"Para perceber como funcionam as coisas!"
Maricas. Essa é a resposta bonita que se dá para a malta não nos achar esquisitos. A realidade é que "fazer ciência" está para "perceber como funcionam as coisas" da mesma forma que "correr a maratona" está para "cortar a meta": até pode ser o objectivo final, mas ninguém tem o título de cortador de metas; são corredores.
Portanto deixem-se disso. É uma visão redutora, e que embora não negue completamente, também não apoio activamente. Até porque existem mais campos do conhecimento que permitem perceber o funcionamento de alguma coisa. Psicologias e afins para perceber o ser humano, Economias e afins para perceber o sistema criminal, por exemplo.
Mas quando alguém se mete nisto, rapidamente percebe que "perceber como funcionam as coisas" é só mesmo um chavão para explicar rapidamente o que andamos a fazer. Um investigador pode passar a vida inteira a estudar uma única bactéria, ou proteína, ou animal, ou processo metabólico, ou o que for, e morrer sem nunca perceber como é que funciona.
Não é perceber que interessa, é aprender. Aquele investigador que esteve cinquenta ou sessenta anos a olhar para a mesma coisa de vários ângulos diferentes pode nunca cortar a meta, mas a sua contribuição para a Ciência pode ser digna de Nobel. Novas técnicas, descobertas secundárias, e até eliminação de hipóteses. A próxima pessoa a pegar no mesmo objecto de estudo pode olhar para trás e dizer "bem, não é assim que funciona" ou "olha, não vai ser assim que vou descobrir".
Sim, a Ciência deve ser o único campo em que um tiro ao lado pode ser tão (ou mais) importante do que um tiro certeiro.
Claro que interessa ter objectivos, metas a cortar, e é preciso tentar atingi-las o melhor possível... Todos temos algum objectivo, em todos os trabalhos em que pegarmos,
(a não ser que ainda estejamos a tirar o curso, aí é só trabalho inútil)
e só ficamos mesmo mesmo satisfeitos se o atingirmos. Mas também é legítimo que, não conseguindo, se aprenda bastante, e isso é importante por si só! Pelo menos para mim é, ou não tivesse sido isso a convencer-me. Sim, descobrir coisas, ajudar pessoas, isso tudo... Mas sabem do que é que eu sempre gostei, desde que era uma criatura minorca de olhos esbugalhados? De aprender. E ainda é disso que gosto hoje, e só isso é que me permite manter o mínimo de sanidade mental!
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