sexta-feira, 21 de março de 2014

Meia década de QAENCEC

Cá estou eu, cinco anos depois de tudo ter começado. Uma ideia simples da Alice que se tornou num projecto de grande envergadura pessoal. Podia até dizer que escrever para o Que a Estante nos Caia em Cima se tornou no meu primeiro emprego.

Pois é. Quando penso nisso mais a sério, vejo que gasto uma quantidade absurda de horas com isto. Entre escrever, planear, pensar, pesquisar, arrumar, limpar, gerir e sei lá mais o quê, aqui fica um pedaço da minha semana.

Às vezes arrependo-me um pouco. Isto ainda dá trabalho. E já há algum tempo que sinto uma certa responsabilidade para com quem vem visitar. No início era fácil, as opiniões mal passavam de resumos com um "gostei muito!!" no fim, e publicava quando me apetecia.

Mas depois comecei a ter mais visitas e mais seguidores (e poucos comentários, mas já lá vou). A partir de certa altura começaram a haver pessoas que vinham cá com regularidade, que acompanhavam o que eu escrevia, as minhas opiniões e as minhas crónicas. Comecei a sentir, cada vez mais, que além de ser para mim, isto também era para outras pessoas. Principalmente para outras pessoas.

O meu objectivo nunca foi o de ter um sítio para me gabar das minhas leituras, mas sim, tal como ficou acordado com a Alice há meia década, o de ter um sítio para discussão e incentivo à leitura. Como tal, era importante que me passasse a esforçar como deve ser para escrever textos decentes.

Ninguém quer cá vir ler resumos. Ou melhor, eu não quero que isto se torne num repositório de resumos, para que a juventude que é obrigada a ler livros na escola não tenha de os ler. Quero ter opiniões e crónicas interessantes, cativantes e que transmitam aquilo que me vai na cabeça.

E durante uns tempos andei bastante satisfeito. Consegui criar ritmo e actualizar regularmente. Por menos tempo que tivesse, um problema que ainda me aflige, arranjava sempre forma de escrever qualquer coisa para ser publicado quando era suposto. Como tem acontecido nestes últimos tempos.

Só que isto nem sempre foi espectacular para mim. Já tive momentos em que me apeteceu largar o blog e remeter-me à minha vidinha, nariz enfiado nos livros sem me preocupar com ter que escrever uma opinião no espaço de uma semana, para não me esquecer de nada. E sim, já pensei seriamente em fechar o blog e fazer isso.

Ainda agora, que isto anda relativamente encaminhado, me sinto assim. Seja por não conseguir aumentar o número de visitantes diários, seja por ter poucos comentários, seja por achar que perco demasiado tempo com isto, seja por não estar a gostar de como as opiniões andam a ficar, a verdade é que penso em parar, de vez em quando.

Também não me posso queixar muito do número de visitantes, mas confesso que quando passam meses e anos e os números não evoluem de forma positiva, fico um bocado desanimado. A questão dos comentários é mais grave, pois isso aborrece-me mesmo, e não só por aqui mas em toda a blogosfera. A sensação que tenho é a de que há muita gente a ver, mas muito pouca a comentar. E não percebo porquê. Os blogs servem (de uma forma geral) exactamente para a discussão e para a interacção! Onde é que ela anda?

E por aqui gostava realmente de ter mais comentários. É sinal de que as pessoas leram de facto as coisas e que se está a discutir o assunto, seja ele qual for, e isso é importante. Só espero que isso melhore.

Já a questão do tempo, não tenho que lhe fazer. Já consegui arranjar um sistema que funciona mais ou menos bem, que é simplesmente ter coisas escritas armazenadas, que posso publicar em casos de aperto. Agendo com alguma antecedência e não tenho problemas de maior. Perco na mesma tempo a escrever, mas se num estiver lançado e escrever dois textos, já fico com meia semana garantida.

O último ponto é capaz de ser o mais crítico. Não ando a gostar muito das opiniões e crónicas que escrevo. Também não ando inteiramente satisfeito com as outras coisas que escrevo. Sinto que conseguia fazer melhor e que só não faço porque não me empenho como deve ser, e que não me empenho porque "ando desencantado" com o blog.

A questão de desistir levanta-se nessas alturas: quando isto já não me dá o prazer e a satisfação que deu durante anos. E nunca sei muito bem se os grandes blogs literários que por aí andam, com várias publicações por dia, cheios de passatempos e parcerias e publicidades e seguidores me motivam ou me desmotivam. Se por um lado acho que os devo combater, por serem banais e efectivamente desnecessários na sua grande maioria, pois limitam-se a repetirem-se uns aos outros, por outro não consigo evitar sentir-me sufocado no meio disto. Quem é que me vai ler?

