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sábado, 15 de agosto de 2015

Presenças tangenciais

Ah, piadas matemáticas, são sempre tão... derivativas.

Há coisas na Literatura que me fascinam. Não falo apenas de uma escrita particularmente bonita, como a de Mia Couto, ou de histórias particularmente cativantes, como as Stephen King, nem sequer de livros tão próximos da perfeição que até metem medo, como muita coisa de Saramago, muita BD de Neil Gaiman e Alan Moore e O Conde de Monte Cristo. Falo de pormenores, muitas vezes técnicos, que me deixam rendido.

Por exemplo, quem ler histórias minhas rapidamente se apercebe de que gosto de narradores peculiares. É algo complicado de manipular, de um ponto de vista puramente técnico, mas que pode ter efeitos espectaculares.

Algo que cai nesta categoria é algo a que chamo presenças tangenciais. O nome é bastante auto-explicativo, mas estou a falar de personagens que são importantes, muitas vezes até fulcrais, para a história, mas que aparecem muito, ou muito de raspão. Tangencialmente.

Também não é fácil, em termos técnicos, e torna-se particularmente difícil de conseguir em termos narrativos. Como raio contar uma história em que uma personagem importante mal aparece?

Leia um dos vários livros em que isso acontece, para perceber. Que tal O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie, que tem ao mesmo tempo um narrador interessante e um Poirot que mal aparece que mas que resolve o mistério (a autora deve ter escrito este livro a pensar em mim)? Todo o livro se lê como uma história normal de Poirot mas com o ponto de vista retirado a Poirot e ao seu fiel companheiro, Hastings, e entregue a uma das personagens secundárias.

É espectacular, e embora o ponto forte do livro seja o narrador e a revelação final (pois é, ainda por cima tem um plot twist de fazer corar muitos plots twists, obrigado Agatha Christie), esta presença tangencial de Poirot é importante para que o livro funcione.

O mesmo se podia de muitas das histórias da saga Sandman, de Neil Gaiman, em que Morpheus e Death, que me lembre, aparecem em várias histórias como personagens meramente tangenciais, completamente de raspão, mas acabam por ter um impacto enorme, como não podia deixar de ser. O segredo aqui é a arte de contar histórias de Gaiman, mas isso redundou nessas presenças tangenciais de duas das personagens mais importantes desse universo

De uma forma menos óbvia, podemos falar do que se passa em O Conde de Monte Cristo, livro imenso no qual o Conde de Monte Cristo do título é uma personagem tangencial durante muito tempo. A história do livro é a sua vingança, a sua vida é a motivação de tudo o que acontece, e todos os acontecimentos narrados são de alguma forma relevantes para ele ou por sua causa. E no entanto passamos longas páginas sem ter notícias dele, e quando aparece, muitas vezes disfarçado e com um nome e título diferentes, tem um papel secundário para a acção. Aqui foi novamente a mestria de Dumas que possibilitou esta presença tangencial, mas não deixa de ser impressionante a forma como o fez.

Mas querem dois exemplos a sério de personagens que praticamente não aparecem mas que são as mais importantes no meio daquilo tudo? Comecemos pelo Comediante de Watchmen, então, que morre nas primeiras páginas mas que tem um grande impacto em tudo o que se segue. Foi das coisas que mais me intrigou, quando li o livro, esta capacidade de não estar lá mas influenciar tudo, e é preciso abençoar Alan Moore pela capacidade que teve de fazer isto tão bem feita na brilhante desconstrução dos super-heróis que é esse livro.

O outro exemplo é parecido, mas ainda mais extremo: em Lágrima, o mais recente livro do meu primo André, há uma personagem tão tangencial que nunca chega a aparecer no livro. Os protagonistas são o pai e a mãe dessa personagem, um miúdo que morre antes dos acontecimentos narrados no livro. Mesmo assim, esse miúdo, ou mais propriamente, a sua morte, é o tema principal do livro em redor do qual tudo se desenvolve.

Também em leituras mais recentes, há uma personagem que me cativou e que teve o azar de cair numa série de livros que achei menos bem conseguidos, por um motivo ou por outro: Gued, o Gavião do Ciclo de Terramar, de Ursula K. Le Guin. Extraordinária feiticeiro, faz uma série de coisas para lá da compreensão humana e no fim mantém-se humilde e sábio como ninguém. O primeiro livro é do seu ponto de vista, e é claramente um protagonista muito presente, assim como no terceiro livro, mas a sua presença no segundo e no quarto livro é, durante muitas páginas, tangencial. E isso só faz dele mais interessante, pois adiciona mistério a uma personagem que podia ter sido muito banal.

Mas por falar em mistério, sabem onde é que estas presenças tangenciais caem muito bem? No género do terror e em vilões de uma forma geral. Veja-se quase tudo o que Lovecraft escreveu: o medo e as sensações de horror são transmitidas não pela presença, mas pela ausência. Como o próprio Lovecraft afirma, o medo mais antigo é o do desconhecido. É por isso que nos seus escritos são as sombras que dominam, e também aquilo que se consegue ver, mas não apreender.

Aliás, muito do horror é feito exactamente assim, através do desconhecido e muitas vezes através de personagens tangenciais. Como acontecem com Misery, de Stephen King, em que o protagonista ocupa sozinho uns 80% do livro, enquanto a sua enfermeira psicótica, a impulsionadora de tudo o que acontece, aparece de vez em quando, e quase sempre de raspão. Dá-lhe um ar mais instável e não nos deixa confiar naquilo que vemos: como é que podemos ficar a conhecer uma pessoa a vê-la durante cinco minutos de cada vez?

Tenho a certeza de que existem muitos mais exemplos, mas estes são só os que me lembro claramente, de olhar para a lista de livros que já li. Acho interessante, e é algo que ainda tenho que fazer com sucesso numa das minhas histórias, mas agora que já vos apresentei o conceito e alguns exemplos, lembra-se de mais algum caso? Seja para me relembrar, ou para me dar a conhecer, agradeço!

sábado, 25 de abril de 2015

Estantes Emprestadas [16] - Universos Partilhados


O Joel é um tipo fantástico. É mais um amigo/colega da Oficina de Escrita que recruto para esta rubrica, e mais um que de certeza me vai responder de forma espectacular. Dono de um humor peculiar, mas fantástico, e de uma imaginação sem limites, podem segui-lo principalmente pelo seu site e restantes links que por lá encontrarem. Acreditem que vale a pena. Já o entrevistei, já lhe li algumas coisas mais pequenas, e outras assim a dar para o maiorzito, além de todos os contos que submeteu para a Oficina, e sou fã. Vocês preparem-se!


