Autor: Aleksandr Blok
Tradutor: Dimíter Ánguelov
Opinião: De vez em quando sabe bem comprar livros por impulso. Passar num sítio e ver qualquer coisa que nos chama a atenção, a custar menos de três euros... É quase impossível resistir! Este livro é um desses casos.
Em Da Ironia estão reunidos cinco ensaios de Aleksandr Blok, poeta russo nascido em finais do século XIX, antecedidos de uma pequena nota biográfica sobre o autor.
A minha pesquisa sobre o autor resume-se à sua página da Wikipédia, mas fiquei a perceber o essencial, que Blok era admirado por alguns vultos da literatura russa e que a sua poesia era bastante valorizada. Além disso o desgraçado do homem foi um idealista que morreu de forma injusta: a autorização para sair da Rússia e receber tratamento só lhe foi dada depois de morrer.
Um homem interessante, sem dúvida. É ao descobrir estas coisas que me pergunto quantas pessoas e obras fascinantes não me estão vedadas pela barreira da língua? Por ler em inglês, além de português, já tenho acesso a uma quantidade simplesmente brutal de livros e de autores, mas nem imagino o que ando a perder por não ler mandarim, russo, grego...
Mas adiante! O conjunto de ensaios aqui reunido transmite uma ideia muito clara de Blok, a de um homem extremamente lúcido, com um óptimo sentido de humor, mas que se debateu com demónios interiores que assimilava do mundo que o rodeava.
No primeiro ensaio, que dá o nome ao livro, são o sentido de humor e a clareza de espírito que mais se destacam, com um texto convenientemente irónico e bastante engraçado sobre (surpresa!) a ironia, a falsidade e a importância do sentido de humor.
É num tom sério mas hilariante, curiosamente parecido com o do humor britânico, que Blok descreve a doença da ironia, as suas causas e as suas consequências nas pessoas e na sociedade, discorrendo brevemente sobre os irónicos.
Nos restantes quatro ensaios há de tudo um pouco: textos sobre o Humanismo, poesia, o povo, a inteligência e uma crítica a uma crítica literária. O fio condutor que une tudo é Blok, os seus ideais e, acima de tudo, os seus medos.
Os defeitos que vê nos outros e as falhas que aponta à sociedade parecem-me ser defeitos e falhas de que ele tinha medo nele próprio. Fiquei com a sensação que o humor nestes ensaios é defensivo, em vez de acusatório, e que o autor se escondeu por detrás da sua escrita para desabafar e tirar pesos de cima dos ombros.
Da Ironia revelou-se um livro inesperadamente interessante e que me deu a conhecer um autor do qual eu muito provavelmente nunca iria ouvir falar, mas que assim conseguiu cativar a minha curiosidade.
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