terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fausto: Grandioso

Os Lusíadas, para mim, são estruturalmente grandiosos. 8816 versos, todos com a mesma acentuação e sempre com o mesmo esquema rimático para as 1102 estrofes não é para toda a gente.

Mas Fausto supera isso. Não falo da estrutura nem da grandiosidade rimática e afins, pois não tenho meios de a avaliar como deve ser, já que a obra está originalmente escrita em alemão. Ainda por cima sendo o alemão tão diferente do português, adivinho as mudanças e sacrifícios de estrutura e construção frásica que o tradutor teve que fazer para garantir a grandiosidade do texto.

A verdade é que dos 4 livros que me propus a ler para esta Temporada Épica, Fausto era provavelmente aquele que me deixava mais curioso (seguido de imediato pela Divina Comédia). E acertei em cheio. Fausto, de Goethe, não só é grandioso como é sublime. Diálogos riquíssimos, um monólogo inicial que prende de imediato, uma história que parece tão banal (no sentido de já tanto se ter ouvido este tipo de história) mas que transforma este mito do homem que vende a alma ao diabo em algo de complexo, com geniais alegorias (já mencionei os diálogos, não já?).

Confesso, sou suspeito. Estou a adorar de tal forma esta leitura, que se torna complicado escrever o que quer que seja sem cair no facciosismo. Mas reservo-me esse direito. Nunca vos aconteceu gostarem tanto dum livro, que os únicos adjectivos que se lembram para o descrever são "grandioso" e "sublime"? Gostarem de tal forma que têm os detalhes vivamente gravados na mente, de forma dispersa, sem os conseguirem agarrar por lado nenhum?

É assim que estou com este livro. Fascina-me a ideia do cientista desiludido que faz um pacto com Mefistófeles (o que eu gosto deste nome para o Diabo), trocando a sua alma pela oportunidade de parar de envelhecer e de ter o Diabo como seu criado pessoal... E claro, fascinam-me todos os dilemas que daqui aparecem, os confrontos entre a ciência e o oculto, o Bem e o Mal, as regalias em vida e as desgraças depois da morte, o amor e o amor... Sim, o amor e o amor, que este luta sozinho contra si mesmo, batalhas por vezes bem mais ferozes que as de Fausto com os seus princípios.

Ou seja, estou a adorar e chegou a altura de parar de escrever, se não nunca mais paro.

6 comentários:

Paula disse...

Parabéns pelas tuas escolhas Rui :)

Rui Bastos disse...

Obrigado :)

Daniel Marchesani disse...

Ninguém abordou tão bem a temática do Fausto como Goethe, quero ler o do Thomas Mann mas a lista é grande até chegar lá.
Compartilho com todos os seus adjetivos.

Rui Bastos disse...

"Doutor Fausto", de Thomas Mann, também está na minha lista de leituras, especialmente depois de ler o "Fausto" de Goethe!

Daniel Marchesani disse...

É isso aí Rui, "Doutor Fausto", espero sua resenha, acredito que será tão boa quanto esta. Esta difícil encontrar por aqui, refiro a minha blogosfera, pessoas como você tão entusiasmadas em literatura.

Valeu!

Rui Bastos disse...

Ora, muito obrigado :D