quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Os Olhos de Heisenberg

Autor: Frank Herbert
Tradutor: Eduardo Saló


Opinião: Como boa ficção científica clássica que é, a história não é das mais fáceis de seguir. Tem muita coisa implícita, e é preciso prestar muita atenção. Como bom Argonauta que é, a própria leitura não é fácil de seguir, pois há algumas palavras e expressões que nos fazem pensar duas vezes: o autor escreveu mesmo isto, ou o tradutor fez uma escolha errada de palavras?

Mas é uma leitura rápida na qual é fácil ficar imerso. Até nos aparecer um daqueles possíveis problemas de tradução, mas pronto.

A sociedade que Herbert apresenta em Os Olhos de Heisenberg está dividida entre os Optimanos, imortais e governantes, e o resto. A facção rebelde e revolucionária dos Ciborgos é mais perturbadora do que outra coisa, e é semi-secreta.

Como é que os Optimanos conseguirem esta imortalidade? Através de engenharia genética altamente avançada, a mesma que é usada para controlar todos os nascimentos a nível molecular. Deficiência numa válvula cardíaca? Não pode ser. Arranja-se, para o puto sair perfeitinho.

É claro que uma sociedade assim é altamente regulamentada, e a maioria da população é infértil, mas isso são pormenores, não é verdade?

Tudo começa a mudar, no entanto, quando a resistência se empenha mais e uns futuros pais, os Durant, invocam uma lei obscura que lhes permite assistir ao "arranjo" genético do embrião que é suposto original o filho deles. Nunca ninguém a tinha invocado, e é uma grande chatice para os médicos - perdão, cirurgiões genéticos - que não querem ninguém a ver o que raio fazem.

Uma grande tramóia e alguns acontecimentos ligeiramente inexplicáveis depois, toda a sociedade está em risco de ruir por completo. Um grande feito para um livro tão relativamente pequeno, se querem que vos diga. E com um final interessante e, curiosamente, optimista! Mais ou menos.

No meio disto, o que é que é realmente importante? A crítica velada que Herbert faz à imortalidade. Ou melhor, às consequências para uma sociedade de existirem indivíduos imortais: estagnação e inflexibilidade. Basta uma pequena mudança para desencadear todo um processo auto-destrutivo brutal. Como uma régua muito rígida e fininha. Dobra-se a parte-se. Uma régua menos rígida ainda dobra e consegue-se adaptar.

Esta sociedade governada por Optimanos não. Por isso é que a resistência ganhou no momento em que foi criada. A mudança que introduziu no sistema, a variabilidade, a incerteza, tudo é demasiado grande apenas por existir.

O que o autor conseguiu foi agarrar em meia dúzia de personagens e focar nelas a história, não exagerando na exposição e realmente mostrando os conflitos, mesmo em termos históricos, através das acções, de forma muito ritmada e bem calculada. Nenhuma dessas personagens é particularmente memorável, mas todas parecem humanas, pelo menos. Bem, algumas personagens não são propriamente humanas, mas até nessas se reconhecem os traços da Humanidade.

Só para terminar, gostava de mencionar a fantástica linguagem secreta que os Durant tinham entre eles, que funcionava através de um qualquer código de pressão nas mãos um do outro. Perfeitamente silenciosa, discreta e clara como se fosse diálogo falado. Incrível! Apenas mais um pormenor num livro com boas ideias e que está bem trabalhado, ainda que apresente algumas falhas. Fica a curiosidade para ler mais Herbert (Dune! Dune! Dune!).

2 comentários:

Ana/Jorge/Rafa disse...

Dune é um sonho de saga (a primeira trilogia).

Jorge

Rui Bastos disse...

Pois que é o que toda a gente me diz... Está no topo da lista, mais cedo ou mais tarde hei-de lá chegar!