Esta semana tive uma aula sobre empreendedorismo. Foi o primeiro seminário de uma cadeira deste semestre, e foi ridícula. A própria noção actual de empreendedorismo faz-me comichões, mas esta aula/palestra conseguiu tocar em quase todos os pontos que me fazem abominar esta tendência.
Mas o que é, afinal, isto do empreendedorismo? A definição dada na aula foi algo como "ir atrás de uma oportunidade sem preocupação com os recursos que se controlam na altura". Que é como quem diz "gastar mil euros quando só se tem um". A ideia até podia nem ser das piores, tendo em conta que estamos basicamente a falar de correr riscos e podemos ir daí para um controlo preciso do dinheiro que sai e dinheiro que entra. Controlar esse fluxo ao máximo, não no sentido de maximizar ganhos e minimizar gastos, mas sim no controlo de quando é que essas coisas acontecem, pode ser a solução.
Claro que eu não percebo nada de finanças, economia e mercados de uma forma geral, portanto as coisas que eu digo sobre estes assuntos são baseadas em lógica, o que faz delas não aplicáveis à vida real.
No entanto percebo relativamente bem este fenómeno do empreendedorismo. Estamos a viver numa fase de massificação tão avassaladora, que começámos a retroceder. Há cada vez mais o ressurgimento de coisas antigas, e o aparecimento de coisas personalizáveis, ou únicas. Basta olhar para os livros. A oferta é tanta que já nem sabemos bem para onde nos virar. Começam a formar-se monopólios. Para um livro ser publicado, ou tem vendas garantidas e portanto grandes tiragens e preço decente, ou então tem um preço absurdo, que talvez seja balançado com um "edição limitada".
É aqui que entra o empreendedorismo, como pai da Chiado "Editora" e outras que tais. Agora, por módicas quantias, qualquer pessoa pode ser um autor publicado. Esses autores, bons ou maus, são todos uns palermas por se meterem nisso, mas a Chiado? A Chiado é empreendedora. Aliás, eu acho que se fossemos analisar esta "editora" de um ponto de vista de negócio, tínhamos aqui um caso de sucesso como há poucos!
O modelo de negócio, em termos simples, é que eles publicam, sim senhor, se o autor pagar x, e/ou se comprar x exemplares. Cria-se assim, ao mesmo tempo, uma oferta completamente diferente de tudo o resto, e vendas garantidas. Imagino que só uns cinco ou dez por cento é que vendam muito mais do que esses exemplares comprados pelo autor, mas por cada mil paspalhos há um Pedro Chagas Freitas, outro empreendedor profissional, que vende que nem pãezinhos quentes, por razões que me escapam.
Este modelo de negócio significa que (e volto a frisar que não percebo nada disto), muito provavelmente, a Chiado manda fazer um certo número de exemplares, vende um certo número de exemplares ao autor suficientes para cobrir os custos e ainda fazer lucro, e todos os outros livros que vender, por poucos que sejam, são lucro puro e duro.
Aqui é fácil que as opiniões comecem a divergir. Há quem chame a isto empreendedorismo, eu chamo-lhe fraude.
A Chiado é o exemplo que conheço melhor e que acho que percebo minimamente, mas há muitos mais casos de "sucesso" que não passam disto, fraude, ou então de falsa inovação e originalidade vazia.
Só que é isso que é o empreendedorismo hoje em dia. Não interessa a formação que temos, não interessa aquilo que gostas de fazer, se surge uma oportunidade, inventa, e segue. O limite é quando surgem os dois tipos de pessoas deste tipo de coisas que mais me fascinam: os empreendedores profissionais e os porta-vozes do empreendedorismo.
Falar dos primeiros é falar do Pedro Chagas Freitas, um tipo praticamente incapaz de escrever duas frases coerentes com qualidade literária, que se farta de ganhar dinheiro à custa da escrita, mas também de pessoas cuja vida é gerir dinheiro e ideias de outras pessoas para criar empresas, sem saber nada de como funciona o produto/serviço que a empresa oferece, simplesmente com o objectivo de as fazer ganhar muito dinheiro que lhe possa ir parar aos bolsos.
Falar dos segundos é falar de todos os idiotas que andam por aí a dar palestras sobre empreendedorismo. Aquela malta motivacional, normalmente todos muito modernos e despachados, com respostas rápidas, humor e um discurso tão vazio de conteúdo que até flutua no ar.
Eu estou farto de uns e de outras, e esta aula que tive esta semana apenas conseguiu relembrar-me desse facto. A quantidade de clichés, frases feitas e informação infundada é tanta que tenho a certeza que já deve dar para abrir uma empresa à volta disso e começar a fazer dinheiro.
Tenho uma ideia melhor: que tal deixarem-se de merdas e fazerem algo realmente produtivo para a sociedade?