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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Batman: Presa (Batman #6)


Argumento: Doug Mench
Arte: Paul Gulacy, Terry Austin, Steve Oliff
Tradução: José de Freitas, Filipe Faria


Opinião: Nada mau. A capa, excepcional, prometia. Mas ao abrir tive que refrear um pouco as minhas expectativas. A arte tinha aquele aspecto clássico relativamente banal que não me motiva por aí além. Mas ainda havia esperança para a história, como é óbvio.

Passadas algumas páginas tive que me considerar impressionado com a abordagem adulta e o vilão, Hugo Strange, um homenzinho estranho e peculiar que consegue entrar na mente do Batman de uma forma que poucos vilões alguma vez o conseguiram fazer.

Toda a história acaba por girar em torno disso: existe alguém que subverte os papéis e manipula várias pessoas, incluindo o próprio Batman, de forma a torná-lo, não pela primeira vez, na presa em vez de no predador.

Resulta bem pela eficácia. Strange descobre a identidade secreta de Batman, e percebe aquilo que o atormenta, trunfos que usa até à exaustão, e de forma aterradora. Torna-se interessante por inutilizar todo o arsenal psicológico do Batman, bem como pela forma como evidencia o jogo de poder entre Batman, Gordon, a polícia e os criminosos de Gotham.

No entanto não é um livro que me vá ficar na memória. E para essa parte a arte ajuda, ao não ser particularmente memorável. Mas o livro serviu para uma coisa: o Gordon é que devia ser o protagonista. História atrás de história vejo-me a gostar cada vez mais desta personagem, e a apreciar cada vez mais o seu papel em cada enredo. Isso sim, é impressionante.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Batman: Gótico (Batman #5)


Argumento: Grant Morrison
Arte: Klaus Janson, Steve Buccellato
Tradução: José de Freitas, Filipe Faria


Opinião: A minha impressão deste livro é que não ia ser grande coisa. A capa parecia-me banal, o título pouco chamativo, e a sinopse pouco avançava que me cativasse por aí além. Mas assim que comecei a ler, mudei de opinião. Isto é interessante!

Grant Morrison é um bom contador de histórias, e claramente muito bom a representar o Batman. A personalidade do Cavaleiro das Trevas, embora não seja o ponto alto, é sem dúvida uma das coisas mais bem feitas nesta BD.

O ponto alto é fácil de apontar, e dá-me uma nova opinião da capa: o ambiente. O gótico, que assenta tão bem neste super-herói, é o foco não só da arquitectura mas de praticamente todos os panéis, muito escuros, mas muito detalhados, ominosos e grandiosos.

A falha vem na história em si, que é deveras interessante, mas não para o Batman. Nem sequer para a DC, que sempre foi mais virada para a ficção científica mais dura. É que esta é uma história que envolve um oculto muito estranho e que fica muito por explicar. Não me agradou, essa parte. Especialmente o facto do Batman aceitar tão bem essa versão dos factos.

De resto só tenho a apontar a enorme coincidência que é o vilão ser quem é, e isso estar ligado de forma tão íntima à infância de Bruce Wayne e à origem do Batman. Eu não teria feito essas ligações, mas eu também não teria contado uma história do Batman que envolve ele aceitar que o vilão é um tipo que fez um pacto com o Diabo para ser imortal durante três séculos.

No fim não é uma má leitura, e a arte realmente ganha muitos pontos a seu favor, portanto não liguem demasiado aos defeitos que apontei, e pelo menos experimentem!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Asilo Arkham (Batman #4)


Argumento: Grant Morrison
Arte: Dave McKean
Tradução: João Miguel Lameiras


Opinião: Um livro incrível a todos os níveis. Um argumento espectacular e uma arte de cortar a respiração. Asilo Arkham é sem dúvida um dos livros mais arrepiantes que já li na minha vida. Ter o Batman no Asilo, rodeado de vilões a obrigado a interagir com eles, nos seus vários níveis de insanidade, é fascinante.

Apercebi-me foi que no mundo do Batman, ser maléfico é igual a ser louco. Interessante. Mas comentários filosóficos à parte, regressemos ao livro. Acho fascinante que um dos aspectos que funciona melhor, as aparições escassas e semi-escondidas do Batman, só exista porque McKean odiava desenhar o Batman e passou o livro inteiro a evitá-lo.

