sábado, 2 de agosto de 2014

A saga Mistborn


Não sei quando foi a primeira vez que vi o nome de Brandon Sanderson. Muito provavelmente foi na capa de um volume de A Roda do Tempo, série épica que o autor continuou depois da morte de Robert Jordan.

Eventualmente lá me aconselharam a leitura da trilogia Mistborn. As pessoas que o fizeram quase que idolatravam Sanderson. Em parte desconfiado, em parte curioso, acabei por ceder. Devia tê-lo feito mais cedo!

Li o primeiro livro relativamente rápido, tendo em conta que estava em pleno semestre de aulas. A escrita é viciante, directa e simples, mas não simplista. As personagens criadas por Sanderson eram boas de uma forma geral e a história completamente cativante.

Uma receita de sucesso! Fiz uma pausa e li o segundo livro, ainda mais depressa, e depois de uma nova pausa, acabei o terceiro num instante. Mas o que me raio me agradou tanto nesta trilogia?

O menos importante por agora, mas que eventualmente se vai tornar na minha grande motivação, é o facto dos seus livros estarem todos situados no mesmo universo, a que ele chama Cosmere. Há personagens e conceitos que se repetem sem que isso fique explícito nos livros. O que é fantástico!

É óbvio que ainda não senti muito isso, pois li apenas três livros pertencentes ao mesmo mundo, mas tenho a certeza que com o avançar das leituras me vou deixar fascinar por esse aspecto.

Outro factor, este já bastante importante, é um surpreendente espírito prático: as acções têm consequências, um conceito que Sanderson aplica ao enredo, às personagens e ao próprio sistema de magia que criou.

No enredo isto aplica-se a uma evolução muito directa e muito viva das situações e do mundo com as acções dos protagonistas e dos vilões. Matar alguém não é um acto leviano, mas sim algo que tem sempre consequências.

Nas personagens isso vê-se pelo facto de nenhuma parecer muito segura. Não é tão gritante como em Martin, mas nenhuma personagem está propriamente a salvo. Os protagonistas apanham enxertos de porrada, morrem, e nem sempre isto acontece de forma muito pacífica.

O sistema de magia, por fim, faz uso desse conceito de uma forma muito inteligente, com uma abordagem quase científica. Se alguém tem o poder de empurrar alguma coisa, tem que conseguir ter um apoio suficiente para não ser ele próprio empurrado para trás, por exemplo.

Tudo isto teve muita influência. São detalhes não tão pequenos quanto isso que contribuem para um mundo mais bem construído, mais interessante e mais vívido. Mais realista, apesar de tudo.

Já o tom apocalíptico que dominou a série a partir do segundo livro, de forma progressivamente mais intensa, foi um bónus. Perto do final do terceiro, a saga era já sobre um mundo em fim de vida, em risco de acabar de forma espectacular. Mas Sanderson conseguiu aproveitar muito bem todos os arcos narrativos para culminar num final (moderadamente) satisfatório.

O que é outra coisa muito positiva. Pormenores do primeiro livro são explicados no último e fizeram-me pensar retroactivamente no que já tinha lido até ali. As pessoas iam encaixando à posteriori, e às vezes nem sabia que eram peças ou que precisavam de encaixar em algum sítio.

Ou seja, o autor conseguiu criar uma das melhores sagas de Fantasia dos últimos tempos, e que não tenho dúvidas se tornará um clássico, apesar da relativa jovialidade com que lida com os assuntos. Leitores mais hardcore vão-se queixar de alguma falta de seriedade e profundidade, mas eu digo para terem juízo. Isto não é Tolkien, nem é suposto ser. É Sanderson, e é bom!

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