sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Relíquia

Demorei mais de 2 semanas a ler este livro, que nem é muito grande, embora se torne um pouco denso, graças à escrita super-trabalhada e refinada de Eça. Acho que demorei menos tempo a ler "Os Maias".

Mas pronto, enfim, já falei deste assunto da falta de tempo e do arranjar tempo para ler umas 2 ou 3 vezes nos últimos tempos, acho que já deu para perceber a ideia.

Passemos então ao livro. A escrita, como já disse, é "super-trabalhada e refinada", como é costume nos livros daquela época. A história alterna entre momentos capazes de me fazer rir a bom gosto, e momentos que de tão dramáticos, acabam por ser cómicos.

Confirma-se, portanto, aquilo que eu já tinha visto e ouvido em muito lado, que "A Relíquia" é o livro mais engraçado de Eça. É um livro extremamente bem-disposto, cómico a vários níveis, como as personagens, tão estereotipadas que o próprio autor o assume, ao referir-se, por várias vezes, como "a Magistratura", "a Igreja", "o Estado", e "a firma", a personagens individuais, representativos de cada uma dessas classes.

Mas cómico também em termos da acção, e de todas as peripécias e acontecimentos que rodeiam Teodorico Raposo, "o Raposão", sobrinho da rica e ultra-devota Srª Dª Patrocínio das Neves, no seu dia-a-dia em casa da tia, na épica viagem que empreende e, por fim, depois do seu regresso.

E, é claro, a nível da escrita, sempre com a mais fina das ironias, e a revelar um acutilante sarcasmo, uma vez por outra. E o mais surpreendente (para quem não esteja familiarizado com Eça), é que no meio de tantas achas que deita para várias fogueiras, algumas mais directas, outras mais indirectas, o escritor consegue construir uma narrativa com uma base simples e um desenvolvimento complexo, ou melhor, denso, com boas personagens, diálogos que mesmo sendo completamente inverosímeis, me fizeram rir, e descrições absolutamente excepcionais, tão capazes de dar uma ideia geral de um lugar, como de descrever pormenorizadamente tudo o que se encontra nesse mesmo lugar.

Algo que poucos conseguem fazer! Por isso cá fica, mais um livro de Eça cuja leitura aconselho, sem reservas. Aliás, antes de sermos obrigados a ler "Os Maias", devíamos ser obrigados a ler este livro. Muito mais leve, muito mais pequeno, igualmente bom. Quem sabe, talvez depois não fosse preciso obrigar ninguém a pegar naquele (fantástico) calhamaço...

6 comentários:

Marco Caetano disse...

Li o seu post e não resisti a comentar pois também gostei muito de ler esta obra.

Desde que me considero "um leitor por gosto próprio" esta foi das primeiras obras que escolhi.

Tal como aconselha, antes mesmo dos Maias!!

Relembro especialmente a parte dos bentinhos.. Muito giro, de facto!

Deixo-lhe o link da recensão que escrevi na altura:
http://conspiracaodasletras.blogspot.com/2008/02/relquia-ea-de-queirs.html

Continuação de boas letras...

Rui Bastos disse...

Há com coisa neste livro xD

Viajante disse...

Nunca li este livro, mas li os Maias, e lembro me que na altura em que tivemos de os analisar em aula, a minha stora falou sobre este livro e contou-nos certos episódios, o que eu me fartei de rir! Vontade não faltou para o ler, mas pronto, não o comprei e outras coisas se puseram no meio, no entanto a tua critica fez me lembrar o desejo que tinha de ler o livro, ajudando ainda para o aumentar ainda mais ;)

Boas leituras,
Estrela*

Plácido Zacarias disse...

Entretanto já tinhas escolhido os contos, pá ;-)

Rui Bastos disse...

Estrela da Noite, ainda bem que assim é! Se tens essa vontade de ler o livro, lê o mais rapidamente possível, que não te vais arrepender.

Boas leituras ^^

Plácido, não tenho que te fazer... Não depende só de mim, e o júri ainda se encontra em deliberação... Mas talvez ainda este fim-de-semana divulguemos os resultados :)

Plácido Zacarias disse...

Prazo aceitável hehe ;-)