sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Cidade Suspensa


Autor: Penim Loureiro


Opinião: A capa intrigante, boas opiniões que tinha ouvido, e um preço simpático. Foram estas as três razões que me levaram a comprar este livro na Feira do Livro. Não sabia minimamente ao que ia, e posso desde já dizer que até estava à espera de uma coisa, e encontrei outra, sem que isso tenha diminuído o quanto gostei do livro.

O ponto principal, quem discordar que me desculpe, é a arte. O traço de Penim Loureiro é fantástico, de uma mestria subtil que não deixa nada ao acaso e que conta tanto, ou até mais do que as palavras que a acompanham.

Também há pormenores excelentes, uma excelente noção de como contar uma história, e um excelente aproveitamento de Portugal e colectivo imaginário lusófono, mas é a arte que brilha, em todo o esplendor, com o virar de cada página.

Até porque o enredo é, digamos... mehzito. Tem interesse, e é uma boa exploração semi-autobiográfica do percurso do autor, bem enredada na História e Cultura portuguesa, com aparições da Passarola e menções a D. Sebastião, azulejos, a cidade de Lisboa um bocadinho por toda a parte e até uma menção a As Horas de Maria, um filme do grande António de Macedo (caro Penim Loureiro, pontos a dobrar, ou a triplicar, por isso!). Mas no entanto nunca me cativou por aí além. Talvez por causa da forma desapaixonada com que a história é contada, pelo menos na parte escrita.

Este parece-me ser daqueles livros que tinha beneficiado de ter menos narração e menos diálogos, para dar mais espaço aos desenhos e às cores. Basta folhear o livro e escolher os momentos mais marcantes e mais excepcionais: são, quase todos, apenas imagens sem narração nem diálogo. A força do autor está na construção da narrativa gráfica, e embora o resto esteja bom, não óptimo, mas bom, é mesmo a arte que acaba por triunfar.

E isto vindo de um autor que me era um completo desconhecido, assim como o será para a maior parte dos leitores, parece-me. O facto da sua actividade enquanto autor estar maioritariamente circunscrita ao início dos anos oitenta, este Cidade Suspensa é um excelente convite para o ficar a conhecer, algo que acho que toda a gente devia fazer.

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