terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Lucky

Título: Lucky
Autora: Alice Sebold

Sinopse: Nestas memórias, Alice Sebold revela como é que a sua vida foi transformada, quando era uma caloira de 18 anos, ao ser brutalmente violada e espancada. Sebold conta-nos acerca do seu caminho para a recuperação, e como conseguiu arranjar forma de assegurar que o seu atacante era preso e sentenciado.

Opinião: Este é um livro diferente dos livros que costumo ler, pois não é uma história ficcionada, mas sim um relato autobiográfico daquilo que a autora viveu na pele: uma violação. Mas desengane-se, quem pense que é apenas mais uma historieta lamechas, cheia de auto-comiseração, escrita por uma mulher a fazer-se de vítima. Nada disso.

A autora consegue fugir do estereótipo de coitadinha, mesmo enquanto conta as partes mais horríveis da sua própria história, como o momento da sua violação e tudo o que a isso se seguiu. Apoiada nas suas memórias e numa boa investigação dos papéis oficiais, Alice Sebold consegue, fazendo um uso escrupuloso de uma fria objectividade, contar o que lhe aconteceu e as respectivas consequências, sem grandes floreados nem liberdades literárias com o intuito de embelezar a história.

Ou seja, Sebold faz aquilo que normalmente é o mais difícil de fazer em livros deste género: distanciar-se da sua própria história, para a poder contar como deve ser, sem se deixar cair em lugares-comuns lamechas, nem em prantos descabidos. A autora recorda o que viveu e passa-o para o papel, sem artifícios nem falsidades nem exageros (pelo que me pareceu, pelo menos).

E consegue isto através de um relato que ganha pontos pela sua simplicidade, mas que consegue transmitir a intensidade daquilo que conta usando essa mesma simplicidade, por vezes crua, por vezes perturbante. É uma história difícil de ler e, suponho, ainda mais difícil de escrever, especialmente nestes termos. O facto de a autora o ter conseguido, deixa-me com curiosidade para ler os seus romances, que já ali tenho à espera, também em inglês, The Lovely Bones (cuja versão traduzida a Arisu já comentou) e The Almost Moon.

Lucky é um livro bem escrito, com uma dura história bem contada, que não se deixa cair em facilitismos lamechas (é sempre bom repetir esta parte da minha opinião, porque é realmente o aspecto mais marcante... conseguir contar uma história destas desta forma, sem se deixar seduzir por exageros melodramáticos que claramente não precisa... é obra!) e que conta o que precisa de contar, mesmo o mais difícil, sem exagerar.

Resumindo, é um bom livro, que só não aconselho a gente mais sensível.