Quando se é um leitor ávido como eu, pode-se tornar complicado estar-se limitado a ler 1 livro de cada vez. Há uma certa frustração em ter dezenas e centenas de livros em casa para ler, e alguns impossibiliões por esse mundo fora, e ter que avançar a um ritmo tão lento. Eu até leio mais depressa que muita gente, ainda que ninguém o diga quando reparar que ando a ler o Silmarillion há coisa de 1 mês, mas continua a ser lento.
Alguém disse um dia que havia demasiados livros para tão pouca vida, ou qualquer coisa do género. E eu não podia estar mais de acordo. Enquanto leitor tenho simplesmente que aceitar que nunca irei ler tudo o que quero. Posso eventualmente chegar a um ponto na minha vida em que penso "bem, já li muito, muito mesmo... posso morrer feliz", mas esse muito será sempre pouco, e esse feliz terá sempre resignação à mistura.
Mas alegrem-se que há gente que consegue ler vários livros ao mesmo tempo! É discutível se essas pessoas chegam de facto a ler mais que pessoas que lêem um de cada vez, ou se não acabam por se dispersar demasiado e não aproveitar nenhuma das leituras que fazem, mas pelo menos de certeza que têm a ilusão de que estão a ler mais.
Seja isso uma coisa boa ou uma coisa má, eu nunca o consegui fazer. E acreditem que já tentei, como acho que toda a gente acaba por fazer eventualmente. Não me lembro de quando, mas sei que não apreciei a experiência. Quando estou a ler um livro gosto de me dedicar a 100% a essa leitura, e ler outra coisa ao mesmo tempo distrai-me demasiado. Portanto, um livro de cada vez tem sido a minha técnica e assim continuará, parece-me.
Bem, mais ou menos. Descobri há pouco tempo que há um tipo muito especial de livros cuja leitura consigo conciliar na perfeição com outro livro qualquer. Graphic novels. E quem diz isso, diz BD's. Sou bastante fã e sempre tive bastante pena de não ler mais desse tipo de literatura. E pelos vistos consigo ler um livro daqueles a que estamos mais habituados e uma BD ou graphic novel sem que as leituras tentem andar à porrada uma com a outra dentro da minha cabeça.
Excelente! Mas agora surge o problema: onde arranjar coisas dessas para ler? Costumam ser bem mais caras que os livros e por cá não há propriamente oferta nem distribuição tão alargada como outros livros. O que sinceramente é uma pena, tenho sempre um aneurisma literário quando vejo 3 edições diferentes do Fifty Shades of Grey espalhadas por todo o lado, e nem sequer vejo um único Watchmen, que é dos melhores livros que já li, por exemplo.
Felizmente sou um indivíduo que até pensa. A minha solução é bastante simples e penso que basta dizer-vos que quem inventou o conceito de biblioteca devia ser canonizado em todas as religiões.
9 comentários:
quem te disse que na tua vida não terias tempo para ler todos os livros que querias foi o metro do saldanha. mais concretamente Almada Negreiros com "Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria."
Eu normalmente também só leio um livro de cada vez...Já cheguei a ler três ao mesmo tempo, mas são situações pontuais. Prefiro concentrar-me numa única história...De qualquer modo acho que o mais importante é desfrutarmos a leitura, que deve ser sempre um prazer e não uma obrigação.
cumps
Sim, claro, desde que a coisa corra bem :)
O dom da multi-leitura foi predicado com o qual alguém se esqueceu de me "abençoar". Também eu leio relativamente rápido e consigo tragar muitas páginas em pouco tempo (dependendo do livro, claro) e tão pouco consigo ler mais do que um livro de cada vez. Como sucederá a muitos leitores, "transporto" comigo durante o dia, em casa ou no trabalho, o enredo da obra que estiver a consumir, sendo que, por sua vez, de alguma forma, esta também me consome e nos alimentamos um do outro. Para mim isso é impossível de ocorrer se lesse dois ou mais livros.
Também penso que não existe vantagem nenhuma em conseguir fazê-lo. Se numa hora ler 70 páginas e tiver duas horas para o fazer parece-me completamente irrelevante que as 140 pág. pertençam a um só livro ou então que sejam 70 em dois diferentes.
O ponto que referes, todavia, tem toda a lógica uma vez que diferentes géneros acabam por não se esbarrar no nosso cérebro, da mesma forma que ver um filme ou tv não interfere com nenhum livro.
:)
Concordo! E já ando a pôr em prática!
Bom, eu há uns anos que comecei a ver isso de ler de uma forma mais tranquila.
Ou seja, eu também me sentia frustrado por ter sempre tantos livros para ler e tão pouco tempo. Cheguei a andar a ler 5 livros em simultâneo. No entanto, um dia parei e pensei no porquê dessa paranóia e foi remédio santo.
Primeiro já não me importuna ter mais de uma centena de livros para ler. Não quero saber. Quando acabo um, lá vou à pilha e decido o que vou ler a seguir.
Depois, comecei a ler apenas 2 ou no máximo 3 em simultâneo e de uma forma muito disciplinada. Nunca são do mesmo género e dedico vários periodos do dia a todos, embora seja inegável que, quando o livro me agarra mesmo, dedico-lhe muito mais tempo em prejuízo dos outros.
Em todo o caso não consigo ler apenas um de cada vez.
Compreendo, e lá está, lês coisas de diferentes géneros e tens alturas específicas do dia para cada um... Não deixas que as coisas se misturem.
Eu leio vários livros ao mesmo tempo, ou leio apenas um, conforme calha, conforme a vontade no momento e nunca dedico o mesmo tempo a todos. Sei que demoro mais tempo a ler os 3 livros que estiver a ler do que se me dedicar a um de cada vez.
Esta "multi-leitura" não tem rigorosamente nada a ver com vontade de ler mais ou mais rápido, simplesmente pego num livro que me apetece ler, e de repente apetece-me ler outro, sem horário, sem regras. E facilmente volto ao anterior. Muitas vezes se prende com questões práticas: estou a ler um calhamaço que não me dá jeito levar para os transportes, pego num mais pequeno, ou no kindle.
Compreendo a nuvem negra sobre as nossas cabeças leitoras "tantos livros, tão pouco tempo", mas não deixo que isso se transforme numa paranóia ou numa obrigação, e me estrague o prazer de ler. Já estou como o Iceman, quando acabar o que estou a ler, logo se vê.
Vejo que é uma opinião partilhada por algumas pessoas... E sinceramente compreendo quando falas desse exemplo de ler um calhamaço, lembro-me perfeitamente de quando li "O Nome do Vento" que só podia ler em casa, nada de levar para a escola, para os tempos mortos!
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