Tenho um fraquinho por Universos partilhados. Nem vale a pena tentar esconder. Há qualquer coisa no conceito de algo maior onde todas as histórias cabem, que me fascina. Aquela sensação de continuidade ao longo de vários livros independentes, ou que atravessa vários episódios de várias séries diferentes... É qualquer coisa.

Já tentei muitas vezes tentar perceber o porquê, e ainda não tenho a certeza. Mas em parte só pode estar relacionado com a forma como esses Universos me deixam mergulhar mais completamente nas histórias. Mais que não seja porque o autor teve que pensar em muito mais do que apenas aquele livro e aquela história, tornando-a assim mais coerente e mais forte.

Por outro lado tem a ver com fascínio puro. É quase como uma mitologia. Uma história muito maior do que aquela que estiver a ler naquela momento, e que de certa maneira tem influência em tudo. Já para não falar dos pormenores que vão surgindo aqui e ali, por vezes de tal forma subtis que passam completamente ao lado até sabermos da história toda.

E nessa altura, tudo faz sentido. Pode ser uma explicação dada pelo autor numa entrevista, ou uma situação demasiado óbvia noutro livro, mas dá-se aquele click e todo um novo mundo universo se abre diante de nós!

Querem um exemplo simples e porreiro? A Middle-Earth de Tolkien. Não exemplos muito melhores de um enorme Universo dentro do qual o autor inseriu (quase) todas as suas histórias. Funciona? E de que maneira! Tolkien é um caso particular, que o mundo que ele criou é particularmente detalhado e ele foi particularmente meticuloso nos seus livros, mas não deixa de ser representativo por causa disso.

Aqui está um bom exemplo de um autor que cria um universo e depois escreve histórias sobre o que se passa nesse mundo. Adopta diferentes (mais ou menos, vá) pontos de vista, aborda diferentes (mais ou menos, vá) histórias e consegue realmente construir toda uma mitologia, digamos, funcional.

Outro caso completamente diferente é o de Stephen King, que não só é um dos meus autores favoritos, como foi um dos primeiros de cujo Universo partilhado me apercebi. Isso acontece porque ainda não li nada de Dark Tower, saga na qual já me prometeram existir todas as ligações/explicações e mais algumas; e também porque King o faz de forma extremamente subtil. Pelo menos nos livros que li.

Para começar, nem todos os livros precisam de estar inseridos nesse Universo. Depois a forma como o faz é com a introdução das mesmas personagens uma e outra vez em vários livros diferentes, muitas vezes sem qualquer relevância para o enredo. Ou então um vilão que nunca é bem explicado num livro mas que faz todo o sentido para quem tiver lido o segundo.

Mas isto não fica por aqui, que continua a existir muita gente a insistir neste fenómeno, que é de facto extraordinário. E difícil de cumprir. Mas há mais um autor que faz isto muito bem (acho eu, que ainda não lhe li assim tanto quanto isso): Brandon Sanderson. Este tipo sim, é subtil. Uns nomes largados aqui, uns nomes largados acolá, países e cidades e raças estranhas, sempre no tom simples, calmo e divertido que usa sempre.

Quando descobri, depois de ler a trilogia Mistborn, que todos os seus livros estavam de alguma forma relacionados uns com os outros. Não imaginam a minha excitação!

Fora da literatura também há coisas interessantes, embora alguns casos tenham que ser abordados com uma mente aberta, pois não são bem Universos partilhados, ainda que o sejam. Como por exemplo, Doctor Who, que eu consigo sempre, de alguma forma, usar para explicar ou falar sobre alguma coisa. É incrível. Mas bem, Doctor Who, a série?

Errado. Doctor Who, a série, o filme, os livros, as bandas-desenhadas, os jogos, etc, ok? A grande diferença é qual a abrangência da partilha. Tolkien partilhava o seu Universo pelas várias histórias que escrevia; Doctor Who, por outro lado, partilha a sua história por uma série de meios, desde a série original até às bandas-desenhadas que ainda não saíram, existe de tudo um pouco!

E não nos podemos esquecer dos grandes Universos dos pesos pesados das BD's americanas: Marvel e DC. É fácil de esquecer que sejam realmente Universos partilhados, mas são, e dos bons! Bem, pelo menos dos mais completos, ainda que também dos mais incongruentes.

O mais incrível ainda consegue ser o que se faz por cá. Milagre, não? Um bocado. Mas a Imaginauta esforça-se, em parte, exactamente para contrariar esse preconceito: histórias são boas, ficção especulativa é boa, universos partilhados são bons. Deixai-os andar!

Tudo isto para vos mostrar que estes Universos andam por aí, muitas vezes escondidos nos detalhes, de tal forma que até passam despercebidos. E também que valem a pena. De certa forma, este tipo de Universos, depois de descobertos, quase que obrigam a um certo investimento da parte dos leitores, que começam a sentir que fazem parte. Pelo menos é o que me acontece a mim.

E além disso, esses Universos partilhados servem como base para muita coisa, e acabam, de vez em quando, por sustentar completamente várias histórias. Ou então dão uma nova profundidade a determinado livro. Como por exemplo, ao Hobbit, que é porreiro por si só, mas que quando lido sabendo tudo o que sabemos sobre a Middle Earth se torna muito melhor.

Mas ainda falta falar de uma coisa: os Universos partilhados que não o são realmente. Ou se preferirem, os Universos partilhados que são feitos à força pelos fãs. Aquelas ligações estranhas que se fazem entre as coisas, seja por coincidência seja por vontade deliberada de alguém. Já vos aconteceu? E a ti Joel?

Por favor digam de vossa justiça, e fiquem à espera da resposta do Joel, que será de certeza bastante interessante!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

American Vampire #1


Argumento: Scott Snyder, Stephen King
Arte: Rafael Albuquerque


Opinião: Se alguém achar que não é possível contar duas histórias em paralelo, têm que ler este livro. Uma é contada por Scott Snyder, passa-se em 1920 e tem uma rapariga chamada Pearl como protagonista. Aquilo que lhe vai acontecendo é violento e perturbador, mas Snyder consegue guiar-nos numa história de vingança impulsiva que não perde o interesse.

A outra é contada por Stephen King (yay!) e conta a origem de Skinner Sweets, um vampiro que aparece como personagem secundária na história de Snyder. É uma narrativa que remonta ao Velho Oeste Americano, na altura dos bandidos que assaltam carruagens no deserto, cowboys e pistoleiros afins.

