quinta-feira, 14 de outubro de 2010

De acordo com o acordo


Vivemos numa época de pré-mudanças. Encontramo-nos num impasse social em que todos os dias esperamos algo de novo que insiste em não aparecer.

Vamos a uma livraria, e raros são os livros novos que diferem do que já existe aos montes. Vemos um filme e concluímos que aquele assunto já fora abordado antes. Ligamos o rádio e chegam-nos aos ouvidos as mesmas e repetidas batidas comerciais. Nada de novo, nada de novo, nada de novo.

Este bloqueio cultural leva-nos a voltar atrás no tempo, a procurar o que de bom já foi feito. Rendemo-nos aos clássicos.

Queremos, portanto, uma mudança. Ver o que de bom a nossa era tem para oferecer. Mas antes de mudarmos a capa, caros leitores, há que mudar o conteúdo.

Temos de modernizar o nosso código, temos de modernizar a nossa língua portuguesa.

Se alguém me perguntar se o novo acordo ortográfico me incomoda, direi com toda a certeza que sim, e muito. Mas se por outro lado me perguntarem se sou a favor, darei a mesma resposta com a mesma convicção: sim.

Nada, a não ser o nosso comodismo cultural, justifica um c antes de um t, em palavras como "correcto" ou "objecto". Depois do japonês, a nossa língua foi identificada como a mais difícil de aprender. Não queremos nós expandir o nosso dialeto? Não seria proveitoso para a nossa economia se outras culturas o aprendessem? Não compliquemos as coisas. O inglês, por exemplo, de tão gramaticalmente simples que é, tornou-se na língua universal, algo que o mandarim jamais atingirá.

Queremos tornar a nossa língua em algo mais familiarizado com a vida que levamos, não numa onda de facilitismo, mas sim de progresso. Se a própria linguagem oral muda todos os dias, qual é o interesse de por pura teimosia, continuarmos a escrever como os nossos avós?

Admitamos, inclusive, que se torna muito mais fácil explicar a uma criança do 1º ano que a palavra "ato" provém da junção dos sons destas três letras do que sermos obrigados a justificar-lhes um c antes de um t "só porque sim".

Em França, por exemplo, onde não se fazem alterações gramaticais há mais de 300 anos, registam-se também os mais elevados números de erros ortográficos de toda a Europa, por parte da população francesa.

Está na hora de a língua de Camões deixar de o ser de uma vez, porque, com todo o respeito, entre o século XVI e a época em que vivemos, já muita coisa mudou. Não façamos do português uma língua morta.

Venho portanto rogar para que nos deixemos de romancismos patriotas e que aceitemos a mudança. Afinal também foi difícil mudar do escudo para o euro, mudar da monarquia para a república. A mudança não é fácil, mas todos temos que fazer parte dela, não por nós, mas por aqueles que virão.

14 comentários:

Célia disse...

Concordo e pouco mais tenho a acrescentar ;)

Jacqueline' disse...

Concordo totalmente :)

Cristina Torrão disse...

Sim, o Português é uma língua difícil. Dei aulas de Português a alemães, durante seis anos, em Hamburgo e só consegui pôr a falar qualquer coisa aqueles que já tinham certas bases (bem, o Alemão também não é nenhuma pêra doce ;)

Só uma correcção: não continuamos a escrever como os nossos avós. É só ver os filmes portugueses antigos para constatar que, em pleno século XX, ainda se escrevia, por exemplo, "pharmácia".

Como se vê, não é a primeira vez que temos que nos despedir de regras de escrita que considerávamos eternas ;)

Sim, o Francês está cheio de letras que não se lêem/dizem/falam, bem poderiam considerar uma reforma ortográfica!

Pedro disse...

Bem, simplesmente fascinante como tanto tu como o Rui mostraram opiniões diferentes em relação ao mesmo tema ;)

Como já disse, eu até acreditava no Acordo... Mas entretanto há mesmo palavras que me deixam boquiaberto. É muito, muito estranho, e ainda não compreendo a necessidade de mudá-las. Adoro as palavras com os seus pormenores... Não é "só porque sim", há mesmo razões.

Por outro lado, se não mudássemos hoje falaríamos Latim.

Para mim, ainda tenho muita estranheza a ultrapassar até conseguir aceitar a mudança. Não encontro real justificação para isto, para além de dar a entender que se muda. Ainda assim, por nada.

Rui Bastos disse...

Bem, eu discordo. Mas depois publico o contra-ataque (A)

Alice Matou-se disse...

Estou a estranhar, pensava que só ia ter feedback negativo :o

esquilinho disse...

Eu não concordo com o AO, mas apenas porque acho que foi feito "a martelo".
Como é óbvio, a evolução da língua é necessária e inevitável e a escrita deve acompanhar a oralidade - não o contrário. Mas será que todas as alterações que este AO traz fazem sentido? Para mim, não. Faz algum sentido que "pára" passe a "para"?! Para mim não, até porque neste caso, a escrita está a afastar-se da oralidade...
Há tantos, tantos anos que se fala em AO, seria de pensar que teriam tido tempo para fazer um trabalho decente. O que não aconteceu, na minha modesta opinião.

Plácido Zacarias disse...
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Plácido Zacarias disse...
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Adeselna Davies disse...

Dando o exemplo do inglês existem IMENSAS letras que não se lêem e que nem por isso os ingleses mudaram-nas como: castle (t não se lê) ou então guitar (ou também não se lê). No Alemão o panorama é igual (não se lê os r's nos finais da palavra e para piorar ainda temos os umlauts). Português não vai ser uma língua difícil de aprender por causa de meia dúzia de casos de letras que não se lêem, é complicado porque a gramática é um Inferno! Existem milhentos predicado, orações que não lembram nem ao diabo e se formos pelos caminhos tenebrosos da linguística não saímos daqui nem amanhã. Se querem mudar coisas para ser mais fácil, mudem as conjugações dos verbos! Mudem algo útil, não algo que simplesmente lembraram-se "olha o p não se lê, engraçado...". Então quando chegar à beira de um inglês também vou-lhe propor para os ingleses retirarem as letras silent. bem que nos mandavam dar uma curva ao bilhar grande e com muita razão. Quem manda na língua não é o Governo, mas o Tempo...

Plácido Zacarias disse...
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Alice Matou-se disse...
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Alice Matou-se disse...

Caro Plácido Zacarias:
Tenho o maior respeito pelos palhaços, bem como pelo povo brasileiro.
Com todo o respeito, o seu argumento (absolutamente nacionalista, diga-se de passagem) estava total e completamente desprovido de coerência.

Patrícia disse...

De faCto, o "c" não faz falta anes do "t", não é?