segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O Anjo mais Estúpido


Autor: Christopher Moore
Tradutora: Leonor Bizarro Marques


Opinião: Eu gosto deste autor, a sério que gosto. Dos dois livros dele que li antes deste, adorei um e fiquei altamente desapontado com o outro, mas fiquei com noção que a culpa não era do livro/autor, mas sim do facto daquele ser o segundo volume de uma trilogia sem mais nenhum volume publicado em Portugal.

Com a leitura deste O Anjo mais Estúpido, esperava não só ter uma leitura natalícia a condizer com a época do ano, como recuperar a boa impressão que tinha de Christopher Moore. Infelizmente isso não aconteceu, e desta vez tenho que pôr culpas no livro/autor, mas também na tradutora, de quem falarei no fim.

Para começar o livro é puro humor destilado. Não há aqui nenhuma tentativa muito pronunciada de desenvolver personagens ou uma narrativa coerente. Há uma história, sim, mas tudo acontece com o propósito de proporcionar momentos de comédia. E quanto mais idiotas, melhor.

O “problema” começa aí, e não é bem um problema. É que o tipo de humor, muito americano, não é o meu tipo de humor favorito. Em doses pequenas torna-se agradável, mais que não seja porque me leva a rir, quer eu queira quer não, de tanta idiotice pegada, mas é só. Sou muito mais fã do humor britânico, por exemplo, igualmente palerma e surreal, mas com uma abordagem muito diferente.

Isto para dizer que logo à partida, não é fácil de me convencer com um livro destes. Mas como o primeiro livro que li do autor, Guia Prático para Cuidar de Demónios, me agradou bastante, tinha confiança. Só que este livro, apesar de engraçado, não é assim tão engraçado quanto isso. O autor parece esforçar-se demasiado para que as situações e as personagens tenham graça, e portanto não há nada normal nesta história, e sem algo normal para contrastar, as situações exageradas parecem apenas isso: exageradas e sem sentido.

É claro que é difícil não ser engraçado quando se conta a história de uma pequena cidade americana com um polícia de inclinações hippie, a sua mulher ex-actriz de filmes de série B e actualmente completamente louca dos cornos, um aviador com um morcego de estimação, um biólogo com eléctrodos nos testículos para controlar os seus próprios impulsos sexuais, e uma horda de zombies com uma estranha apetência por móveis do IKEA, entre muitas outras coisas. Portanto nem tudo é mau.

O verdadeiro problema, este sim relevante, é a tradução. Eu sei que avaliar a tradução é uma tarefa um bocado ingrata para quem a faz, sem ter o original ao lado, mas neste caso há problemas inegáveis. A começar pelas notas da tradução, das quais o livro está cheio, e das quais noventa por cento eram dispensáveis. Ninguém precisa que lhe expliquem quem é o “Barba Negra”!

Depois alguns erros gramaticais graves, que tornam as frases altamente confusas. E o pior de tudo é o facto da melhor piada do livro inteiro, e que é intraduzível para português, passa despercebida por não ter uma nota de tradução num sítio onde era realmente preciso haver uma! Vejam a frase: “Afinal de contas, a negação não é apenas o nome de um rio no Egipto.”. Qual é a piada? Qual é, sequer, o sentido disto? Eu que não tenho problemas com o inglês, cheguei lá, mas não foi imediato, e outra pessoa menos fluente nunca na vida apanharia esta piada. O truque está na sonoridade: negação em inglês é denial, que se lê da mesma forma que the Nile, ou o Nilo, o maior rio do Egipto!

A piada é genial, e estas manhosices da tradução escondem-na por completo e tornam a frase em algo inconsequente e idiota. No fim, todos estes problemas fazem com que a minha classificação deste livro tenha que ser puxada para baixo. Parece que foi uma tradução feita em cima do joelho, sem que a tradutora prestasse grande atenção ao que estava a fazer. E isso não é nada bom.

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