Cada capítulo do livro traz uma parte de cada história, e é muito interessante acompanhar ambas ao mesmo tempo. Dá para descobrir mais sobre o mundo em si ao mesmo tempo que se acompanha o desenvolvimento da história que realmente importa contar, por assim dizer.

E que história! Uma nova raça de vampiros, mais fortes e mais tudo do que a antiga raça europeia, desponta nos Estados Unidos e ameaça destronar e destruir completamente a comunidade vampírica... E tudo o mais que lhes passe à frente.

Só que não é bem esse o assunto da história. Podia ser, era até bastante fácil, mas há uma abordagem muito mais discreta, com foco em duas personagens - Pearl e Skinner Sweets - nas suas viagens privadas de vingança, cada um na sua época. O resto é fácil de deduzir pelo contexto, mas não é imediatamente evidente, porque não é realmente importante. Pelo menos não neste livro.

Imagino que os livros seguintes desenvolvam muito mais essa guerra e esse confronto, mas esta introdução agradou-me muito mais exactamente por não ir por aí. Esta abordagem permitiu que tanto Snyder como King tivessem espaço para as suas histórias sobre um novo tipo de vampiro, resistente à luz do Sol, mais forte, mais rápido e ligeiramente mais sanguinário.

Os dois protagonistas são excepcionais, Pearl por ter uma transição realista da primeira metade da sua história para a segunda metade, e Skinner Sweets por ser uma personagem como só King sabe fazer: badass, engraçado, violento, despreocupado, e ainda com a vantagem de aparecer em duas fases diferentes da sua vida.

De resto, só tenho coisas boas a dizer. Os diálogos são bons e a arte é fantástica, é preciso dar os parabéns a Rafael Albuquerque pelo seu traço estilizado e característico, perfeito tanto para as cenas mais realistas como para os momentos mais loucos e sangrentos do livro. Ambas as histórias evoluem com um bom ritmo e têm bons finais, que me deixaram curioso para ler o volume seguinte, mas não ficaram demasiado em aberto, ou demasiado pendentes, para me estragar esta leitura. Em suma, um excelente livro do princípio ao fim!

sábado, 27 de setembro de 2014

Personagens favoritas


Tendo em conta o número reduzido de comentadores e comentários que este blog tem, basta alguém comentar mais do que uma vez e eu fico a conhecer essa pessoa. E a considerá-la, pelo menos, uma pessoa conhecida.

Alguns, no entanto, são bastante reincidentes. Por esses, poucos, tenho uma grande estima. Ainda para mais quando todas as suas intervenções são relevantes e interessantes, como é o caso do Francisco Fernandes (aka asesereis).

Esta conversa, para além de agradecer a sua contribuição para as discussões aqui no blog, é só para introduzir uma sugestão que o Francisco fez e que vou seguir (mais ou menos): personagens favoritas.

É complicado falar de favoritos, sejam livros, sejam autores, quando somos completamente viciados em literatura, mas no fim fica fácil. Se tiver sido um livro que nos marcou o suficiente para ser o nosso favorito, não nos vamos esquecer. E o mesmo para autores. Mas personagens favoritas? Personagens há muitas!

No meu caso, assim de repente, basta lembrar-me de Tolkien e de Stephen King, e já fico, literalmente, com um manancial de centenas de personagens disponíveis. E se ficar a saber os nomes dos cerca de cem livros que leio por ano já é abusar da minha memória, nem sequer pensem em ficar a saber os nomes de todas as personagens.

Mas no entanto há algumas que ficam. Outras cujo nome já não sei, mas que conheço perfeitamente. Quer queiramos quer não, é como os livros e os autores - só que a uma escala maior.

E com as personagens até é possível acontecerem coisas bastante curiosas... Como por exemplo, uma das minhas personagens favoritas é o Glotka, o torturador desfigurado e manipulador da trilogia The First Law, de Joe Abercrombie, que achei apenas mediana. Mas o meu livro favorito deste autor, Best Served Cold, também tem uma personagem que aprecio, embora bastante níveis abaixo de Glotka: Friendly, o tipo frio e obcecado com a matemática, cujo ponto de vista originou alguns dos capítulos mais interessantes que já li.

O "pior" é quando começo a desbobinar os nomes de que me vou lembrando, e o resultado é uma lista recheada de vilões. Seltor, Joker, Pennywise, a enfermeira psicopata que depois é interpretada por Kathy Bates... Podia ficar aqui o dia todo.

Por outro lado, como raio é que faço uma lista destas sem dar destaque a meia dúzia de personagens de Tolkien? Ou de Alan Moore? Ou de Neil Gaiman? Ou do George R.R. Martin? Ou da Rowling? Ou das outras centenas de autores?

E o Sherlock Holmes? E o Poirot? Impossível! Impossível!

A minha resposta ao teu desafio é esta, Francisco: provavelmente, se me perguntares qual é a minha personagem favorita, digo-te sempre o Seltor, mas se todos os dias me pedires uma lista de cinco personagens favoritas, o mais provável é eu dar-te uma lista diferente de cada vez.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Soul Survivors (The Stand #3)


História: Stephen King
Adaptação: Robert Aguirre-Sacasa
Arte: Mike Perkins


Opinião: Comprei esta BD há uma série de anos, numa Feira do Livro, por menos de metade do preço. Foi mesmo um daqueles momentos "ok, não vou resistir a isto". Por acaso acho que já tinha o livro original, mas ainda não o tinha lido, o que significa que este volume ficou a apanhar pó nas minhas estantes.

Mas no Verão passado lá li as mil e trezentas páginas do The Stand, adorei, e disse para mim próprio que esta BD tinha que marchar.

Nove meses depois... Lá peguei nele. O "problema" de ter muitos livros em lista de espera é que há uns que vão sempre sendo atirados para o fim da lista, ou que são constantemente ultrapassados e pronto. Mas agora já está!

O que tenho a dizer é que gostei da adaptação. Em termos de argumento isto ficou muito bom. Consegue captar o tom do Stephen King, seja nos momentos mais calmos, nos mais violentos ou nos mais perturbadores, sempre fiel ao livro original.

A arte, por seu lado, embora consiga acompanhar minimamente, é o ponto fraco do livro. Não se deixa intimidar por cenas mais sangrentas de cabeças a serem esmagadas de forma bastante explícita, é certo, mas sofre de excesso de detalhe.

