quarta-feira, 20 de março de 2013

Projecto Adamastor: Entrevista a Ricardo Lourenço



Antes de começar, quero dar novamente os parabéns pela excelente iniciativa. E para entrar logo a matar, de onde veio a ideia para o projecto?

A ideia nasceu no final de 2010, devido à discussão gerada em torno deste artigo do Luís Filipe Silva, embora o âmbito do projecto fosse mais restrito, dado que a intenção inicial era a de criar uma biblioteca digital de ficção especulativa portuguesa. A iniciativa acabou por não avançar nessa altura, em parte porque o processo de conversão seria bastante mais complexo e moroso, já que a grande maioria das obras teria de ser digitalizada e porque, sendo poucas as que estavam em domínio público, seria necessária a devida autorização para as reproduzir e disponibilizar online.

Como é que surgiu o nome, Projecto Adamastor, provavelmente o nome mais espectacular para um projecto do que quer que seja?

O nome foi sugerido pelo Ricardo Loureiro no fórum BBDE, que tem sido a "base de operações" do projecto. O Adamastor é uma figura mitológica que a maioria dos portugueses associa à literatura, em particular aos clássicos, pelo que seria difícil encontrar algo mais apropriado. Simboliza também as dificuldades que temos de enfrentar de modo a chegar a bom porto.

No que toca à ortografia, as obras são revistas segundo o acordo ortográfico de 1945, mas está nos planos seguir o Novo Acordo, quando ele entrar em vigor?

Pessoalmente, acredito que esse acordo ainda vai ser alvo de algumas alterações. Quando entrar em vigor, o assunto será discutido entre os colaboradores e, em caso de decisão favorável, todos os eBooks serão devidamente actualizados.

Falando de coisas mais mundanas, como é que conjugas o projecto com a tua vida profissional e o teu dia-a-dia?

De momento o projecto ocupa uma parte considerável do meu tempo livre, especialmente nesta fase inicial em que foi necessário, entre outras coisas, criar o website e tratar da divulgação. Acabei por ter que sacrificar um pouco a escrita e a actualização regular do meu blog pessoal, mas, por outro lado, tenho a oportunidade de estudar alguns autores que admiro de forma mais aprofundada. No fundo, é uma questão de organização.

De certeza que é difícil gerir um projecto destes apenas com trabalho voluntário, como é que são as perspectivas para o futuro?

Tendo em conta os contactos que tenho recebido, espero conseguir estabelecer uma equipa de colaboradores que permita a disponibilização regular de novos eBooks, assim como o enriquecimento do conteúdo dos mesmos. Quanto a desenvolvimentos futuros, ideias não faltam, desde a conversão e tradução de obras estrangeiras, à criação de um repositório de ezines, mas o alargamento do âmbito do projecto dependerá em grande medida da opinião dos leitores e da disponibilidade dos colaboradores.

E o que é que diferencia este projecto de outros como o Gutenberg, que já disponibilizam uma quantidade enorme de e-books?

Neste momento, o Projecto Adamastor destaca-se essencialmente pelo design e pela actualização ortográfica das obras disponibilizadas. O Project Gutenberg, através da plataforma Distributed Readers, especializa-se na reprodução fiel, em diferentes formatos, das digitalizações de obras em domínio público. No entanto, a grande maioria desses títulos não está actualizada a nível ortográfico (entre as dezenas de eBooks em português, apenas cinco estão actualizados), o que acaba por afastar muitos leitores. Por outro lado vamos dar, dentro do possível, prioridade à conversão de obras que ainda não se encontrem disponíveis em EPUB. No futuro, espero que nos possamos diferenciar também através da disponibilização de conteúdo adicional, como introduções ou biografias.

Para terminar, qual é que achas que é a grande vantagem que o projecto tem e que o vai fazer sobreviver e ter sucesso?

Creio que a chave para o sucesso do projecto reside na qualidade da revisão e na disponibilização gratuita das obras. Tendo em conta a conjuntura económica, e que o mercado do livro digital começa agora a desenvolver-se no nosso país, julgo que podemos contribuir para tornar a literatura mais acessível em Portugal.

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