Um livro de Stephen King é sempre algo em grande. Pelo menos foi isso que aprendi, após ler 5 livros dele, ter mais um na prateleira (em inglês, e com 1000 e tal páginas!!), e de ler as sinopses e opiniões sobre a maior parte dos outros. Este não é excepção.
Embora me seja difícil dizer qual é o melhor, daqueles que li, e embora não tenha lido assim tantos quanto isso, este é sem dúvida um dos melhores. Mas bem, não são todos?
A história deste é, no entanto, particularmente assustadora, porque parece, de certa maneira a junção de Carrie, A Hora do Vampiro, e Misery. O primeiro é sobre o poder escondido dentro de alguém, o segundo é sobre seres sobrenaturais, e o terceiro é sobre a loucura. E este livro, Metade Sombria, fala sobre o poder e a loucura de um ser sobrenatural escondido dentro de alguém.
Bem, first things first. O escritor, nos agradecimentos, agradece a Richard Bachman, o pseudónimo que usou para escrever alguns livros, e diz que sem ele não teria sido capaz de escrever este livro. E percebe-se porquê, pois este livro fala exactamente sobre um pseudónimo.
Thaddeus Beaumont, um escritor de parco sucesso, vítima de um tumor cerebral muito peculiar enquanto criança, descobriu cedo a sua vocação para a escrita, mas só tardiamente é que descobriu George Stark dentro de si. Stark é o nome com o qual assina 3 livros que vendem que nem pães quentes, e que obtém um enorme sucesso, entre os leitores e a crítica, sem que ninguém saiba que Stark e Beaumont são a mesma pessoa. Até que Thad decide matar Stark, revelando tudo numa entrevista à revista People. Só que Stark não quer morrer.
Inicia-se então uma luta, travada entre Thad e Stark, que a princípio não passa de apenas uma série de assassínios da parte de Stark, e de uma frustrante impotência da parte de Thad, mas que culmina numa batalha final bastante original, bem ao estilo de Stephen King.
Quanto às personagens, a dualidade Thad/Stark dava para escrever um ensaio, com todas as suas particularidades, duas metades completamente opostos do mesmo ser, com uma reprimida durante anos, numa tentativa de controlo que acaba por fracassar, e até por se inverter, com a materialização do fantasma de um homem que nunca existiu realmente. Liz, a mulher de Thad é uma personagem forte, ainda que não tenha tanto destaque como isso, mas que prova, vezes sem conta, que é uma mulher forte. Alan, ou melhor, o xerife Pangborn, é o céptico que não tem outro remédio que não aceitar o sobrenatural. Ah, e Rawlie DeLesseps, é claro, com o seu cachimbo apagado, e personalidade estranha, é uma personagem bastante agradável, embora apareça muito pouco. E os pardais. Pode parecer estranho, mas os pardais acabam por se tornar numa personagem muito importante, ao longo do livro.
Por sorte, para os leitores de estômago mais fraco, não é dos livros mais sangrentos que eu já tenha lido deste escritor. Não deixa de ser sangrento, mas essa parte torna-se muito menos relevante, face a tudo o resto, em especial face ao essencial da história, a luta de Thad, a "velha carcaça", com Stark, a sua metade sombria.
Um livro mais do que aconselhado, como não podia deixar de ser.