quarta-feira, 19 de março de 2014

Estantes Emprestadas [3]: Três livros, três imagens [2/3]


Continuando a crónica da Carolina, que já despachou a associação entre um livro que gostou e uma fotografia, hoje é sobre um livro que ela detestou. Neste Sábado podem ler a conclusão, com um livro que não leu!



O livro que não gostei (bolas, era mesmo mau!)

O tema central do desafio que me foi lançado passava por procurar, entre as galerias de fotografias por que ando a vaguear quando tenho um tempinho de sobra, uma imagem que a meu ver caracterizasse um livro. Porquê? Porque se me perguntassem, dir-vos-ia que fotografia é uma das coisas mais fixes do mundo. Daí talvez seja previsível que alguém, conhecendo o meu entusiasmo, tenha achado que eu podia estar interessada n’As Pontes de Madison County, de Robert James Weller, já que uma das metades desta história gira em torno de um fotógrafo.

Mas para ser sincera, depois de me ter sido praticamente impingido, se não fosse tão pequeno... Se calhar nem tinha acabado de o ler. 

As Pontes de Madison County conta a história de um amor súbito e inesperado, e acima de tudo proibido, entre Francesca, mãe e mulher, dona de casa, e Robert Kincaid, fotógrafo. 


Robert não era um fotógrafo qualquer. Era uma espécie de fotógrafo mágico que não dava um passo em falso. Cada movimento, sempre certeiro e seguro, compreendia um vasto conhecimento técnico, um entendimento das formas como a luz cai sobre os objectos, e um apuradíssimo sentido estético. Dominou a arte. Não há acidentes. Sabe usar os rolos certos, focar com exactidão, usar todos os acessórios sem ajudantes, colocar-se no milímetro certo de solo que lhe permite ter a melhor perspectiva do que quer que seja no momento o alvo da sua objectiva. E toda esta perfeição vale-lhe um trabalho na National Geographic – e, para mim, uma personagem desinteressante. 

Francesca não tem muito mais que se acrescente. A breve descrição que dei como introdução é praticamente tudo o que o livro me fez crer que havia para saber acerca da “mãe e mulher, dona de casa”. A única coisa que ficou a faltar é que aparentemente era muito, muito bonita. E é esta personagem que é seguida a maior parte do tempo, muito depois de Robert desaparecer, após a recusa de Francesca de abandonar a família e fugir com ele.

E foi aqui que comecei a ficar verdadeiramente desiludida. Não houve um trabalho cuidado de adornar a história com grandes adjectivos, de trabalhar o cenário mental. E porque não estava a ouvir a prosa de um contador de histórias, mesmo neste livro tão pequeno dei por mim a fazer um esforço para ler à medida que passava os capítulos. E se não bastasse ter em memória este como o livro com a pior escrita que alguma vez li (seja do livro ou da tradução), a história é muito parada, com muito pouco conteúdo, e na verdade nunca cheguei a sentir que sabia o suficiente sobre estas personagens para me envolver na sua história e sofrimento.

Chego a um ponto que não sei de que mais formas vos falar de um livro que me disse tão pouco. No entanto, se penso neste livro penso em Francesca, que apesar de tudo acompanhei, e achei que a imagem a retratava bem.

Fotografia por Alison Scarpulla

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