sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

The League of Extraordinary Gentlemen - The Omnibus Edition


Argumento: Alan Moore
Arte: Kevin O'Neill, Benedict Dimagliw, William Oakley


Opinião: Nem sequer vou tentar esconder que sou um autêntico fanboy de Alan Moore. Se o homem escreveu, eu quero ler, com a certeza de que vou gostar. A sério, é inacreditável, não há muitos autores que consigam ganhar esta minha confiança cega!

Mas este livro em particular é especial. Watchmen tem todos os elementos de sátira e de desconstrução que gosto de ver, misturados num mundo relativamente distópico recheado de personagens geniais; Saga of the Swamp Thing é um triunfo narrativo, uma história simples e já semi-esquecida completamente rejuvenescida, e novamente com personagens geniais, particularmente o monstroV for Vendetta é uma amálgama, e uma demonstração, da minha ideologia pessoal, e utiliza um protagonista misterioso, e fantástico, chamado simplesmente V, para espelhar a mente do autor, que muito agrada.

Mas este? Oh, este... The League of Extraoardinary Gentlemen parece que foi escrito de propósito para mim. Passado maioritariamente numa Inglaterra Vitoriana em que aparentemente TODAS as personagens e lugares da ficção clássica existem, este livro conta uma história mais do que conhecida e utilizada, mas de uma forma tão original e bem feita, que isso nunca incomoda.

Ah, e foi-me oferecido depois do que foram, provavelmente, anos a babar-me para ele. Acho que nunca uma prenda me soube tão bem!

Vejam bem, os protagonistas são Wilhemina Murray, Allan Quatermain (o único que desconhecia), Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Capitão Nemo, e Hawley Griffin, o Homem Invisível. Quem é que está por trás deste grupo? Campion Bond e o seu misterioso chefe, M. Familiar? Pois.

Querem mais? Um tal de Doctor Moreau? Sherlock e Mycroft Holmes? Moriarty? Arsene Lupin? Auguste Dupin? Orlando? Gulliver? John Carter? Sinbad? Alguns são só mencionados, num apêndice depois da banda desenhada propriamente dita, mas mein Gauss!

E depois ainda há tudo o que acontece e aparece, como a invasão marciana com as naves trípodes de H.G.Wells, ou o Nautilus e as naves bala de Verne, os híbridos de Moreau... Nem sei bem o que dizer sobre tudo isto.

Aquilo que sei, no entanto, é que o traço de O'Neill é simplesmente perfeito para este tipo de história, e não consigo imaginar outra forma de fazer isto. É um traço seco, de certa forma, mas muito expressivo. Não exagera de forma demasiado óbvia, mas até o faz de forma quase cartoonesca, por vezes, sem nunca cair no erro de quebrar o registo. É uma arte que consegue capturar os pormenores da barba do Capitão Nemo e a grandiosidade do Nautilus em página dupla.

Mas há melhor. É que esta é a edição Omnibus, com o volume 1 e 2 e recheado de capas alternativas, capas dos vários comics, um conto com o Quatermain como protagonista, depois do primeiro volume, um Almanaque no fim, um tabuleiro para um jogo e montes de pormenores extra-livro mas não extra-história. Inacreditável!

Esse conto sofre um bocado com a escrita demasiado floreado e exagerada em que Moore cai, por vezes, mas durante a maior parte do tempo até é uma leitura bastante agradável. O mais incrível é a forma como em poucas páginas o autor conta um pouco do passado da personagem, e ao mesmo tempo encaixa tudo na banda desenhada que acabámos de ler.

O Almanaque no fim é um conjunto dos relatos das várias Leagues, ao longo dos séculos, sobre os mais diversos lugares, espalhados por todo o Mundo. De Shangri-La a Toyland, com referências a Flatland, Borges, Calvino, todos os autores de FC e Fantasia clássica que consigam imaginar, e pormenores deliciosos de como tudo está intrinsecamente ligado.

Resumindo: não há palavras. A história é fabulosa, as personagens estão bem construídas, a crítica à sociedade é óbvia (as mulheres são tão mal tratadas), o estilo sardónico e irreverente típico de Alan Moore está presente na melhor forma possível, e a arte é fantástica.

No meio disto há duas personagens que se destacam claramente: Capitão Nemo e Hyde. O primeiro por ser tão misterioso, pragmático e transmitir uma sensação de fúria calma completamente avassaladora; o segundo por ser exactamente o contrário, fúria incontida, mas com um enorme intelecto por detrás da faceta animalesca que tanto gosta de demonstrar. Tanto um como o outro são protagonistas de várias situações intensas, mas Hyde rouba completamente o foco da atenção.

A sua paixão por Wilhemina Murray é das mais bonitas interessantes histórias de amor e admiração que já vi, e faz com que cometa actos terríveis para proteger a sua honra. A vingança contra uma personagem que espanca Murray... Bem, é desagradável. Mas não deixa de ser interessante ver esta autêntica besta a ser acalmada por uma mulher, de forma tão simples. E o seu humor e prontidão em matar e comer o que quer que seja são dois dos pontos altos de toda a história!

Só vos posso dizer para lerem, e para lerem desesperadamente. É um livro um pouco estranho, e relativamente denso, especialmente o Almanaque e especialmente para quem tiver menos referências literárias do género, mas até eu, que já reconheci muita coisa, tive que ir pesquisar muita coisa. Claro que não me importei, que é o que vale. The League of Extraordinary Gentlemen - The Omnibus Edition é, afinal, um livro extraordinário e uma das melhores prendas que já recebei (e irei receber) em toda a minha vida!

2 comentários:

Optimus Primal disse...

Eu gosto da 1a a 2a acho fraca li quando saiu a uns anos via devir em 4 volumes.A Liga continua até hoje na topshelf.

Rui Bastos disse...

O primeiro volume é melhor, sim, mas o segundo, ainda assim, é muito bom. Sem dúvida um dos melhores livros que já li!