sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um Cappuccino Vermelho (Intersecção #1)


Autor: Joel G. Gomes

Sinopse

Opinião: Vou começar por dizer que conheço pessoalmente o Joel. Fomos colegas na Oficina de Escrita de Trëma, e embora ele tenha andado relativamente ausente desde o primeiro ano (o único "oficial"), mantivemos mais ou menos o contacto, mais que não seja pelo Facebook.

A leitura deste livro surge da proximidade do lançamento do seu próximo livro, A Imagem, sequela deste que não é bem uma sequela - a 25 de Outubro na Biblioteca Municipal da Moita, em Setúbal - em que ele cedeu o livro a vários bloggers, para leitura até esse dia.

Com jeitinho, e fica aqui desde já o meu agradecimento, o Joel também me cedeu este livro, com promessa de ter as duas opiniões até ao lançamento. Aceitei e ainda aproveitei para integrar estas leituras na minha Temporada Temática mais megalómana de sempre: Lusofonices.

Vamos lá então? Até agora, tudo o que li ao Joel foram os contos que ele enviou para a Oficina, que tem como um dos objectivos dar-nos espaço para experimentar. Ou seja, esses contos, tal como alguns que eu enviei, são francamente experimentais. Gostei da maior parte, de outros nem tanto, mas o que sempre apreciei foram as suas tendências para ser bueda meta, e o seu humor incisivo, muito português, mas com um timing quase britânico.

Felizmente tudo isso passou para o livro, que não é muito grande. Aliás, a parte meta da história é tão fantástica e à minha medida, que é bastante parecida com uma ideia que eu tive há uns tempos para uma história. Mas não me deixem adiantar!

O livro começa por seguir Ricardo, um tipo peculiar, assassino e... escritor. A primeira coisa que me saltou à mente foi "fixe", e a segunda foi "não faz sentido". Um assassino não quer publicidade, portanto porquê ser escritor? Um bocado à frente na história consigo arranjar uma explicação minimamente satisfatória, mas até lá ou me convenço que o objectivo é ficar hidden in plain sight, ou então a coisa não funciona.

O prólogo é misterioso, revela pouco mas sugere muito. O único defeito que lhe aponto é o uso da palavra "parceiro", que eu não consigo dissociar do uso inglês, com duas consequências: ou me parece que o autor foi incapaz de arranjar uma palavra melhor e então apropriou-se do vocabulário inglês, ou então, e foi isto que aconteceu, fico a pensar que os parceiros são um casal gay. Para que percebam melhor, no prólogo nunca aparece "trabalha com", mas sim "está com". Como em "está com aquele parceiro há x tempo". É um pormenor, e em parte culpa minha, mas pronto.

Antes de avançar queria já dizer uma coisa menos agradável e que é constante ao longo de todo o livro. Falta revisão. Vírgulas atrofiadas e algumas gralhas, apenas, mas é o suficiente para me desconcentrar.

Tirando isso, tenho que dizer que o primeiro capítulo tem um conceito interessante na forma como introduz o protagonista, através de uma descrição interrompida por breves momentos do quotidiano que são aproveitados para caracterizar Ricardo, o assassino-escritor. É pena que acabe por se arrastar um pouco, especialmente no início, com tanta conversa sobre café. Já percebi que o protagonista gosta de café, e que o título do livro tem capuccino, pára de me enfiar isso pelos olhos adentro, Joel!

Mas isso melhora no segundo capítulo, dando origem a algumas sequências muito interessantes. De notar, também, a atenção aos detalhes e a forma como eles ficam ligados, algo muito bem feito, especialmente porque é subtil.

O humor, esse é fantástico do princípio ao fim, algo negro, por vezes, como não podia deixar de ser! Só é pena que uma das personagens seja caracterizada como obesa, da primeira vez que aparece, e mais à frente se fale dos seus braços gordos, mas entretanto já se disse que é um tipo com um metro e setenta e dois e a pesar setenta quilos. Senti-me ofendido, que peso isso e tenho menos dez centímetros! E não, não sou obeso. Uma pessoa com essa altura e esse peso não é, definitivamente, obeso, nem nada que se pareça.

Avançando, também tive pena que a introdução de uma personagem interessante como Luís, o mentor e figura paternal de Ricardo, seja feita de forma tão desfasada com o resto do livro. Há uma clara quebra de ritmo, o que é desagradável, mas a evolução do enredo compensa.

A nova personagem, Laura, é que começa por não me agradar, soa demasiado a personagem e pouco a pessoa real, mas depois percebe-se que isso talvez seja propositado e... Bem, não interessante, digamos que foi por esta altura que tudo começou a ficar mesmo, mesmo, muito meta, e consequentemente muito, muito, mais interessante.

É que embora a história demore a arrancar (o que é perigoso num livro pequeno como este), estes meandros meta são muito bons! Há algumas passagens mais confusas, quando as realidades se misturam mais intensamente, mas tirando isso está muito bom!

E depois conseguiu ter um bom final. YAY! Um bocado abrupto, é certo, mas bom. Assim, no geral, é um livro que fica a meio caminho entre o razoável e o bom, e a penalização principal vai para a inconsistência no ritmo e no tom. As diferenças podiam existir, mas com transições diferentes. Agora é esperar pela leitura do próximo!

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