De resto, aquilo que tenho a dizer é que todos os aspectos deste livro são excelentes. O contacto com vários dos super-vilões é fantástico, incluindo um dos melhores (e mais assustadores) Jokers que já vi. A narrativa que Morrison conta nos interstícios da viagem de Batman pela loucura, a viagem do fundador do Asilo pela loucura, também é interessante, cativante, e nunca parece deslocada ou desnecessária.

Ambos os autores conseguem fazer com que essa história também seja precisa e que também faça todo o sentido estar a contá-la.

O sentido de narrativa que tanto Morrison como McKean revelam é mais do que suficiente para que texto e desenho contem a sua própria história, e ainda uma terceira, quando conjugados. Mas mais do que isso, aquilo que senti foi que estava a fazer uma visita aos bastidores. Como se estivesse habituado a ver um Joker saltitão pela rua fora, ou uma Poison Ivy insinuante, e de repente se desligassem as câmaras e os holofotes e eu os visse realmente pela primeira vez. Não os super-vilões que matam milhares, mas as pessoas por detrás.

E, lá está, isso é fascinante. É um encontro imediato com a realidade - não a nossa, mas a do Batman. Consegue ser uma realidade assustadora (este é, sem dúvida, um livro de terror), mas também credível. Não é difícil de acreditar que aquele sítio existe mesmo, com aquelas pessoas lá dentro. A forma como falam, a forma como agem, a aparência que têm, tudo lhes dá um relevo impressionante. É um excelente trabalho de Morrison e McKean, que vale muito, mas muito a pena ler.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Piada Mortal


Argumento: Alan Moore
Arte: Brian Bolland, John Higgins


Opinião: Alan Moore domina a arte de bem contar uma história. Nem sequer é algo aberto a discussão, e sobrevive perfeitamente aos maus exemplos. É inegável dizer que Watchmen, V for Vendetta, League of Extraordinary Gentlemen e Saga of the Swamp Thing são obras-primas (e são só os que eu li!), e portanto é com facilidade que pego num livro de Moore, sempre com altas expectativas.

Ora, uma história escrita por Alan Moore sobre o Batman e o Joker, duas das minhas personagens favoritos do universo da banda desenhada... Fácil! Toca a ler e a delirar! Vamos lá!

Calma.

Sim, é bom. Não, não é assim tão bom. Assim a seco diria que Alan Moore faz melhor em criar as suas personagens, ou pelo menos reinventá-las, que este livro não funcionou muito bem para mim. É uma boa história do Batman e uma boa história de Moore, mas não é excelente. Está longe de excelente, até.

O primeiro pecado, e que para mim é fatal em qualquer história, é que dá uma história de origem ao Joker. Para além de ser algo que já foi contado várias vezes, e quase sempre de maneira diferente, não acrescenta nada à personagem, antes pelo contrário. É que o Joker é um vilão fantástico exactamente por ser um vilão puro. Não quer dominar o mundo, nem se quer vingar de nada, é apenas maléfico e louco. Caótico.

Esta história de origem dá-lhe um motivo para ser como é. Obriga-nos a simpatizar com o vilão. E isso aborrece-me, porque é uma forma de dizer que não existem verdadeiramente vilões, apenas pessoas com azar, ou pessoas que são empurradas para fora do caminho certo. Eu pergunto: e porque não pessoas que escolhem o caminho errado? Ou melhor ainda, e porque não pessoas que escolhem outro caminho certo que não aquele que toda a gente segue?

O Joker, para mim, é isso. A mais pura encarnação do Mal, um psicopata caótico cujo único objectivo é espalhar esse mesmo caos. É isso que funciona tão bem no Joker de Heath Ledger, no filme de Christopher Nolan: ao contar várias histórias de origem diferente, inviabiliza-as a todas e mantém o mistério. Dá a dica de que não há uma história de origem. Ele é louco. Gosta de matar pessoas. Adora o caos. Ponto final.