São daqueles desenhos que tentam ser o mais realistas possíveis e acabam obcecados com os pormenores. Isto leva a expressões faciais ridículas, mais músculos do que é normal, super-ultra-definição completamente irrealista nalguns objectos... Uma pena.

Mesmo assim fiquei curioso para ler o resto da colecção (ninguém achava que um livro do King se ia dividir em menos de seis livros, pois não?). Este volume é o terceiro, o que não me fez particular espécie por já conhecer a história, o que significa que não perdi nada e entrei de imediato na narrativa, sem grandes problemas, mas que pode trazer problemas a outras pessoas. Só que pronto, é óbvio que não vão começar pelo terceiro volume, não é?

Não é que percam muito... Mas há cenas aqui que só têm o seu efeito total quando devidamente contextualizadas. Os grupos ainda estão todos separados e começam aqui a encontrar-se, já perto de metade da história, que caminha para um ponto de viragem importante. Como tal, esta parte é mais calma e lenta, ainda que cheia de tensão e repleta de momentos marcantes e essenciais, como o "acordar" de Harold e uma cena particularmente poderosa em que uma velhota (a boazinha) é rodeada por bichos à mercê do Dark Man (o vil... acho que não preciso de explicar) e consegue repeli-los.

Para terminar, uma nota positiva para a arte, que mesmo sendo, na minha opinião, o ponto fraco do livro, consegue capturar muito bem alguns momentos, especialmente os mais violentos e uma ou duas situações em que aparece o Dark Man.

Tenho que ver se consigo encontrar o resto, embora não tenha achado isto fantástico o suficiente para precisar de encontrar o resto...

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Que as citações nos caiam em cima [38]


"That is the curse of the human race. Sociability. What Christ should have said was 'Yea, verily, whenever two or three of you are gathered together, some other guy is going to get the living shit knocked out of him.' Shall I tell you what sociology teaches us about the human race? I'll give it to you in a nutshell. Show me a man or woman alone and I'll show you a saint. Give me two and they'll fall in love. Give me three and they'll invent the charming thing we call 'society.' Give me four and they'll build a pyramid. Give me five and they'll make one an outcast. Give me six and they'll reinvent prejudice. Give me seven and in seven years they'll reinvent warfare. Man may have been made in the image of God, but human society was made in the image of His opposite number, and is always trying to get back home."

The Stand
Stephen King

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

The Stand

Título: The Stand
Autor: Stephen King

Sinopse: First come the days of the plague. Then come the dreams.
Dreams that warn of the coming of the dark man. The apostate of death, his worn-down boot heels tramping in the night roads. The warlord of the charnel house and Prince of Evil.
His time is at hand. His empire grows in the west and the Apocalypse looms.

Opinião: O início deste grande (literalmente, com as suas 1325 páginas) livro é típico de Stephen King, especialmente no que toca aos seus calhamaços: um primeiro capítulo pequenito que despoleta a acção, e centenas de páginas de uma história contada de forma lenta e detalhada.

Ok, tecnicamente falando ainda só lhe li mais um verdadeiro calhamaço, mas já li tantos livros seus e tanta coisa sobre ele, que sinto-me no direito de fazer esta generalização, não apressada, mas vá, medianamente fundamentada.

É uma fórmula que acho que funciona bem. Temos as primeiras páginas a abrir o apetite e a despertar-nos a curiosidade, e depois temos Stephen King a contar-nos uma história sentado na sua cadeira mais confortável: uma cadeira feita de detalhes pessoais de dezenas de personagens, e de uma história, ou histórias, de ritmo lento, mas invariavelmente cativantes.

Muita gente queixa-se desse aspecto dos seus livros. Que demora muito tempo a acontecer alguma coisa, e que ninguém quer saber tantos detalhes sobre tantas personagens, e que isso é completamente irrelevante para a história e bla bla bla.

Não penso dessa forma. Podiam ter razão de queixa se King fizesse isso tudo de forma aborrecida e o resultado fossem 500 páginas a encher chouriços, mas não... O que este escritor faz é envolver-nos completamente na história através desses detalhes, é tornar tudo mais realista e mais próximo.

Ao acompanharmos um número elevado de personagens de forma tão vívida, mesmo que não nos liguemos a nenhuma em particular (e acabamos por ligar, o homem faz isto mesmo bem), temos pelo menos uma visão mais abrangente do mundo partilhado por essas mesmas personagens. Não ficamos com uma visão unilateral dos acontecimentos, e isso é muito importante para nos envolver na história.

Mas isso é conversa para desenvolver noutra altura. Por agora vou tentar restringir-me ao livro em si. Os primeiros capítulos, como já disse, são interessantes. Diria até impressionantes. A estrutura usada é ter pessoas a morrer praticamente em todos os capítulos, com a doença a espalhar-se em pano de fundo de forma lenta, mas visível para nós, que estamos de fora; e depois aparece um capítulo a descrever como é que a infecção se propagou.

É uma abordagem interessante e bastante forte, que nos atira para a história com uma grande violência, ainda que o faça de forma lenta, e aparentemente dissimulada.

Por outras palavras, aquilo que de longe pode parecer palha pura e simples, acaba por estar bem encadeado na história e raramente aborrece. Mais que não seja porque volta e meia é a partir dessas informações "excessivas" que o autor lança pormenores com bastante relevância para a história e para as reacções das personagens.

Personagens essas que vai lá vai... Há com cada uma tão porreira que até dói. O dark man é de longe a mais intrigante: surge claramente como vilão, sem se perceber muito bem se aproveita a praga para fazer porcaria, ou se foi ele próprio o seu causador. Isso depois é clarificado, mas não durante o seu primeiro capítulo, que é tremendo.

E até tenho pena de falar tão pouco do trashcan man, um tipo completamente maluco, piromaníaco, que desde que aparece até ao fim do livro, só faz bodega. É o caos encarnado, de certeza. A sua mentalidade está bem construída, e os capítulos do seu ponto de vista foram de longe dos mais interessantes, graças à sua mente, digamos, peculiar.

De resto tenho que destacar ainda o Harold, uma personagem excepcional, um lobo rafeiro escondido entre os cordeirinhos; e ainda um par de personagens, que vale realmente a pena pela relação que estabelecem, Nick e Tom. Nick é um surdo-mudo e Tom uma criança no corpo de um homem a tender para o gigante. Sem outra forma de comunicarem que não seja por gestos, os momentos em que apareceram foram também dos pontos altos do livro.

Não posso é deixar de comparar este livro ao Cell, do mesmo autor. Enquanto que esse foi um apocalipse a mil à hora, este foi um apocalipse à velocidade de um caracol. E digo que gostei mais deste, em parte por causa de algo que já estou farto de dizer em várias opiniões sobre os livros de King: os seus livros são melhores quando são gigantes.