Essa pergunta insiste em aparecer-me em frente, e tenho sempre respondido que "há aí pessoal interessado e que se mantém activo e presta atenção". E também penso sempre em outros bloggers que sigo e admiro, os que se mantêm fiéis aos seus objectivos simples de divulgação e discussão literária, pouco interessados em terem um número suficiente de seguidores para começarem a receber livros de borla. Enquanto houver pessoas assim, vale a pena.

É assim que após cinco anos, cá ando, mais ou menos motivado. Se tiveram paciência para lerem o texto todo (coisa que também rareia, pessoas com paciência para lerem mais do três ou quatro parágrafos magrinhos), já sabem o que penso. Se quiserem um resumo que vos poupe a coisas como "sentimentos", o essencial é que me vou esforçar activamente para escrever melhores opiniões e melhores crónicas, e que gostava mesmo muito de ter mais visitantes e, acima de tudo, mais comentários.

A quem me segue, quem me lê e quem comenta, obrigado. Por tudo.

8 comentários:

Célia disse...

Olá Rui,
Eu pouco comento, mas leio sempre o que escreves. E este é um dos blogues que mais gosto de seguir, precisamente porque tem uma identidade, não se limita a publicar a mesma coisa que tantos outros.
Em relação a questão das visitas/comentários, tem tudo a ver com as nossas expectativas e aquilo que desejamos que o nosso blogue seja. Não vou mentir, agrada-me ter comentários, porque é uma forma palpável de perceber que as pessoas leram o que escrevi. Contudo, não haver comentários não quer dizer que as pessoas não leiam. Por vezes não há muito tempo, noutras não há simplesmente muito a acrescentar. Eu não tenho tempo para comentar em todos os blogues que leio, por isso só o faço quando acho que tenho alguma coisa de relevo a dizer. Boa parte dos posts que publico também não têm comentários, mas isso deixou de me afetar pelo simples facto de que percebi que estou a escrever para mim, acima de tudo. Gosto de partilhar opiniões e de, eventualmente, ajudar alguém que tenha dúvidas relativamente a algum livro, mas a principal motivação para escrever coisas sobre tudo o que leio é manter um registo, ordenar ideias, praticar a escrita do português e estruturar pensamentos. Percebi que é o que funciona melhor para mim, depois de alguns períodos em que tive vontade de fechar o blogue, em que fiz pausas, em que andei um pouco à procura de rumo.
Portanto, se algum dia decidires deixar de escrever aqui, compreenderei mas terei pena por achar que este blogue traz valor acrescentado à blogosfera literária portuguesa ;)

Sara disse...

Compreendo o que dizes em relação aos comentários...Também tenho um blog e apesar de o número de visitas ser razoável ás vezes passam-se dias sem um único comentário o que é desmotivante, especialmente quando tivemos tanto trabalho a preparar um post. É provável que o pessoal não tenha tempo para comentar ou ache que não tem nada de valor a acrescentar. Em blogs literários só comento em textos cujo tema me interessa ou em opiniões sobre livros que já li. Não vale muito a pena comentar só para dizer “ai que giro” ou “vou já comprar esse livro”…A maior parte das vezes o número de visitas e comentários não corresponde à qualidade do blog. Acho que o problema está logo no início do texto: encarar o blog com um trabalho. Acho que não se encarar isso com um trabalho ou obrigação…Ler à força só para postar e agendar e não sei que... estraga um bocado a piada. Infelizmente, vejo muitos blogs literários fechar precisamente porque as pessoas acabaram por ficar sobrecarregadas. Devemos escrever em primeiro lugar para nós, afinal é o nosso espaço. Se não nos apetece escrever sobre um determinado tema porque havemos de o fazer? Claro que tem que haver alguma preocupação com o que escrevemos, mas… Eu gosto do teu blog e sigo-o com regularidade, seria uma pena se decidisses fecha-lo…Já agora parabéns pela meia década :)

Cumps!

Ana/Jorge/Rafa disse...

Que sentimentais que estamos :P muitos parabéns a um dos blogs que mais admiro e que me incitou a copiar a iniciativa à descarada há 2 anos e tal e começar o meu :)

Passando a fofura, que até parece mal, eu pessoalmente acho que os comentários são óptimos se acrescentarem algo, mas acho que comentários que só dizem algo como já foi referido acima não merecem a pena e, mesmo que não sejas o vulto de peso que outros blogs têm, tens algo mais importante, que é um projecto que transpira o que és, para o bem e para o mal (mas principalmente para o bem :P)

E ter algo com identidade vale sempre a pena, sobretudo quando sei que nunca vais vender esses ideais ;)

Votos de mais meia década de sucesso!

Jorge
(Embora ache que toda a equipa do Metáfora se reflecte nas minhas palavras)

Rui Bastos disse...

Para começar, muito obrigado aos 3. É bom ver que há gente que se importa :)

Vou tentar responder aos três, que disseram coisas parecidas.