Mas tirando isso, nota-se um grande poder narrativo nesta história que evolui de forma mais ou menos óbvia para um confronto final que não é deixado claro, o que também me aborreceu. Mas a caracterização feita do Joker, do Batman, e de Gordon, é quase perfeita. E sendo este um livro de Moore, há a sugestão de uma violação, ou pelo menos de violência cruel e sem sentido contra uma mulher, Barbara, a filha de Gordon.

O arco narrativo que a isso obriga é que é bom. O esforço que o Joker faz para quebrar a mente de um dos melhores amigos do Batman, para provar que toda a gente está à beira de se tornar como ele, é fantástico. A motivação disso, que é a história de origem do Joker, já não, mas pronto.

No final é um bom livro, como eu já disse, e que vale a pena ser lido. Para quem gosta do Batman, e especialmente para quem gosta do Joker, desde que não tenham ilusões quanto à sua história de origem. Leiam e digam de vossa justiça.

sábado, 23 de maio de 2015

Adaptações de livros


(o que segue não é uma crónica estruturada nem pensada com antecipação, é uma opinião escrita de rajada e que deixa muito por dizer. prossigam.)

O fascínio em adaptar livros a filmes/séries está em alta. Mais do que nunca, que eu me lembre, essa é claramente uma tendência a seguir e que dá muito, mas muito dinheiro. Porquê? Na minha opinião principalmente por duas razões.

A primeira é que é fácil de aproveitar o sucesso da literatura que agrada às massas, e fazer cinema que agrada às massas, que vai aumentar o público literário e por sua vez aumentar o público cinematográfico e por aí fora. É simples e é óbvio.

A segunda é que há um estilo de escrita relativamente moderno que cada vez se vê mais e que facilita ainda mais as coisas: o estilo cinematográfico. É algo geral e usado cada vez mais por um número cada vez maior de autores. Uma escrita mais simples, com uma acção mais directa e uma estrutura mais episódica e mais próximo do cinema (e no limite, do teatro), com vários actos claramente bem definidos e correspondentes a troços de evolução da história muito bem demarcados.

Isto é bastante diferente da literatura de estrutura complexa a que os autores mais clássicos nos habituaram. Era fácil não existir propriamente um protagonista muito proeminente, nem sequer uma história muito bem definida, algo que pode ser bastante complicado de passar para filme (ou televisão). Aquilo que vemos hoje em dia é exactamente o contrário: o livro tem um protagonista, tem uma história, uma acção, um intervalo temporal, e quase zero de momentos mortos, tudo sempre extremamente bem definido.

É por isso que os livros juvenis, especialmente as distopias, têm sido tão adaptadas. Além de serem moda, e de moverem massas, são também simples. A escrita, o enredo, as personagens, a evolução, a acção... É tudo simples, ou melhor, simplificado, graças à tendência "infantilizadora" do termo juvenil.

Não quero apontar dedos, mas...
Se bem que isto não é propriamente verdade. Ou melhor, não é inteiramente verdade. Aquilo que disse até agora é que é uma extrema simplificação da questão, porque se as coisas realmente são assim, como explicar coisas como Game of Thrones? Aquilo de simples, só mesmo a escrita, que é boa e bastante cinematográfica.

O que se passa é que quando pensamos bem neste assunto, temos que ver os dois lados da questão, as duas pontas do espectro. Existem estas adaptações simples e existem as adaptações gritty, mais negras, mais sujas, mais "realistas" (porque têm mais sangue e consequências terríveis). Essa é na realidade uma tendência curiosamente paralela ao primeiro ponto de vista, e que apenas consigo explicar como uma moda.

Se calhar, até como uma tendência de "levar as coisas a sério". Como os filmes do Batman do Nolan, que também são relevantes para esta discussão porque são, tecnicamente, adaptações de livros. Só que BD's, e não de forma muito directa e linear.

Esses filmes, por muito agradáveis que sejam (particularmente o segundo, graças ao brilhante Joker de Heath Ledger), são excessivamente pesados. E o pior é que esse tom depois foi transferido para o novo filme do Super-Homem e parece mais do que a caminho para o Batman vs Superman. O que é um erro, dos grandes.