Para terminar falta-me dizer algumas palavras sobre o fim do The Stand. Não é que não tenha sido satisfatório, porque foi, a modos que atou todas as pontas soltas, foi convenientemente semi-épico, e relativamente feliz... Para toda a gente.

Mas faltou-lhe ali qualquer coisa. Talvez tenha sido a forma um bocado fácil como tudo termina, não sei bem. A verdade é que muito ainda se podia dizer sobre isto livro, e mais vale ficar por aqui. Foi um livro muito bom e que me deixou com vontade de pegar em mais coisas de King nas proximidades.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

It

Título: It
Autor: Stephen King

Sinopse: To the children, the town was their whole world. To the adults, knowing better, Derry, Maine was just their home town: familiar, well-ordered for the most part. A good place to live.
It was the children who saw - and felt - what made Derry so horribly different. In the storm drains, in the sewers, IT lurker, taking on the shape of every nightmare, each one's deepest dread. Sometimes IT reached up, seizing, tearing, killing...
The adults, knowing better, knew nothing.
Time passed and the children gre up, moved away. The horror of IT was deep-buried, wrapped in forgetfulness. Until they were called back, once more to confront IT as it stirred and coiled in the sullen depths of their memories, reaching up again to make their past nightmares a terrible present reality.

Opinião: Quando digo que Stephen King é o meu escritor favorito até à data, não o faço de ânimo leve. Passam-me pela cabeça nomes como Verne, Saramago, Lovecraft, Clarke, Poe e até o mais recente David Soares, todos eles autores cujas obras me fascinaram e que mantenho cuidadosamente no meu top 10.

Mas acho que só King me consegue prender como o tem feito, livro após livro. E se eu antes já pensava isso mas tinha dúvidas ao pensar n'O Evangelho Segundo Jesus Cristo de Saramago, n'A Conspiração dos Antepassados de Soares, em qualquer livro de Verne ou no Ctulhu de Lovecraft, essas dúvidas dissiparam-se com este It.

É claro que Verne era um génio absoluto que praticamente criou novos géneros literários, tal como Poe; que nunca ninguém conseguiu criar uma mitologia monstruosa de forma tão genial como Lovecraft; que os livros de Saramago são odes à condição humana, obras-primas da literatura, da arte e da Humanidade; que Clarke foi um dos mais brilhantes e criativos escritores de ficção-científica de sempre; e que Soares é capaz de representar, sozinho, uma mudança no panorama literário nacional... mas nenhum deles conta histórias como King o faz.

Não me interpretem mal: King é muito menos literário do que qualquer um daqueles autores. Alguém, talvez ele próprio, já classificou os seus livros como fast-food literária. Não discordo. Em termos puramente técnicos e de estética literária, não incluiria King no meu top 20.

Só que as histórias têm um profundo efeito em mim. Quando bem contadas, são capazes de estimular o pensamento crítico de forma muito mais intensa do que qualquer texto puramente filosófico.

A explicação, para mim, é simples. Um texto filosófico implica um esforço consciente e uma constante atenção a tudo o que é lido. Uma pessoa ao ler filosofia pura está activamente a pensar. As histórias conseguem fazer algo excepcional quando bem construídas e bem contadas: envolvem o leitor e obrigam-no a sentir sentimentos que não lhe pertencem. Quando o leitor dá por ela, teve uma qualquer revelação quase inconsciente, pois as boas histórias podem fazer pensar de forma passiva.

É esse o segredo e aquilo que tanto me atrai para uma boa história, a capacidade que têm de fazer pensar quase sem darmos por isso. E King é um contador de histórias por excelência.

Já tenho esta noção desde o primeiro livro que li deste autor, o Carrie. Percebi logo que ele tem 2 grandes pontos fortes: a mestria na construção e utilização de um grande leque de personagens, e a excelência a contar histórias.

Outra coisa que sei é que ainda não devo ir a meio desta opinião, mas é compreensível que um épico de 1376 páginas que seja uma verdadeira obra-prima do meu escritor favorito dê origem a um texto maior do que é habitual.

E só agora começo realmente a falar do livro em si. Não tenho absolutamente nada de negativo a apontar a esta obra. O enredo é complexo e desenrola-se habilmente através de uma narrativa que segue várias histórias em paralelo, com várias dezenas de personagens, todas elas com uma personalidade bem demarcada e construída.

A história, de uma forma geral, mais do que seguir o grupo principal de sete protagonistas, enquanto crianças e adultos, é uma história da localidade de Derry, no Maine, e de It, uma entidade monstruosa que faz parte da mitologia própria do Universo criado transversalmente por King ao longo de vários dos seus livros.

It tem um ciclo muito próprio: "acorda" mais ou menos a cada 27 anos para ser a causa de um período de terror recheado de assassinatos macabros e desaparecimentos misteriosos. Após saciar o apetite, "adormece" e como que hiberna durante 27 anos, mais coisa menos coisa.

Mais mais do que isso, tendo a história perfeitamente contada que tem, este livro é sobre o medo, a amizade, a família, a vingança, a coragem, a memória, a loucura, a infância, a mudança para a vida adulta... E provavelmente podia ficar aqui a escrever mais umas coisas, mas estas parecem-me ser as essenciais. King não trata directamente os assuntos, apresenta-os e mostra-os.

Fazendo uso do grande trunfo das histórias, preocupa-se primeiro em contar uma boa (excelente!) história, com atenção especial às personagens e aos meandros psicológicos, tanto individuais como colectivos. Só depois, quase como efeito secundário da história que conta, acaba por fazer pensar em todos aqueles assuntos.

Sei que devo parecer um fã demasiado excitado, ou uma adolescente a roçar o histerismo, daquelas que gritam nos concertos pelos seus ídolos, mas não consigo evitar, eu quero, aliás, preciso, que as pessoas tenham noção da genialidade deste livro e deste escritor.

Além de tudo o que já disse, King é a prova viva de que o horror é um género literário tão passível de ser genial como qualquer outro.

Portanto, acabo esta opinião, já monstruosamente extensa, dizendo sem hesitação que It é o melhor que já li de Stephen King, e que é também um dos melhores livros que já li na minha vida.

