Autor: Paco Roca
Tradutora: Joana Neves
Opinião: Já há muito tempo que eu sabia da existência deste livro, mas nunca me tinha chamado particularmente a atenção. Aqui confesso-me uma vítima da publicidade: a deste livro foi muito fraca, com pouca ou nenhuma divulgação, e eu, inconscientemente, nunca lhe prestei muita atenção.
Agora que o li só posso agradecer ao meu primo (que lançou um livro há pouco tempo) pelo empréstimo. Rugas revelou-se uma leitura rápida, mas pesada, e sem dúvida uma das melhores deste ano, e de sempre!
Não, não estou a exagerar. Esta história sobre um velhote com Alzheimer, que se torna na história do amigo que faz no lar de idosos, é um dos mais tocantes e excepcionais retratos da doença que já vi. E não só da doença como da solidão e da terceira idade em geral.
É um livro triste, claro que sim, mas tem os seus momentos de alegria. E está recheado de momentos incríveis, ao nível do retratado na capa: a melhor forma possível de explicar a alguém o que é viver com uma memória que se desvanece a todos os momentos.
O grande triunfo de Roca não é o facto de conseguir explicar como é que a doença funciona e progride, mas sim como é que esta afecta as pessoas, não só quem dela sofre, como todos à sua volta. E quem diz Alzheimer diz qualquer uma das maleitas dos vários idosos do lar. Enfim, da velhice em geral.
Sabem qual é o maior efeito? É que depois de uma fase inicial em que a pessoa está demasiado consciente daquilo que lhe está a acontecer... há uma fase em que fica feliz. Perde as memórias de uma vida, mas ganha a leveza da juventude. Com as lembranças vai-se a idade.
É por isso que o protagonista, doente, se torna numa personagem cada vez mais alegre, com aquele sorriso benevolente e ignorante cada vez maior. Os momentos de lucidez escasseiam e encurtam, mas ele eventualmente já não quer saber.
Sobram os outros velhos do lar, todos eles dignos de terem o seu momento de antena, desde a avozinha que vai "roubando" pacotes de molhos e açúcar e todas estas pequenas coisas a que consegue deitar a mão, para um propósito algo inesperado, até, e este sim é importante, ao velho resmungão que dedica os seus dias a roubar uns míseros euros aos outros velhos.
Só saberão a importância de lerem. E vale bem a pena lerem até ao fim, não se enganem. A arte, ainda por cima, facilita, ao ser simples, mas eficaz, com alguns pormenores que acertam em cheio no alvo e fazem deste livro, sem dúvida, algo excepcional.
2 comentários:
Totalmente de acordo.
Fiquei curioso para saber se o autor tem mais coisas!
Enviar um comentário