e Woody Harrelson fazem um duo perfeito, em papéis excepcionalmente bem interpretados, inseridos numa história que cativa do princípio até ao fim, e rodeados de um elenco secundário igualmente bem trabalhado.
Mas tendo em conta o formato de antologia da série, com tudo a mudar de uma temporada para a outra - excepto a equipa técnica e o tema principal, polícias e detectives a fazerem as suas coisas de polícias e detectives - tudo podia correr mal aqui. Mas o elenco anunciado revelou-se cada vez mais forte, e o argumentista, Nic Pizzolatto, prometeu seguir a mesma fórmula em termos de ambiente e caracterização das personagens.
Levantei as expectativas. E fiz bem. A segunda temporada é tão extraordinária como a primeira, e até me cativou mais. Tiraram-se os longos monólogos da personagem de McConaughey, que por muito interessantes e fascinantes que fossem de acompanhar, matavam completamente o ritmo, e em vez disso introduziu-se um enredo mais denso, mais política palaciana e uma maior ambiguidade moral em todas as personagens.
Era isto que faltava. Uma maior representatividade de vilões, e a explicação de que nem sempre os maus das histórias são os vilões. Ou que há vários níveis de vilões.
O enredo até perde relevância quando o que temos no ecrã são personagens brilhantemente caracterizadas, como: o detective corrupto, mas com boas morais que luta contra o vício e só quer ser um bom pai; o mafioso mais mafioso de sempre, completamente entregue ao seu papel de mau da fita para conseguir sobreviver; a detective com estranhos fetiches sexuais e um passado complicado, adepta de fazer o bem, mas que está constantemente a lutar por se fazer valer num mundo de homens; e o polícia justo que é tramado por uma celebridade e que luta contra os seus impulsos homossexuais.
Dito isso parece só um desfilar de desgraças, mas acreditem que os actores e actrizes trazem estas personagens ao ecrã com uma densidade e um realismo que só é possível fora da vida real. São, quase literalmentes, personagens larger than life. Cada uma a representar os seus próprios demónios. E é espectacular vê-los em acção, ou a trabalhar em conjunto por causas comuns.
Quem é quer saber de um enredo sobre negociatas de terrenos e linhas de caminhos de ferro e estradas e auto-estradas e sei lá mais o quê, uma história que os próprios episódios deixam bem claro que é secundário? O que é realmente importante são as personagens e as relações entre elas.
E o final? Oh, o glorioso final, em que tudo faz sentido, excepto a vida (toquem os tambores do dramatismo). A sério, as peças encaixam todas, e a grande conclusão é que a morte não perdoa, e isso nem sempre é mau. O que significa que vou ficar ansiosamente à espera da próxima temporada, porque a fórmula funciona!
3 comentários:
Bom, até que enfim encontro alguém que, como eu, gostou da segunda temporada!
Todavia, não te acompanho no ser mais cativante que a primeira. Por um lado, não pode haver nada de melhor que os devaneios niilistas do Rust (who cares about rhythm?); por outro, foi-me complicado acompanhar toda a teia de nomes e relações da segunda temporada, o que - sem estragar a maravilha que é aquela caracterização de personagens - me tirou a capacidade de manter, em cada minuto, o panorama completo do enredo na cabeça (e olha que os Sons of Anarchy treinaram-me bem nesse aspecto).
Confirma-se também a grande capacidade de puxar por actores por quem, antes, até nem se dava muito até estes se provarem intérpretes absolutamente extraordinários. Nunca mais vou olhar para o Vince Vaughn e rememorar comédias românticas!
Parece-me uma série bem intensa, embora muito me relembre The Shield de há uns anos atrás - polícia corrupto que tenta agir bem; tricas políticas; polícia homossexual negando a sua natureza. De qualquer modo, tenho de ver.
Sandra, a malta que não gostou desta temporada, na minha opinião, estava com expectativas de uma série normal: mais do mesmo. Mas o formato antologia lixou-lhes o esquema.
Concordo que os devaneios niilistas do Rust eram qualquer coisa, mas é um facto que matavam completamente o ritmo e não permitiam que acontecesse muita coisa. Era interessante, e gostei bastante de acompanhar, mas esta temporada tinha uma história complexa que realçava e complementava a caracterização das personagens, em vez de ser apenas mais um elemento.
Os nomes... Pormenores :p
E realmente, não sei quem é que está a dirigir os castings disto, nem quem é que está a dar indicações aos actores e às actrizes, mas sim senhor!
Luiz, essa série nunca vi, mas esta aconselho vivamente!
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