*sigh*
Faz sentido que tenham criado uma identidade muito própria e muito diferente do tom brincalhão da Marvel, mas claramente exageraram e arriscam-se a deitar tudo a perder. Um problema que não afligiu Game of Thrones, pelo menos, que funciona tal como está, porque os próprios livros já são assim.


E porque é mais fácil adaptar um romance do que uma BD, por mais contra intuitivo que isso possa parecer. Com aquela tendência simplista de que falei no início, queria dizer exactamente que qualquer que seja a obra, é mais fácil de adaptar hoje em dia do que uma obra qualquer de há umas décadas ou séculos atrás. Mas as BD's continuam a não ser fáceis de adaptar.

Isso acontece, em parte, porque o público já tem uma imagem das personagens e do mundo em que se movimentam. Um mau elenco ou um mau design dos cenários, por exemplo, pode estragar tudo sem grande dificuldade.

"O fato dele ficava melhor se fosse todo de cabedal!", disse ninguém, nunca.
Mas no meio desta conversa toda, fica a dúvida: como adaptar? Há várias formas, como é óbvio. Por exemplo, pode-se optar por tentar capturar a essência e o ambiente, usar as personagens e uma história parecida, mas acabar por criar algo radicalmente diferente do livro. Não é a minha hipótese favorita, mas pode fazer sentido em alguns casos.

Outra hipótese é uma adaptação super-hiper-mega fiel. Raramente é uma boa hipótese, porque um livro e um filme têm uma forma de comunicar extremamente diferente. Pelo menos era assim, antigamente, mas com a tendência cinematográfica de um grande pedaço da escrita actual, essa barreira dilui-se com uma facilidade cada vez maior.

A minha hipótese favorita é pegar no livro, tentar seguir ao máximo, mas fazer as alterações necessárias que a conversão livro -> filme exigem. Como exemplo, dou-vos O Perfume, de Patrick Süskind, um livro excepcional que teve direito a um filme excepcional e que não é 100% fiel pela simples razão de que era impossível. Em vez de meter os pés pelas mãos a tentar pôr tudo no ecrã, fez as concessões que eram precisas para contar a mesma história e transmitir a mesma mensagem, com uma história o mais parecida possível.


Não fazer isto foi o erro de um filme que abomino, Harry Potter e o Cálice de Fogo, baseado num livro agradável, mas que é um filme francamente desagradável, e apenas porque tentou contar tudo! Digamos que falha redondamente.

E para quem é apologista de que o livro é sempre melhor do que o filme, fiquem a saber que não concordo. O filme (ou a série, eu estou-me a esquecer de falar de séries mas é tudo igualmente válido) pode conseguir fazer jus ao livro e até ultrapassá-lo. Veja-se o caso de Precious, que achei consideravelmente superior ao livro.

Eu sei que este texto fica relativamente incompleto, mas ou é isto, ou não fazer mais nada o resto do semestre para escrever um ensaio a divagar sobre o assunto. Em vez disso (e para preservar a minha sanidade mental e currículo académico), digam-me a vossa opinião. Perde-se sempre alguma coisa na adaptação? Ou ganha-se sempre alguma coisa? Têm alguma adaptação favorita? Algumas que vos dê vontade de chorar, chamar nomes às pessoas e atirar o filme para a Fossa das Marianas?

Elucidem-me!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Longo Halloween II (Batman #3)


Argumento: Jeph Loeb
Arte: Tim Sale, Gregory Wright
Tradução: José de Freitas, Filipe Faria

Opinião: O primeiro volume foi bom. Este foi muito, muito bom. Esta colecção do Batman está-me a agradar bastante a valer cada cêntimo que dei por ela. E a dupla Loeb e Sale está a subir cada vez mais na minha consideração.

Depois de vermos A máfia de Batman a ser lentamente dizimada, agora temos mais intervenções de super vilões, todos eles o pináculo da loucura. Há ainda tempo para assistir à queda de Harvey Dent, de Procurador prodígio a... Enfim, a maior parte de vocês já deve saber, mas não quero estragar a leitura a ninguém.

Mas o mais impressionante é ver a forma como a personagem de Bruce Wayne é explorada, mais do que o Batman. Todos os remorsos, medos e demónios claramente à flor da pele da pior forma possível. É fascinante ver como Bruce usa essas suas "fraquezas" como autêntico combustível para a sua vida escondida como Batman.

