Autora: Alison Bechdel
Tradutor: Nuno Sousa Tavares
Opinião: Um livro lento. Um título peculiar. Um enredo cativante e de certa forma tão absurdo que só pode ser real. Fun Home torna-se rapidamente numa exploração da homossexualidade e, mais importante do que isso, de como toda a gente lida com isso.
Do pai que esconde, à mãe que ignora, do irmão que não quer saber, à irmã que sente. Tragicomédia é realmente a melhor forma de descrever o que este livro conta. Autobiográfico e marcante, com uma arte competente (ainda que incapaz de fazer grandes expressões faciais para além de enfado profundo, talvez propositadamente) e uma narrativa fluida e bem construída.
Aquilo que mais me fascinou foi o timing de cada acontecimento, e a forma como as personagens estão construídas e parecem tão reais. O facto de serem representações na folha de pessoas reais, que a autora conheceu toda a vida, deve ajudar, mas mesmo assim é preciso ter muito jeito para isto!
A personagem que mais gostei de acompanhar foi o pai, com os seus segredos mais ou menos óbvios e os seus tiques, particularidades e idiossincrasias várias, que fizeram dele uma personagem complexa, fácil de compreender em certas alturas, e muito difícil de perceber noutras.
Não posso deixar de aconselhar esta leitura, a qualquer pessoa, embora tenha sentido falta de alguma coisa. Eu sei que é uma autobiografia, e o objectivo não era inventar, mas acho que bastava uma mudança de foco, de vez em quando. A autora fala várias vezes de algumas coisas que mereciam um enorme destaque, ou mostra situações relevantes, e nem umas nem outras têm mais do que um papel secundário em toda a história.
Só que lá está, novamente, eu compreendo. A vida também não faz pausa para vermos melhor as coisas, e o livro transmite bem essa experiência. Não conta aquilo que gostávamos mais de ver, mas sim aquilo que aconteceu, como aconteceu, e por aí faz sentido e dá-lhe pontos. Por outro, preferia que tivesse sido ligeiramente aldrabado.
De qualquer forma, é um bom livro, com isso nunca me deixei enganar.
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