Já foi há uns tempos, talvez em Abril deste ano, que participei numa "conversa" na biblioteca da minha escola, sobre a leitura, onde estiveram presentes a minha turma e uma outra. E sendo eu um leitor mais do que compulsivo, a verdade é que acabei por não me calar.
Foi uma conversa interessante, em grande parte por os hábitos de leitura das duas turmas serem MUITO diferentes. Enquanto que a minha tinha alguns leitores casuais, e mesmo alguns viciados, a outra estava repleta de gente cuja opinião sobre a leitura era "que desperdício de tempo", ou que quando lhes perguntavam o que tinham lido ultimamente, respondiam "a TV Guia desta semana". Também tinham algumas leitoras (a turma só tinha raparigas, que eu me lembre), embora, se não estou em erro, e sem querer menosprezar essas leituras, tenham apenas lido a saga do Crepúsculo, e livros da Margarida Rebelo Pinto.
Aquilo que aconteceu, foi que fizeram má-cara ao meu tipo de leituras. Fantasia, ficção científica, terror, policiais, romances históricos, tudo isso não passava, para elas, de lixo. O pilar da literatura, segundo elas, assentava essencialmente nas histórias de amor. A minha resposta, sempre acidentalmente (*cough*) ácida, foi: "Se eu quisesse ler melodramas, lia os guiões das telenovelas.". Não acharam piada, como é óbvio, mas elas estavam a pedi-las.
Mas ainda não foi esta, a parte mais interessante. A parte a que eu achei mesmo piada, foi quando uma rapariga da outra turma me perguntou quantos livros é que eu tinha lido desde o início do ano. Quando respondi "30 ou 40, não tenho a certeza", fui nomeado o mentiroso do mês. Pura e simplesmente não acreditaram. E eu percebo que para pessoas que não leiam habitualmente, estes números pareçam simplesmente assombrosos, mas para mim, e para leitores como eu, ou ainda piores (no bom sentido!), 30 livros em 4 meses é o normal.
A rapariga disse logo "Fogo, nem deves dormir!", e foi a risota total. E foi aquilo que eu disse a seguir, que acho que foi o essencial daquela conversa. "Ora, em vez de estar a perder tempo com as novelas ranhosas da TVI, leio um bocado. Em vez de estar a passear pelo Facebook, ou pelo HI5, a olhar para fotos sem o mínimo interesse, leio um bocado. Em vez de transformar o telemóvel numa extensão do meu ser, de tal maneira que ele parece colado aos meus dedos, deixo-o de lado para ler um bocado. Leio antes de dormir, e leio para descansar do estudo.". Pronto, talvez não o tenha dito exactamente por estas palavras, mas permitam-me alguma liberdade, que a memória já começa a falhar... A essência está lá, de qualquer maneira.
Ficaram a olhar para mim, como se eu fosse um bicho do mato. Sem Facebook, sem HI5, sem ver telenovelas, ser capaz de largar o telemóvel, ler antes de dormir, e ler para descansar do estudo? Eu só podia ser maluco. Foi nessa altura que me calei. Percebi que não valia a pena tentar explicar à maior parte daquelas alminhas, o que é o prazer de ler. Que, para mim, arranjar tempo para ler não é um obrigação, ou algo que me dê muito trabalho, mas antes um dado adquirido. Que quando leio nem noto pelo tempo a passar. E que sou perfeitamente capaz de ficar 3 horas a ler sem ficar com os olhos tortos.
Porque é isso, afinal, que importa, não é? Não é o eu arranjar tempo para ler, eu não faço isso. Ele está lá sempre. Eu arranjo é tempo para não estar a ler, porque tenho obrigações. Leio muito, e leio depressa, é verdade, mas isso não é um defeito. O único problema é a carteira que vai ficando mais leve. Mas eu não me importo, é um bom investimento!
Tempo para ler? Tenho-o todo. Todo o que preciso, e quase todo o que quero (nunca é suficiente). Aproveito-o ao máximo, e devoro livros a uma velocidade assustadora, porque gosto realmente de o fazer.
E sim, durmo. Até durmo bastante.
13 comentários:
Estou admirada por ainda te lembrares (A)
Ah. Ah. Ah. u.u
Olá Rui, Gostei imenso deste post :)
Eu também não perco tempo a explicar porque gosto de ler ou porque leio, normalmente não entendem :) não vejo tv. Aí está! e tenho de arranjar tempo tal como tu para não ler e fazer todas as outras coisas :P
Abraço
Obrigado ;)
Eu até vejo televisão, mas pouco :p E não me importo nada!