Há raiva em cada soco e vingança em cada criminoso virado de pernas para o ar. Os remorsos não são por não ter feito nada, é por não conseguir fazer mais. Tanto Batman como Bruce se esforçam ao máximo, mas apenas conseguem ser enganados, de uma forma ou de outra, e acabam quase sempre desiludidos.

Isto reflecte-se em Alfred, o quase omnipresente mordomo, que revela de forma bastante explícita o seu papel de pai substituto para Bruce. A relação que existe entre os dois é forte, mas discreta, e é interessante vê-los a serem tão abertos sobre o assunto num dos momentos mais tocantes de todo o livro.

No entanto não nos podemos esquecer da história "principal" (que não é bem), pois neste volume descobre-se a identidade do assassino, e eu não estava nada à espera! E a forma como tudo descamba para um encontro final de super-vilões? Divinal!

E confirma-se o que disse sobre o outro volume, de que esta história é uma autêntica passagem de testemunho da criminalidade em Gotham: das mãos da máfia para as dos super-vilões. A única coisa que resta é Batman, o Cavaleiro das Trevas, que depois da longa jornada de aceitação que foi esta história, afirma acreditar em si próprio. Ou melhor, ele diz "I believe in Batman.", o que é muito mais intenso, pois mostra como ele tem noção de que o seu alter-ego, mais do que um super-herói, é um símbolo.

O final, em várias partes, é outro aspecto fantástico desta BD, com uma revelação que me deixou completamente chocado, mas que fez todo o sentido (de uma forma retorcida) e me deixou com bastante vontade de ficar a saber mais. É uma pena que seja uma história tão pequena (embora seja bastante grande para o normal dos comics), mas a verdade é que é mais do que suficiente. Não conta demasiado nem mostra demasiado, tanto Loeb como Sale souberam dosear as coisas e o resultado final é algo de extraordinário.

Se ainda não conhecem, leiam, e digam o que acham. Acreditem em mim de que vale muito, muito a pena!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Longo Halloween I (Batman #2)


Argumento: Jeph Loeb
Arte: Tim Sale, Gregory Wright
Tradução: José de Freitas, Filipe Faria


Opinião: Estão a reconhecer a dupla Loeb e Sale? Não? Então referencio-vos para uma opinião que escrevi no início do ano: Hulk - Cinzento. Espreitem que rapidamente vão perceber o quão excitado eu fiquei por pegar neste livro (e na segunda metade).

Infelizmente, não é bem a mesma coisa. Mas não é por falta de qualidade, antes pelo contrário, esta história só iria funcionar assim. Uma abordagem como a de Hulk nunca iria dar bom resultado, e tanto Jeph Loeb como Tim Sale provaram estar à altura do Cavaleiro das Trevas e do extraordinário plantel de aliados e inimigos que desfilam nestas páginas.

O Longo Halloween, sequela quase directa de Batman - Ano Um, conta várias histórias. E tal como em Ano Um, todas elas dão um protagonismo relativamente baixo a Batman/Bruce Wayne, especialmente tendo em conta que isto é uma história do Batman.

A razão é simples: medo. Em Ano Um, o Batman apercebe-se que a única forma de ser um herói eficaz é aterrorizar os seus inimigos. Tem que ser mais do que humano e mais do que um herói... Tem que ser uma figura imponente e misteriosa. Só assim será capaz de controlar uma Gotham infestada de pequenos e médios vilões com muito pouco que recear.

O que este livro traz de novo é o começo de um importante ponto de viragem para Gotham, que muda de um domínio da máfia para um domínio dos super-vilões, que vão fazendo as suas aparições de forma lenta e calculada pelos autores de forma a criar mais impacto.

A passagem do maléfico testemunho é feita de forma subtil. Há um assassino algures que anda a matar pessoas importantes do mundo do crime em dias que sejam feriados, e a máfia começa a empregar vilões especiais, super-vilões em potência, para tentar descobrir o que se passa e ajudar a controlar os danos.

