sábado, 5 de fevereiro de 2011

Os Lusíadas


Título: Os Lusíadas
Autor: Luís de Camões


Opinião: Não vou ser pretensioso ao ponto de facto de dizer que fiz uma leitura muito profunda e cuidada, e que percebi cada um dos 8816 versos. Passou-me muita coisa ao lado, especialmente no que toca a História de Portugal, que pronto, não está propriamente em dia... Mas consegui acompanhar a história e mantive-me deliciadamente a par com a mitologia.

Antes do conteúdo, deixem-me falar primeiro da forma. 10 cantos, 1102 oitavas (num total de 8816 versos), todas com o mesmo esquema rimático (ABABABCC), o começo in media res (a meio da história, literalmente), o tom "grandíloquo e sublime", como vem escrito nos livros... Enfim, uma perfeita epopeia clássica, que ainda por cima eleva este género a um novo patamar, ao relatar não a história de um herói, mas um de povo, o povo Lusitano.

Goste-se ou não do livro, das suas características (justificadamente) nacionalistas, ou do autor, uma coisa se tem que admitir, Os Lusíadas é uma obra-prima. Tanto a nível nacional como a nível mundial! É mesmo preciso, para além de uma infinita paciência (e de saber nadar, no caso de Camões), ser um génio da literatura.

Já falei muito acerca deste livro nos outros dois posts, por isso já não tenho grande coisa para dizer. Talvez deva referir os malabarismos linguísticos a que Camões se dava, coisa que já não me agradou por aí além. É precisamente isso uma das coisas que mais critico na poesia, o retorcer da linguagem para servir a rima e a musicalidade e a métrica. Trocar a ordem das palavras é uma coisa, agora alterar palavras só para dar jeito, ou obrigar a acentuação a trocar de sílaba por causa da métrica... Enfim.

Quanto à mitologia, da qual esta obra está carregadíssima, essa parte já me agradou mais. Foi mesmo o que mais gostei, todo o imaginário dos antigos deuses greco-romanos, as várias histórias mencionadas, tudo mais do que fantástico, um prazer que já tenho desde muito novo.

Ah, é verdade, aposto que anda por aí alguém a perguntar-se porque é que ainda não falei dos vários episódios deste texto, como o Concílio dos Deuses, a Morte de Inês de Castro, o Velho do Restelo, o Adamastor, a Ilha dos Amores, etc. A verdade é que fiquei bastante desapontado. O Concílio dos Deuses (os dois, que há um no início e depois há um dos deuses marinhos, lá mais para o meio) e o Adamastor ainda se safam, gostei de ler, mas os outros ficaram aquém. A Morte de Inês de Castro soube a pouco, o Velho do Restelo não me  pareceu nada de especial, e a Ilha dos Amores parecia mais uma fantasia do próprio Camões, se bem que ainda foi um dos que ficou mais razoáveis.

E estando-me já a alongar demasiado, digo que gostei, muito, e que ficará na lista dos livros a reler, sem sombra de dúvida.

10 comentários:

Pedro disse...

Já li este livro tantas vezes e em tantos formatos que gostava de escrever uma tese sobre ele LOL
Aconselho-te a experimentar "Os Lusíadas em BD", de José Ruy. Não é uma leitura mais fácil, apenas disposta de outra maneira (e, infelizmente ou não, não é completamente integral. Mas não se nota lol).

Eu gosto bastante, embora pessoalmente me fascine mais a visão emblemática de Pessoa (hehehe).

É a obra-prima portuguesa, que mais há a dizer? A Morte de Inês de Castro compreendo que não tenhas achado nada de especial. Acho que é por causa do retorcer da linguagem que referes, acaba por tirar o romantismo e tragédia que se espera do episódio.
Já o Velho do Restelo acho muito interessante, e a Ilha dos Amores é dos meus episódios preferidos!

Uma grande obra sem dúvida. Acho que a maior ressalva vai para a sua estrutura única.

Rui Bastos disse...

Força nisso, podias escrever uma dissertação xD

Não me maces com o Pessoa pah u.u És um gajo lixado.

Quanto aos episódios, és capaz de ter a razão, a linguagem e o tom sublime e afins acabam por tirar o romantismo, se calhar. Quanto aos outros, como irei certamente ler novamente este livro (e analisar a português...) depois vejo isso com mais "profundidade".

E sim, aquilo que se destaca é a estrutura =D

Alice Matou-se disse...

Rendo-me! Gostem lá dos Lusiadas à vontade que eu já não vos chateio mais!

M. à conversa disse...

Próximo livro a ler! Começo amanhã :D

Unknown disse...

Obra verdadeiramente DELICIOSA.

Deixo aqui um pormenor, uma curiosidade. Como devem saber há muitas poucas epopeias na história, contam-se pelos dedos. Há as clássicas, os Lusíadas, a Divina Comédia e outra italiana que não me recordo do nome. É o estilo literário mais difícil. Há algumas tentativas de epopeia e algumas semi-epopeias (só têm alguns sinais), como a Viagem à Índia do Gonçalo M. Tavares.

Os Lusíadas é considerada, por alguns analistas e estudiosos literários, como a melhor obra épica da história, chegando a superar as clássicas. Isso porque adiciona várias características à estrutura da epopeia, o que a torna única. Por isso acho que é uma pena que às vezes seja tão mal tratada pelos nossos jovens e até por adultos e professores de português. É uma pena.

Rui Bastos disse...

Concordo quando dizes que é deliciosa, e acredito que seja considerada por muitos como a melhor obra épica da história.

Agora dizeres que há poucas epopeias é que não pode ser :p Então e o "Paradise Lost", de John Milton, o "Fausto", de Goethe, o "Beowulf", o "Kalevala", o "Épico de Gilgamesh"... Só para dizer alguns assim de cabeça que não são as clássicas (que suponho que queiras dizer "Odisseia", "Íliada" e "Eneida", mas aposto que não estás a pensar na "Teogonia", por exemplo). Ainda há umas quantas :)

Unknown disse...

Não, não... Digo-te que essas obras não são epopeias. É um erro que muita gente faz. Uma epopeia tem de seguir rigidamente regras dadas por Aristóteles, não é ser apenas um texto épico. O Beowulf, por exemplo, é um poema épico MAS não é uma epopeia.

''[poema épico] mostra afinidades formais com o épico, mas revela uma preocupação com temas e técnicas poéticas que não são, em geral, ou, pelo menos, primariamente características adequadamente épicas''

O épico de Gilgamesh é uma semi-epopeia, em poema épico

A própria Mensagem é marcadamente épica mas não é uma epopeia. Faltam essas regrazinhas (um monte de regras :p) formais, estruturais e temáticas. Não tem, por exemplo, uma invocação dos Deuses. Isso torna ainda mais assombroso o trabalho de Camões; com pouco ou nenhum acesso a livros ele fez uma epopeia, com toda a informação necessária na cabeça.

Rui Bastos disse...

Estou a ver a distinção... Não a fazia assim. Mas nesse caso, retiro o que disse :)

E de qualquer forma, sou fã incondicional d'"Os Lusíadas", portanto também não vou discutir por aí!

Unknown disse...

Mas é só uma curiosidade que eu acho interessante :). Aliás, duvido que haja um prof de português que saiba esse monte de regras. Eu, pelo menos, não sei e não sou do ramo das línguas, estou ligado à ciência política, apenas conheço algumas destas regras e esta distinção porque tive uma prof que basicamente passa a vida a investigar isto e outros assuntos relacionados e explicou isto.

Rui Bastos disse...

Os que apanhei, por acaso, até sabiam... Talvez tenha tido sorte :)