P.S.: Definitivamente não aconselhado a quem tiver problemas com palhaços!

domingo, 27 de maio de 2012

The Green Mile

Título: The Green Mile
Autor: Stephen King

Sinopse: The Green Mile: those who walk it do not return, because at the end of that walk is the room in which sits Cold Mountain Penitentiary's electric chair. In 1932 the newest resident on death row is John Coffey, a giant of a black man convicted of the brutal murder of two little girls. But nothing is as it seems with John Coffey, and around him unfolds a bizarre and horrifying story.

Evilr murderer or holy innocent - whichever he is - Coffey has strange powers which may yet offer salvation to others, even if they can do nothing to save him.

Opinião: Para aqueles que ainda não sabem, Stephen King é dos meus autores favoritos, se não for mesmo o meu favorito. Portanto é muito complicado para mim escrever uma opinião objectiva sobre um livro dele, o que significa que não me vou esforçar muito para isso. Aquilo que vão ler é a minha opinião super parcial, se quiserem, mas eu não me importo. É Stephen King.

Começo por dizer que este livro é bastante atípico, para este autor. A excelência de contador de histórias está lá toda, mas não tem as quantidades copiosas de sangue e membros decepados e estropiados presentes noutros livros. A princípio fiquei com medo que isso fosse estragar o livro, já que uma boa parte daquilo que me faz gostar de King é exactamente a sua mestria a descrever e a criar situações de terror e de macabro. Medos infundados. O livro tem algumas (poucas) situações verdadeiramente à la Stephen King, mas a ausência delas do resto do livro não diminuiu a sua qualidade.

Antes pelo contrário. The Green Mile é o livro que leio de Stephen King, e digo sem hesitar que é dos melhores, apesar de ser um livro diferente do que é habitual, em vários sentidos. É menos macabro, tem um ritmo mais lento e é um verdadeiro peso pesado do suspense.

Pormenor interessante: foi originalmente publicado em 6 pequenos volumes, que correspondem a 6 partes do livro, muito ao estilo de Dickens, como o próprio autor o afirma. Isto leva que existam 6 pequenos finais, que deixam sempre quem lê com uma vontade desesperada de virar a página e continuar a ler. Nem consigo imaginar como terá sido aquando da primeira publicação, em que se tinha de esperar 1 mês para ler a parte seguinte!

Mas pronto, a história é bastante simples (até isso é relativamente atípico), e passa-se quase inteiramente na zona do corredor da morte de uma prisão, zona a que as personagens costumam chamar Green Mile, por causa do seu chão verde. E tudo começa verdadeiramente quando John Coffey, um negro gigante, se torna no novo ocupante de uma das celas, acusado de um crime horrendo. Mas Coffey é mais do que o seu aspecto algo idiota deixa transparecer: tem uns certos poderes meio mágicos meio milagrosos. A partir desta premissa, bastante simples, Stephen King arranjou toda uma história em que de repente tudo começa a fazer sentido, à medida que o ritmo acelera, mais para o fim do livro.

É de facto uma excelente narrativa, que originou uma das muitas adaptações cinematográficas de livros deste mestre do terror, e que foi uma das que mais teve sucesso. Confesso que ainda não vi o filme, mas se o próprio King diz que é das melhores e mais fiéis adaptações de um livro seu...

Enfim, só vos posso dizer que vale muito a pena ler este livro, que conta uma história muito bem contada, como é costume. Ah, e acho que nunca mais leio um livro dele em português. Ler em inglês foi uma experiência completamente diferente e que apreciei muito mais. Aconselho vivamente.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Insónia

Título: Insónia
Autor: Stephen King
Tradutor: Manuel Cordeiro

Sinopse: Ralph Roberts enviuvou recentemente e além de estar dominado pela dor da perda, começou a debater-se com outro problema... não tem dormido bem ultimamente, na verdade, quase não dorme!
Para se distrair e tentar encontrar o sono, instala-se numa cadeira à janela para observar quem passa e os vizinhos. Subitamente compreende que coisas estranhas estão a acontecer à sua volta, experimentado sensações que não acredita serem alucinações.
Vê o seu sempre amável vizinho a espancar brutalmente a mulher, ao mesmo tempo que grita palavras incoerentes como "centuriões" e "Rei Vermelho"... e quem serão aqueles estranhos pequenos médicos carecas que entram todos os dias no lar de idosos?
O Bem e o Mal estão prestes a confrontar-se num combate sem tréguas... Ralph Roberts não vai voltar a adormecer... e o leitor se ler o livro até ao fim irá voltar a dormir?!

Opinião: O poder que Stephen King tem de contar história é algo de excepcional, quase sobre-humano. A leitura de um livro da sua autoria é sempre uma aventura que praticamente me obriga a ficar de tal forma embrenhado no livro que não consigo parar de ler. Só assim se percebe que apesar de eu ter um ritmo bastante rápido de leitura e de estar de férias, só tenha demorado 3 dias a ler as 700 páginas. O meu recorde anterior acho que foram as 750 páginas de Harry Potter e a Ordem de Fénix em pouco mais de 5 dias.

Mas antes de continuar a elogiar o livro e o autor de forma excessivamente efusiva, tenho que fazer 2 pequenas críticas que por acaso até nem têm nada a ver com o autor, a história ou a escrita. Ou melhor, 3 não tão pequenas críticas. Em primeiro lugar os livros deste autor, por cá, são estupidamente caros. Este comprei-o na feira do livro, 50% de desconto e ficou-me por 12,5 euros, o que significa que custa à volta de 25, mais coisa menos coisa. O mais barato que já comprei em português foi Cell - Chamada para a Morte, em edição de bolso, com 474 páginas, por 11 euros. Em contrapartida, comprei o It, em inglês, igualmente em edição de bolso, com 1374 páginas (que monstro, eu sei, estou excitadíssimo para o ler!) por 10 euros. O triplo das páginas, pelo que já li, o quádruplo da qualidade, e menos 1 euro. Enfim.

Depois há a questão dos erros. Ou melhor, gralhas. Apanhei umas poucas. Seria de esperar que num livro que custa à volta de 25 euros tivesse havido um cuidado extra no que toca a este aspecto. Mas pronto, nada de muito estupidificante. Aquilo que mais me aborrece é mesmo a sinopse. Aliás, se há coisa que me aborrece muito são sinopses idiotas, e esta, embora acerte nos aspectos gerais, como na insónia (mas com o título do livro, não havia de ser difícil acertar...), na viuvez, no nome da personagem, nos "centuriões" e no "Rei Vermelho", assim como nos pequenos médicos carecas, falha muito nos pormenores. Quem ler a sinopse fica a pensar que a personagem principal se senta todas as noites no seu cadeirão a observar a rua e que presencia toda uma série de acontecimentos estranhos. Que eu me lembre, esta situação só acontece 1 vez em todas as 700 páginas.