Mas é óbvio que pouco se pode concluir, por enquanto, uma vez que falta metade da história. Aquilo que sei é que este é um livro fantástico, e que deixa as expectativas em alta para a segunda metade. A arte de Sale é qualquer coisa de especial, expressiva como há poucas, e a abordagem, ligeiramente diferente da de Hulk, é mais focada em realçar os extremos, desde a personalidade insana do Joker, sempre desenhado em grandes planos, com todos os detalhes, até à presença calma e mundana de Jim Gordon, uma figura banal e muito parecida a tantas outras.

Absolutamente fantástico, é que vos digo. Vou definitivamente manter esta dupla debaixo de olho.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Que as citações nos caiam em cima [61]


"Um coice. A pólvora queima-me os olhos e penetra-me as narinas. Um pedaço de chumbo voa... Se aquilo fosse um homem... O chumbo partia-lhe a espinha e dexaria de sentir as eprnas, enquanto o seu coração explodia... Outro coice. A bala abria um buraco redondo e eu veria o terror estampado na sua cara enquanto metade do cérebro dele saía pela nuca. Odeio esta arma. Odeio o meu trabalho. E continuo a praticar."

James Gordon em Batman: Ano Um (Batman #1)
Frank Miller

Batman: Ano Um (Batman #1)


Argumento: Frank Miller
Arte: David Mazzucchelli, Richmond Lewis
Tradução: Paulo Moreira

Sinopse

Opinião: Volta e meia faço releituras. Neste caso nem é bem, que ler um livro numa língua ou noutra são coisas diferentes, mas pronto. O que interessa é que há alguns livros que leio mais do que uma vez. E nunca me espanto com o quanto a minha opinião muda.

A sério, leiam a minha opinião de há dois anos sobre este mesmo livro (só que lido em inglês). Já está? Continuemos então. O que é que eu posso dizer? Praticamente só concordo com o facto de que a história é mais sobre o Gordon do que sobre o Batman. De resto? Vamos recomeçar.

Primeiro, a coisa que mais chateou ao reler essa opinião: disse que fazia falta um vilão a sério. Estúpido. Não faz falta nenhuma. Não é esse o objectivo. Ano Um é uma impressionante história de origem que mostra a essência do Batman: alguém que surgiu para proteger uma cidade. Não para a proteger dos supervilões psicopatas, mas simplesmente para a proteger.

E porquê? Porque Gotham é uma cidade que podia ser real. Uma cidade onde o crime é algo banal e tão comum que não é preciso surgir um Joker, nem um Lex Luthor, nem um Magneto, nem um Loki, nem um Thanos, nem nada que se pareça. Gotham precisa de ser salva dos barões da droga, das máfias, dos violadores, dos assaltantes de esquina, dos assassinos, dos políticos corruptos.

É quase religioso. Gotham precisa de ser salva porque peca, quer queira quer não. E da mesma forma que as religiões têm diabos e demónios afins para que as pessoas tenham medo das consequências, também Gotham ganha o seu próprio demónio, Batman, que rapidamente se apercebe que tem de provocar medo, se quer ganhar.

Mas depois a maior parte da narrativa não incide no Batman, mas sim em Gordon. Ou melhor, é dado mais destaque a Gordon, pelo menos. E por muito que eu me tenha queixado da outra vez, agora percebo que faz sentido. É que Gordon - e tenho a certeza de que isto já foi analisado quinhentas mil vezes - e Batman são na realidade aquilo que o outro gostava de ser. O Batman teve que encarnar os seus próprios medos para se tornar eficaz na luta contra o crime, e a sua figura de super-herói acaba por atrair cada vez mais vilões; Gordon, por outro lado, sente-se impotente por ser apenas um homem cumpridor da lei no meio do ninho corrupto que é Gotham.

As histórias paralelas destas duas personagens mostram duas evoluções fascinantes, quase espelhadas. Dois homens que de certa forma se arrependem daquilo que são, mas que têm noção de quais são os seus papéis e os cumprem, apesar de tudo.

A história de Frank Miller ganha assim um novo significado para mim, que a tinha achado mediana. O grafismo de Mazzuchelli também me parece muito mais adequado, não propriamente indefinido, mas impreciso, a revelar no desenho aquilo que Gotham é, uma cidade sem linhas direitas nem linhas tortas, nem recheada de negros nem de brancos, apenas de cinzentos.

