segunda-feira, 15 de junho de 2015

Coração, Cabeça e Estômago


Autor: Camilo Castelo Branco


Opinião: Já há algum tempo que ando para ler alguma coisa deste autor. Famoso, estudado e reconhecido, os juízos contraditórios que ouvi de "excelente escritor" e "bah, escritor de cordel" deixaram-me intrigado. Esta edição fenomenal (fac-símiles são a melhor coisa de sempre) foi a desculpa ideal.

Infelizmente, não valeu muito a pena. Sim, o tipo escrevia bem, mas nota-se claramente que isto foi escrito ao metro. Não é que isso seja mau só por si, mas é um facto que, digamos, falta aqui suminho. Conteúdo.

É que a escrita tem momentos hilariantes. O narrador, que ainda não tenho a certeza se era inteiramente de confiança, tem um ponto de vista muito engraçado, dandy desesperado por engatar miúdas que era. Na realidade é um pseudo-galã arrogante mas completamente desesperado, e isso nota-se a milhas, mas ele faz sempre de conta que nunca é nada com ele.

Só que pronto, embora hajam alguns pontos de interesse, como a divisão da história em três partes chamadas Coração (quando ele é estouvado), Cabeça (quando ele ganha algum juízo), e Estômago (quando ele assenta), e que até podiam ser motivo de um estudo mais aprofundado... Se o livro me tivesse conseguido cativar.

Porque não conseguiu, e de forma estúpida. A gritante ausência de história poderia ter sido propositada, um mecanismo para passar uma mensagem, mas o resultado são duzentas páginas da vida de um dandy, sem qualquer interesse nem consequências de maior. E portanto, com envolvimento basicamente nulo.

E é uma pena, porque a escrita é realmente boa. Acho que nunca tinha visto sarcasmo num autor tão "clássico"! Gostava realmente que tivesse passado disso, mas enfim. Há livros com mais fama deste autor (por entre os quase 300 que escreveu) que ainda quero ler, e que espero não sejam apenas "tipo persegue tipa, tipa dá-lhe com os pés, repetir mais seis vezes, tipo desiste da vida amorosa e vira emo, sempre de preto, escreve poemas e quer ser revolucionário, tipo apaixona-se, fica gordo e pronto".

Não, não há muito mais, em termos de história. Sim, até é interessante de vez em quando. Mas muito de vez em quando!

2 comentários:

NLivros disse...

Olá Rui.

De Camilo Castelo Branco li o "Amor de Perdição", "A Queda de um Anjo" e "Eusébio Macário", numa altura (há uns 20 anos) que me deu para ler autores portugueses da corrente romântica ou ultra-romantica.

Foi nessa altura que li Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Júlio Dinis, autores que se encaixam nessa corrente pese embora Dinis já não seja considerado Ultra-Romantico.

Mas e embora admita perfeitamente que Camilo escrevia muito bem , o certo é que nunca me agarrou, ou seja, é um autor que posso dizer que já li mas que deficilmente voltarei a ler.

Abraço!

Rui Bastos disse...

Epah, não é mau, mas parece-me relativamente banal... Tenho curiosidade para o "A Queda de um Anjo", no entanto!