Tenho a sensação que esta vai ser a crítica mais difícil dos próximos tempos. Por um lado, tive a obrigação de ler este livro, que me foi imposta pelas aulas, e que é algo que me desagrada. Até hoje, ainda não encontrei nenhum livro que tenha lido obrigado, e que me tenha agradado.
Mas, lá está, até hoje. Este "Os Maias", é, quer queiramos quer não, um livro sub-valorizado, tanto a nível nacional, como a nível mundial. Tivesse calhado a Eça ser inglês, americano ou francês, etc., este livro estaria, de certeza no top dos clássicos mais vendidos. Mas é que sem dúvida.
Se bem que eu não olho para este livro como um livro, agora que o acabei de ler. É uma autêntica novela épica, Uma "Odisseia", ou uma "Ilíada", com uma acção mais... metafórica, pois também temos os nossos heróis, que têm, na minha opinião, como extremo, João da Ega, a personagem mais excepcional em todo o romance; temos um inimigo quase invencível, que não é um Deus grego, ou outra divindade, mas sim o próprio tempo, o destino.
Porque é esse um dos temas deste livro. O destino, que avança, inexorável, imparável, e que, embora lentamente, faz as suas vítimas. Claro que o grande tema (e objectivo) desta obra, não é outro que não a crítica. Uma forte e dura crítica à sociedade, e que, apesar de ter publicada em 1888, encontra-se estranhamente actual, mesmo passados estes 122 anos.
Não quero, porém, avançar com muito da história, falando só de algo, que foi o que mais me impressionou em toda a história. Não, não foi o caso de incesto, não não a forma fantástica como Eça descreve paisagens (nomeadamente as de Sintra), e não, não foi a poderosa crítica social. Foram as duas últimas páginas do livro, quando Carlos, regressado a Portugal após 10 anos de um exílio auto-imposto, conversa com Ega, e diz ter descoberto o sentido da vida, que "não vale a pena correr por nada, por absolutamente nada", e Ega acaba por concordar. Mas esta cena passa-se com ambos a correr para apanharem um transporte público para não chegarem atrasados a um jantar.
Situação irónica? Sim. Poderosa? Sim. No fundo, o fim perfeito para uma obra deste calibre. Uma situação ambígua (como aliás grande parte da história), algo contraditória, mas que é, para mim, o essencial deste livro. Como tal, não deixo de aconselhar este livro. Ainda que obrigatória, é realmente bom, confirmando a velha máxima de que "a excepção confirma a regra"!