Ano Um revela-se uma história muito melhor do que aquela que me lembrava, e uma que aconselho definitivamente, especialmente se forem fãs do Batman. Pode não ser fácil lidar com a falta de protagonismo de Batman, ou a com ausência de um vilão concreto, ou até com a inexperiência do Cavaleiro das Trevas, mas uma leitura mais atenta revela muito mais do que isso: um grande livro.

sábado, 23 de março de 2013

Batman: Year One

Título: Batman: Year One

Argumento: Frank Miller
Desenho: David Mazzucchelli
Cor: Richmond Lewis
Tradução: Paulo Moreira

Sinopse: Elevou-se no ar, batendo as asas, então começou a cair, e as suas asas tornaram-se uma capa esvoaçante que envolvia o corpo de um homem. Esta é a história do Cavaleiro das Trevas de Gotham City... Como apareceu e quem ele veio a ser.

Opinião: A história de como o Batman se tornou o Batman já foi contada tanta vez, que agarrar num livro destes tem que ser feito com algum cuidado. Mas se o nome do autor for Frank Miller, não é preciso hesitar lá grande coisa.

Criador de Sin City, uma saga de BD's bastante conhecida, e argumentista de títulos não só como este Batman, mas também coisas do Wolverine, do Daredevil, mais Batman, a saga Ronin e 300, Frank Miller é um nome de peso da BD americana.

Neste livro é preciso notar que a história mais interessante acaba por não ser a do Batman, mas sim a de James Gordon, o polícia quase sempre presente em todas as histórias deste super-herói, seu cúmplice e amigo.

A razão é simples: a evolução de Bruce Wayne enquanto Batman não é nada de especial. A ideia que dá é a de um jovem ridicularmente rico que andou a aprender artes marciais e agora veste uns collants e tenta deter uns criminosos, só que tem pouco jeito para a coisa, e a certo ponto a coisa torna-se inverosímil, até para os padrões do universo da BD.

No espaço de, digamos 10 páginas, o desgraçado apanha 3 ou 4 tiros, leva com metade dum prédio em cima e apanha alguns sopapos. Limita-se a ignorar a dor e a pontapear uma coluna, ainda com uma bala enfiada na perna, que obviamente se parte a meio. Eu sei que isto é comum nestas histórias, mas aqui não ficou muito conseguido. Normalmente há o factor "ele é um super-herói, ele aguenta!", mas aqui, como já disse, o Batman é apenas um jovem absurdamente rico com uma máscara.

Já Gordon tem uma história mais interessante. Enquanto tenta lidar com o facto de todos os polícias em Gotham City serem corruptos, tem a mulher grávida e envolve-se com uma colega de trabalho. E para ajudar à festa, aparece o Batman, este "super-herói" meio inútil que não sabe bem o que anda a fazer e consegue tornar-se no inimigo número 1 de meia dúzia de pessoas. No meio disto tudo, Gordon tem que aceitar certas coisas, lutar contra outras e, acima de tudo, fazer escolhas, muitas escolhas.

Um Batman muito longe do Batman misterioso e que aparenta ter super poderes, quando na realidade é tudo à base de muita habilidade física, algumas maquinetas engenhosas e o pobre do Alfred, mas um Gordon bastante interessante, com uma história bem construída e uma personalidade bem desenvolvida e explorada. As suas lutas interiores são das mais difíceis, pois a certa altura tem que escolher entre fazer o que está certo e... fazer o que está certo. As nuances são uma coisa tramada.

No fim de tudo, o aspecto gráfico podia ser melhor, mas gostei do pormenor de a narração do Batman ter um grafismo diferente da narração do Gordon. Deu um ar muito mais distintivo e pessoal ao ponto de vista de cada um. Ah, já me ia esquecendo de dizer que para mim, o grande defeito deste livro é não ter um vilão "a sério", um Joker ou um Penguin, ou outro qualquer. E o Gordon acaba por ter uma aura muito mais negra do que aquele que é suposto ser o Cavaleiro das Trevas. Tudo isto faz de Batman - Ano Um um livro agradável, mas que podia ter sido bem melhor.