quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Misterioso Caso de Styles

Não sei é por ter ali uma data deles, com uma encadernação bem apetitosa (nada a ver com o livro da imagem!), ou se é por causa do Poirot, ou se gosto mesmo assim tanto dos livros desta autora, mas a verdade é que não lhes resisto. Quando dou por mim, estou a pegar num.

Não me estou a queixar, atenção. São sempre bons livros, que se lêem depressa, de tão emocionantes. E este em particular, é capaz de ser aquele em que eu mais notei a forma magistral como a autora consegue sempre que o leitor seja gozado.

Porque foi isso que eu fui: gozado. À força toda. Até me senti mal, quando acabei de ler o livro. Chegar ao fim, descobrir quem foi o/a culpado/a, e perceber como tinha sido levado de suspeito em suspeito, acreditando, de cada vez, que aquela personagem é que tinha de ser o assassino, sem NUNCA acertar uma única vez, duvidando desde o início que a culpa pudesse cair em cima e quem caiu...

O enredo em si, como sempre, não tem nada de extraordinariamente intricado, nem nada que se pareça. Tem montes de reviravoltas, algumas previsíveis, outras completamente inesperadas, e praticamente todas com um ponto em comum: Poirot. O pequeno detective belga com cabeça em forma de ovo parece saber sempre tudo o que se passa, tudo o que todos pensam, tudo o que aconteceu, e tudo o que ainda está para acontecer. É fascinante.

A história é contada na primeira pessoa, por Hastings, o companheiro de Poirot, em muitas histórias, que é convidado a passar o seu tempo de licença (acabou de regressar da guerra) em Styles, a casa de um amigo de longa data. O amigo é John Cavendish, uma pessoa não muito dada à imaginação, que é casado com Mary Cavendish, uma mulher orgulhosa, e com uma presença imponente. Já o irmão de John, Lawrence Cavendish, é um pouco mais "apagado". Não podia deixar de mencionar a Mrs. Inglethorp, a velha dona da mansão, casada com Alfred Inglethorp, vários anos mais novo, e de quem ninguém parece gostar. E claro, a metódica e eficiente Miss Howard, que trabalha para Mrs. Inglethorp.

Tudo parece correr relativamente bem, até ao dia em que se dá o crime. Com vários pormenores estranhos envolvidos, Poirot é chamado a ajudar, e usa as suas "celulazinhas cinzentas", expressão que sempre gostei, para descobrir o que é que acontece. A forma como o faz, apesar de ser absolutamente fascinante, não me agrada tanto como a maneira holmesiana, entenda-se, do Sherlock Holmes. Nunca confiei muito na psicologia usada por Poirot, preferindo as provas empíricas e deduções racionais de Sherlock Holmes.

Mas é, sem dúvida, um bom livro, com a escrita maravilhosamente fluida de Agatha Christie, a sua habilidade de brincar com o leitor, e a personagem sempre interessante de Hercule Poirot.

4 comentários:

Célia disse...

Eu tenho por aqui uma colecção razoável de livros da Agatha Christie e também ando a lê-los! Vou intercalando com outras leituras mais densas, por assim dizer, e a verdade é que é sempre um prazer.
Entretanto já li outro, mas no livro "As Investigações de Poirot", que são vários contos relatados na 1.ª pessoa por Hastings sobre casos resolvidos pelo detective belga, é este que goza com o seu amigo, à força toda :D
De qualquer modo, os livros são excelente entretenimento. Tem graça que com os livros dela normalmente não sinto aquela sensação de "terror" pelos crimes cometidos. A única excepção, até agora, foi provavavelmente "As Dez Figuras Negras".

Rui Bastos disse...

Esse é o próximo ^^

Nunca tinha pensado nisso do "terror". Concordo quando dizes que a única vez que senti isso foi com o "As Dez Figuras Negras". Talvez por ter sido o único que me lembre com tantas mortes completamente inesperadas, de formas completamente inesperadas. Se formos bem a ver, o ambiente é sempre trabalhado, e o enredo parece que trabalha para apresentar o crime...

A autora costuma mostrar o background, se é que me faço entender... As relações entre as várias personagens, as antipatias, todos os motivos possíveis e imaginários para o crime, e talvez fiquemos de tal forma embrenhados nesse aspecto, no saber qual daqueles motivos é que vai ser o motivo, qual das personagens é que tem a inimizade mais forte, que se torna quase num exercício intelectual. Acabamos focados naquilo que está por detrás do crime, em vez de no crime em si, que raramente leva mais do que meia dúzia de parágrafos a ser falado.

Já no "As Dez Figuras Negras", não há nada disso... Quer dizer, há muito menos, e ficamos sem saber o que esperar... Até ficamos com uma ideia de como vai ocorrer o próximo crime, não sabemos é quando, nem com quem. É o medo do desconhecido, como dizia Lovecraft, que realmente nos assusta!

Célia disse...

Concordo com a tua análise, acho que os livros dela se focam essencialmente no "whodunnit" e em toda a manipulação de suspeitos e pistas. :)

Rui Bastos disse...

Pois, é isso. O crime mais como puzzle, do que propriamente como crime :)