A questão dos comentários é puro desejo de interacção: o blog foi criado exactamente para criar discussão e gerar interacção, coisas que escasseiam pela nossa blogosfera, na minha opinião. E acho que já faz falta.

É claro que é impossível comentarmos em todos os blogs que lemos, não há tempo, paciência, nem palavras suficientes para tudo. Eu percebo isso perfeitamente, que também não comento tanto como gostaria. Mas é a história do costume: se toda a gente comentar qualquer coisa uma vez por dia, é a loucura!

Isto para dizer que percebo o porquê de ter poucos comentários, mas que gostava que isso mudasse. Sejam os próprios bloggers a facilitar isso (com perguntas, temas mais abertos a discussão, enfim, conteúdo mais interactivo), ou os leitores a fazerem um esforço (sem esquecer que é impossível andar a comentar tudo, claro!)

Célia, compreendo o que dizes e penso um bocado assim, mas confesso que há qualquer coisa num canto do meu cérebro que me diz que estou a escrever para os outros, com o intuito de informar e dar a conhecer. Como disse ali em cima, de criar discussão! Interacção!

E acrescento ainda que essas tuas palavras me deixam bastante satisfeito, pois o teu blog foi um dos primeiros que comecei a seguir e que muito admiro.

Sara, quando eu digo que este blog para mim é como ter um emprego, digo-o no melhor dos sentidos possíveis. Não sinto propriamente uma obrigação e fico aborrecido com isso, antes pelo contrário... Acredita que no dia em que começar a escrever puramente por obrigação, largo isto.

Mas eu gosto mesmo de escrever para o blog, e continuo a ler o que me apetece. Tornou-se parte da rotina escrever a opinião para publicar, gerir o blog, mas tornou-se tão parte do meu dia como tomar o pequeno almoço. É um projecto de que me orgulho muito e que nunca me deixa com remorsos!

Jorge, you thief, o facto do blog transpirar o que sou era outro dos objectivos (quando foi criado, de transpirar o que éramos). Já há demasiados blogs a fazer publicidade e a copypastar coisas uns dos outros, este tinha que se diferenciar de alguma forma, ser único e manter-se interessante à custa dos nossos (agora meus) textos. Ainda bem que isso continua a passar, seria outra coisa que me faria desistir, era isto tornar-se apenas em mais um blog!

Once again, obrigado aos 3!

Anónimo disse...

Oh Rui, continua a publicar as tuas opiniões. Maior parte das vezes - já to disse - os teus gostos são bem diferentes dos meus, mas isso não impede que os leia.

É na divergência de opiniões que evoluímos...

Quanto aos comentários, tens que perceber que existem posts que são fracturantes/fraturantes e que levam a que toda a gente queira comentar. Outros são mais "chatos" porque toda a gente concorda contigo.

Abraço, continua o bom trabalho...

Rui Bastos disse...

Continuarei... Em princípio.

É exactamente essa divergência de opiniões que eu gosto de encontrar!

Dos comentários, pronto, resigno-me... Mas gostava de ver a coisa a evoluir, confesso.

Um abraço e muito obrigado!

SMP disse...

Ando há uma data de dias para comentar este teu post, e só hoje é que consegui!

Em primeiro lugar, acho que não deves tentar inferir demasiado do facto de não teres muitos comentários. No meu caso pessoal, antigamente comentava praticamente tudo o que lia nos blogs que seguia regularmente; hoje só comento quando tenho alguma coisa de realmente novo a trazer ao que o autor do post escreveu. Posso até gostar muito do texto, mas se o que tenho para exprimir é só isso, acabo por não dizer nada (não sendo adepta do FB nem sequer me resta o Like para tais casos).

Além disso, nos dias de hoje quase toda a gente usa Feed Readers, o que também desincentiva um tanto os comentários.

Isto posto, sigo atentamente o teu blog e - escusado será dizer - gostava que continuasses a escrevê-lo. Todavia, por experiência própria (já tive vários blogs) sei que a relação de um blogger com o "público" (mesmo que um público restrito) é uma dinâmica complexa, e que há fases da nossa vida em que não estamos para aí virados. Eu reabri o Parceiro Pensador há uns meses, mas vejo agora que cedo demais - acabo por só escrever um post de três em três meses. Lá ficará para quando tenha vontade de me pôr novamente out there...

Acabei de ler um comentário teu no Horas Extraordinárias :).

Rui Bastos disse...

Pois, eu percebo isso, mas gostava realmente que houvesse mais interacção. Só fazia bem à blogosfera! Mas pronto, já percebi que tenho que pensar menos nisso e mais em escrever conteúdo decente :)

Em princípio por cá continuarei a debitar as minhas opiniões. Acertaste foi na mouche, quanto à relação de um blogger com o público... É complicado!

Obrigado :)