Autor: Peter Ackroyd
Tradutor: Alberto Simões
Sinopse: Considerado um génio, o precursor da fantasia moderna, e acreditado com a invenção do drama psicológico, da ficção científica e das histórias policiais, Edgar Allan Poe teve uma vida tão dramática e trágica como os seus próprios contos. A vida de Poe foi dominada por mulheres à beira da morte: a sua mãe morreu de tuberculose quando ele tinha apenas dois anos, a mãe adoptiva quando ele tinha vinte, e a esposa, Virginia, morreu igualmente da mesma doença que a sua mãe. Tal como Ackroyd demonstra brilhantemente, foram estas mortes que, associadas à infância miserável de Poe, levaram à concepção de contos tão obscuros e estarrecedores como A Queda da Casa de Usher e Berenice, embora tenha sido com a publicação de O Corvo que o escritor alcançou finalmente o grau de reconhecimento por ele tão ambicionado. Contudo, o sucesso não foi suficiente para salvá-lo de si mesmo, tendo morrido com a idade de quarenta anos. Os seus últimos dias são tão misteriosos como grande parte dos seus escritos. Poe foi um escritor extraordinário, e em Peter Ackroyd, terá encontrado o seu biógrafo ideal.
Opinião: Antes de ler este livro, eu já sabia alguns pormenores da vida de Poe, como o mistério que envolveu os seus últimos dias, bem como as descrições que dele há e que o retratam como um homem amargurado e perseguido pela miséria. Além disso já li uma série de contos da sua autoria, que me permitiram confirmar essa ideia algo macabro que se tem da sua personalidade.
No entanto, depois de ter lido este livro, vejo como não fazia a mais pálida ideia de como é que a miséria o perseguia e que, tirando o lado mais sombria, eu não conhecia nada da sua personalidade. É que Edgar Allan Poe não era um pobre coitado, pelo menos não no sentido normal e comum da palavra. Poe foi um autêntico génio, considerado ainda em vida como um dos maiores escritores americanos do século, mas que, ainda assim, foi largamente desprezado a maior parte do tempo, tendo mesmo chegado a publicar uma série de livros (alguns deles tidos hoje em dia como autênticos clássicos e obras-primas da Humanidade), que ora foram duramente criticados, como foram elevados a um alto pedestal.
E mesmo com tudo isto, nunca deixou de viver de dinheiro emprestado (ou caridosamente reunido para o ajudar, e à sua família). Ou seja, Poe não teve uma vida fácil. A sua mãe morreu cedo e ele foi adoptado, ainda muito novo. Ainda novo, morreu-lhe a mãe adoptiva. O rol de mulheres que morreram tuberculosas/demasiado cedo na vida deste escritor é demasiado grande. Até a sua mulher (e prima), acabou por morrer dessa forma. A única mulher que se aguentou, e que inclusive lhe sobreviveu, foi a sua sogra, uma mulher forte e determinada, que foi muitas vezes "o homem" da casa para aquela família.
Para ajudar tudo isto, Poe tinha uma queda hereditária e fatal para a bebida. Não era dependente da bebida, pois conseguia passar grandes períodos de tempo sem tocar em álcool. Mas quando o fazia, não conseguia parar, acabando quase sempre por desmaiar nalgum sítio, ou por ser levado ao colo para casa, pelos amigos e, em certas ocasiões, por completos desconhecidos!
E como não podia deixar de ser, Poe tinha mais azar que uma sardinha que encontre pescadores portugueses. Nada lhe corria bem. Não ganhou dinheiro quase nenhum com as obras que publicou em vida; o seu temperamento era excêntrico, no mínimo, ora afável, ora execrável, tornando-o pouco dado a socializações; todas as pessoas de quem gostava acabavam por morrer demasiado novas; e foi uma alma muito à frente do seu tempo.
Todos estes aspectos são muito bem retratados no livro, especialmente uma coisa que o autor focou várias vezes: o facto de que a vida de Poe escorria fortemente para as temáticas da sua escrita e para a forma como escrevia. Esta parte deixou-me com uma vontade imensa de reler as histórias de Poe que tenho por aí e de comprar um livro, maravilhoso, enorme, com tudo aquilo que ele escreveu, em inglês...
Raramente concordo com a sinopse de um livro, depois de o ler, mas Poe encontrou realmente o seu biógrafo ideal, em Peter Ackroyd. Objectivo quando tal era preciso, subjectivo quando tal era autorizado, informativo e, acima de tudo, viciante.
Sem comentários:
Enviar um comentário