E os pequenos médicos carecas a entrarem todos os dias no lar de idosos? Primeiro ri-me à socapa, chateado e divertido, pois não há nenhum lar de idosos na história, mas depois percebi. Não é um lar de idosos, são os lares dos idosos, as suas casas. Percebe-se, mas é uma construção frásica bastante infeliz e, mais uma vez, é uma situação que acontece apenas uma vez. Curiosamente, é precisamente na única vez em que Ralph se senta à janela. Fica a dúvida: será que quem escreveu a sinopse é realmente pouco inteligente, ou terá apenas lido até à noite em que esta situação acontece?

Enfim, já escrevi tanto e ainda só disse mal, praticamente... Vamos lá falar daquele que é, sem dúvida alguma, o meu escritor favorito. O livro tem um início lento mas cativante. Não há pessoas a ficarem loucas na segunda página, nem uma cena nojenta e inesperada no primeiro capítulo, nem sequer um acidente de viação horripilante logo ao início. Há apenas  a história de Ralph Roberts, recém-viúvo e velhote desiludido com a vida, que começa a ter insónias. Deste ponto de partida aparentemente banal, o livro desenrola-se a um ritmo quase tortuosamente lento, na primeira parte, ainda que exponencial, com pequenos acontecimentos a darem-se aqui e ali, todos eles pequenas peças de um puzzle do tamanho do Universo. Chega-se à segunda parte e o ritmo começa a acelerar, com os acontecimentos a sucederem-se cada vez mais rapidamente até se chegar à terceira parte, quase 300 páginas de um gigantesco clímax final, alongado e com um ritmo absolutamente alucinante. E o livro está tão bem planeado e tão bem escrito, que se a divisão não tivesse sido feita, notar-se-ia perfeitamente, com a leitura.

É realmente de louvar, a imaginação deste escritor, assim como a sua tremenda capacidade de escrita e de planeamento. É que apesar de eu não conhecer assim tão bem o resto da sua tremenda obra, reparei que alguns pormenores pareciam ligeiramente desconexos e desligados do resto da história. Daquilo que conheço do autor, formulei uma teoria, a de que eram elos de ligação com outras obras, e uma pequena pesquisa revelou-me isso mesmo. Personagens que se repetem, situações parecidas, a mesma cidade... Stephen King já criou um autêntico Universo que passa despercebido aos leitores ocasionais, mas que não deixa de fascinar quem o segue com mais atenção. Pelo menos no que a mim me toca, considerem-me fascinado. Leiam, ou dou-vos porrada.

domingo, 22 de maio de 2011

Que as citações nos caiam em cima [6]

Esta semana trago uma citação mais negra, de um génio contemporâneo da literatura de terror: Stephen King. Descobri esta frase do autor há algum tempo, e a verdade é que ficou vincada numa parte qualquer da minha alma, até hoje, quando a decidi partilhar convosco.

"Os monstros são reais, e os fantasmas também. Eles vivem dentro de nós, e por vezes, ganham."
Stephen King

Penso que o importante é deixarmos o mínimo possível que eles ganhem as nossas renhidas batalhas interiores.

Continuamos à espera das vossas citações!

Boas leituras para todos.

domingo, 31 de outubro de 2010

Metade Sombria

Um livro de Stephen King é sempre algo em grande. Pelo menos foi isso que aprendi, após ler 5 livros dele, ter mais um na prateleira (em inglês, e com 1000 e tal páginas!!), e de ler as sinopses e opiniões sobre a maior parte dos outros. Este não é excepção.

Embora me seja difícil dizer qual é o melhor, daqueles que li, e embora não tenha lido assim tantos quanto isso, este é sem dúvida um dos melhores. Mas bem, não são todos?

A história deste é, no entanto, particularmente assustadora, porque parece, de certa maneira a junção de Carrie, A Hora do Vampiro, e Misery. O primeiro é sobre o poder escondido dentro de alguém, o segundo é sobre seres sobrenaturais, e o terceiro é sobre a loucura. E este livro, Metade Sombria, fala sobre o poder e a loucura de um ser sobrenatural escondido dentro de alguém.

Bem, first things first. O escritor, nos agradecimentos, agradece a Richard Bachman, o pseudónimo que usou para escrever alguns livros, e diz que sem ele não teria sido capaz de escrever este livro. E percebe-se porquê, pois este livro fala exactamente sobre um pseudónimo.

Thaddeus Beaumont, um escritor de parco sucesso, vítima de um tumor cerebral muito peculiar enquanto criança, descobriu cedo a sua vocação para a escrita, mas só tardiamente é que descobriu George Stark dentro de si. Stark é o nome com o qual assina 3 livros que vendem que nem pães quentes, e que obtém um enorme sucesso, entre os leitores e a crítica, sem que ninguém saiba que Stark e Beaumont são a mesma pessoa. Até que Thad decide matar Stark, revelando tudo numa entrevista à revista People. Só que Stark não quer morrer.

Inicia-se então uma luta, travada entre Thad e Stark, que a princípio não passa de apenas uma série de assassínios da parte de Stark, e de uma frustrante impotência da parte de Thad, mas que culmina numa batalha final bastante original, bem ao estilo de Stephen King.

Quanto às personagens, a dualidade Thad/Stark dava para escrever um ensaio, com todas as suas particularidades, duas metades completamente opostos do mesmo ser, com uma reprimida durante anos, numa tentativa de controlo que acaba por fracassar, e até por se inverter, com a materialização do fantasma de um homem que nunca existiu realmente. Liz, a mulher de Thad é uma personagem forte, ainda que não tenha tanto destaque como isso, mas que prova, vezes sem conta, que é uma mulher forte. Alan, ou melhor, o xerife Pangborn, é o céptico que não tem outro remédio que não aceitar o sobrenatural. Ah, e Rawlie DeLesseps, é claro, com o seu cachimbo apagado, e personalidade estranha, é uma personagem bastante agradável, embora apareça muito pouco. E os pardais. Pode parecer estranho, mas os pardais acabam por se tornar numa personagem muito importante, ao longo do livro.

Por sorte, para os leitores de estômago mais fraco, não é dos livros mais sangrentos que eu já tenha lido deste escritor. Não deixa de ser sangrento, mas essa parte torna-se muito menos relevante, face a tudo o resto, em especial face ao essencial da história, a luta de Thad, a "velha carcaça", com Stark, a sua metade sombria.

