sábado, 30 de março de 2013

Cidade-Túmulo

Título: Cidade-Túmulo
Autor: David Soares

Sinopse: Contagem final para o estado fóssil - Uma história sobre uma cidade e os seus habitantes. Uma história sobre como nascem todas as cidades. O comércio da vida e da morte tal como é vendido na Fábrica da Vida. Por debaixo do betão e do aço reside a estrutura original da cidade, feita com os nossos piores medos. A estrutura da Cidade-Túmulo.

Opinião: Cidade-Túmulo é a primeira BD que leio de David Soares e não podia estar mais satisfeito. É que ao contrário do que o próprio autor diz na introdução ao Mostra-me a tua espinha, livro onde figura o conto Cidade-Túmulo que deu origem a esta BD, eu acho que esta versão é muito mais completa e interessante que o conto.

Quando li o conto achei-o desconexo, ainda que fosse perfeitamente perceptível a atmosfera pesada e mórbida que o autor quis passar. Há uma autêntica chuva de detalhes vinda de todo o lado, nas poucas páginas que dura a história, mas que apenas escritos se me afiguraram como fragmentos. Já desenhados... Problema resolvido!

A mente criativa de David Soares é um lugar absolutamente fascinante, e este álbum, escrito e desenhado por ele, é uma das provas disso mesmo. A história é mórbida, avança rapidamente, aos saltos e não aos solavancos, como o conto, e tem um aspecto visual bastante concordante com aquilo que eu esperava ver saído das suas mãos. Esboços imperfeitos repletos de detalhes mórbidos e perturbadores.

Nesse nível, pouco tenho a apontar. Os desenhos ligam muito bem com o argumento, com ambas as coisas a revelarem várias camadas narrativas e simbólicas. O aparente desmazelo nos desenhos esconde uma atenção ao detalhe, tanto a nível do grafismo como do argumento. Aquilo que no conto me pareceu desconexo, aqui aparece-me como denso, de certa forma, mas coerente e muito, muito negro.

A visão que David Soares dá da Humanidade e da sua simbiose voluntária e forçada ao mesmo tempo com as cidades em que vivem, é que essa relação não é saudável e é alimentada por coisas intrinsecamente... podres. Na pior acepção possível da palavra. E isto é algo que me tinha escapado no conto, mas que com a força que as imagens emprestam às suas palavras, percebi facilmente na BD.

Como já deu para perceber, gostei bastante e só tenho pena que seja tão pequeno. Começo-me assim a render à qualidade de David Soares na BD, depois de já o ter feito no que toca a romances e a contos, ainda que com algumas desilusões pelo meio. Para terminar, faço o aviso que faço quase sempre que acabo de escrever uma opinião a algo deste autor: isto não é uma leitura para estômagos fracos, mas é na minha opinião uma óptima leitura.

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