Abraço =D
Tenho imensa pena de nao poder dizer o mesmo, ou de pelo menos ter a mesma organização que tu.
Ora, isso é uma questão de prática. E a organização tem que começar logo dentro da cachimónia :p
Adorei este post, mas realmente às vezes nem vale a pensa tentar explicar às pessoas porque lemos, ou melhor, porque "perdemos tempo" a ler.
Quem não percebe por experiência, não vai perceber por sermões.
Muito obrigado =D
Pois, é isso, acho que para explicar o prazer de ler, às vezes, é preciso meter um livro nas mãos da pessoa!
Penso que tão drástico como menosprezar um livro é também menosprezar os outros veículos de comunicação.
Eu adoro ler. Só não leio mais por falta de tempo. Parte desse tempo ocupo-o com facebook, blogs, tv, e-mail, sair com amigos, estudar, etc...
Pessoalmente não consigo ler para descansar do estudo. É encher a cabeça com ideias novas que se vão misturar com as que estou a tentar implementar. Uma grande confusão.
Portanto, onde leio mais é nos transportes públicos a caminho do trabalho/estudo.
Acho que é esse o caminho que se deve mostrar a quem não goste de ler. Encarar a leitura como algo que não se tenha de fazer do princípio ao fim do livro, mas um capítulo por dia é como ir plantar as batatas ao famrville. Não custa nada e até é fixe (não, não gosto de plantar batatas no farmville) e se se estiver a gostar...bem...alargar-se um bocado esse tempo.
typos: "alarga-se" e alguns pontos finais e vírgulas
tenho mesmo de parar de carregar no "publicar" mal acabo de escrever. Peço desculpa.
Sem problema ^^
Se eu por acaso dou a ideia de menosprezar outras coisas, não é de propósito, eu apenas menosprezo alguns casos em particular, já que eu próprio, embora veja pouca televisão, leia algumas revistas, e também passe a minha quota de tempo na internet ;)
A parte do ler para descansar do estudo, se calhar é particularidade minha. Sempre consegui :P
Bem, essa também não é uma má maneira de fazer a coisa, embora no caso daquela turma resultasse em pouco... Elas, tal como muita gente hoje em dia, tem dificuldade em ler mais do que 4 ou 5 parágrafos seguidos. E sim, já assisti a isso, cansam-se genuinamente de ler após o 4º ou 5º, a não ser que seja uma reportagem super interessantíssima, de 10 páginas, sobre as unhas do Cristiano Ronaldo.
Mas bem, a abordagem tanto faz, desde que se consiga pôr mais gente a ler =D
Viva Rui!
Achei curioso e engraçado o teu post e fez-me recordar certas "batalhas" que eu próprio tive na escola. Parece-me ser algo que transversal a todas as gerações. Poucos são aqueles que gostam de ler livros. Alguns gostam de ler revistas e jornais desportivos, mas poucos são aqueles que gostam de ler livros e isso é algo que acontece em todas as gerações.
No entanto ressalvo também que há muitos que dizem ler muito mas são incapazes de expressarem uma opinião do que leram, mas isso são outras conversas.
No entanto, já dei por mim a pensar, se não somos nós, os leitores, que estamos errados. Repara, gostamos de ler e isso é um exercício solitário, logo, acabamos por ser algo anti-sociais. Enquanto o resto do pessoal se entretém a falar das unhas do Cristiano Ronaldo, pois todos eles leram sobre isso, somos nós que ficamos a olhar sem saber sequer como reagir, ou seja, as aventesmas somos nós. Depois, repara quanto as pessoas são desinteressantes para nós? Damos por nós a pensar: "como estou deslocado"; "O que é que eles estão a falar?", "Mas esta gente não sabe nada?".
Enfim, às vezes penso que somos nós, leitores de muitos livros, que andamos aqui a pairar nesta humanidade tão desinteressante.
Iceman, desde já, obrigado ;)
E essa é outra conversa... se a definição de normal for "aquilo que mais acontece", então nós, os leitores, somos sem dúvida as aventesmas xD
Também já me senti tremendamente deslocado... Ou com vontade de partilhar algum pormenor de um livro, e acabar a falar sozinho... Enfim.
Somos uma minoria, ainda que crescente. E como tal, acabamos por ser excluídos. Pode ser que com o tempo isto mude.
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