Um livro mais do que aconselhado, como não podia deixar de ser.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Misery

Que posso dizer... Os livros deste escritor arrebatam-me sempre. É a sua escrita, crua, cruel, brutal, requintada, ainda que simples, trabalhada, planeada... Perfeita, no meu ponto de vista.

Desta vez, a história centra-se num escritor que tem um acidente de carro, e é resgatado por uma enfermeira, que, por acaso, é a sua fã número 1! Só que o escritor, Paul Sheldon, tinha, no seu último livro, morto a personagem principal dos seus romances com mais sucesso, as aventuras de Misery. Série essa que era a razão da enfermeira, Annie Wilkes, ser sua fã...

E Annie está tão obcecada com os livros de Misery, que, ao descobrir que ela morre no final do último livro publicado, obriga Paul a escrever um novo livro, que acaba por ser o seu melhor livro!

Só que não faz isto da maneira mais simpática...

A forma como Stephen King descreve os meandros da mente humana continua a maravilhar-me. Annie, a enfermeira meio psicótica, é uma personagem tão bem construída, com os seus altos e baixos mentais e emocionais, que parece real. Bem como Paul, também ele, com as suas dores, os seus sonhos, os receios e inspirações, parece extremamente real. É uma habilidade que King tem, que é a de dar uma profundidade incrível às suas personagens.

Outra das suas habilidades é de contar uma história. Ainda não descobri ninguém que o faça tão bem como ele, nem que se chegue lá perto... Para mim, é todo um novo patamar de escrita que destaca o Stephen King, enquanto contador de histórias. Conta as coisas de uma maneira que a princípio pode parecer confusa, mas os acontecimentos são tão marcantes, que não me consegui esquecer de um único pormenor, enquanto lia (e eu tenho uma memória TERRÍVEL), e as coisas vão encaixando, como as peças de um puzzle.

Fica, por isso, definitivamente aconselhado, sem sombra de dúvida!

sábado, 10 de julho de 2010

A Hora do Vampiro


Assim de repente, à primeira vista, a podem pensar que até Stephen King se rendeu à moda dos vampiros... Mas a verdade é que foi apenas a editora portuguesa do livro que se aproveitou dessa moda para lançar um livro escrito há 35 anos.

E desenganem-se... Isto não é um livro de vampiros, é um livro de vampiros a sério! Não brilham ao sol, e não têm o aspecto eterno de adolescentes mimados. Stephen King consegue criar aqui uma verdadeira história de vampiros, que assusta, e que não é muito aconselhável ler a altas horas da noite.

Se bem que primeiro que um vampiro apareça, ainda correm muitas páginas, e até mesmo para que se mencionem vampiros correm muitas também. O truque, a magia, se quiserem, deste livro é o ambiente, a atmosfera. King consegue, através de dezenas de personagens, e de narrativa intercalada entre elas todas, relatando acontecimentos aparentemente desconexos, criar uma... uma teia de acontecimentos, que quando damos por ela está a fazer sentido.

E é nos pormenores que a coisa realmente acontece. Pormenores que se for preciso só damos por ela algumas páginas depois de os termos lidos, mas que nos ficam logo gravadas na memória, e ajudam a transmitir uma estranha impressão, um sensação de sufoco, de medo e de pânico, até. Stephen King demonstra-se aqui, no seu segundo livro publicado, como um exímio contador de histórias, com uma escrita que em momentos roça o absolutamente brilhante, e um enredo que parece complexo, mas que é apenas vasto.

Consegue criar as situações mais inverosímeis, e fazê-las parecer reais, ao mesmo tempo que vai dando pistas sobre o que vai acontecer a seguir. Pistas que, claro, só percebemos depois de tudo ter acontecido. Uma espécie de "ah, então era isso que aquilo significava!".

Só posso aconselhar este livro a praticamente toda a gente. Gostem de fantasia ou não, gostem de terror ou não, gostem de vampiros ou não. Leiam! Só não aconselho a fãs mais devotos de Stephenie Meyer e afins... É capaz de ser demasiado forte para esses corações habituados ao brilho ofuscante da pele pálida de uma qualquer tentativa de vampiro...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cell - Chamada para a Morte


O segundo livro de Stephen King que leio, e não me decepcionou. Provavelmente o livro que mais gostei de ler até hoje, "Cell - Chamada para a Morte" é uma história bem ao estilo de King, horror puro, o sobrenatural introduzido levemente e depois a ter um papel praticamente central na história, gore à força toda, e uma escrita fluida, agradável e simplesmente brilhante.

Ao contrário de grande parte das histórias, este livro não tem um fim apocalíptico. Muito menos um clímax apocalíptico antes do fim. Tem um começo apocalíptico. Na minha versão de bolso, na 5ª ou na 6ª página (imagino que na edição normal, seja logo na 2ª ou 3ª página), começa imediatamente e sem qualquer tipo de aviso, uma onde de destruição tal, que me prendeu imediatamente à história.

O causador é o Impulso, um qualquer fenómeno estranho, difundido através dos telemóveis, que basicamente transforma todos aqueles que usarem um telemóvel, numa espécie de zombie-apático-numa-fúria-destruidora-imune-à-dor. Clayton Riddel, e os seus companheiros, tentam sobreviver no meio da devastação caótica em que o mundo se tornou, tal como todos os sobreviventes do Impulso.

Começam a descobrir várias coisas sobre os tais 'zombies', incluindo que eles vão evoluindo, e começam a desenvolver poderes telepáticos, e de levitação e afins. Um incidente em particular chamou-me a atenção. Encontram uma fanática religiosa, que tenta apregoar a sua religião ao grupo, e Tom exibe uma atitude furiosa perante a mulherzinha. Já em "Carrie", uma das personagens, a mãe de Carrie, era uma fanática religiosa. Só li estes dois livros, mas acho que o autor tem algum problema com fanáticos religiosos...

Com pelo menos mais um momento semi-apocalíptico, e um definitivamente apocalíptico (uma explosão, e uma grande explosão), temos uma história repleta de acção da primeira à última linha, sem momentos mortos. Muitos mortos, com mortes horrorosas e sangrentas e nojentas, mas momentos mortos? Zero. Nota-se uma focalização, que também se vê em "Carrie", nos pensamentos das personagens. Diria até uma atenção muito forte para os pensamentos das personagens.

Um livro que só vem provar como Stephen King é um dos melhores autores do mundo, e que vem mostrar porque é que ele é o autor mais bem pago do mundo, e que me vem cimentar a posição dele como meu escritor favorito.