sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O Diabo e Eu


Autor: Alcimar Frazão


Opinião: Sabem o que se faz quando se encontra um livro excelente? Aquela vontade de pular e de reler e de folhear e de contar a toda a gente o quão espectacular é o livro, e tudo isso? Sabem o que é que eu fiz quando acabei este livro?

Nenhuma dessas coisas.

Tinha alguma esperança, pois a arte é muito boa, e a história é uma daquelas que faz parte da nossa mitologia moderna: um acordo faustiano entre o Diabo e um músico, para que este último tenha talento e sucesso para dar e vender.

Todas as dicas, do título ao prefácio, indicam que é exactamente essa a história que vai ser contada. Mas nem por isso. Em vez disso acompanhamos o protagonista durante a sua infeliz, em que vê a sua mãe ser forçada a prostituir-se, ganha um alcoólico abusador como padrasto, e é miserável de uma forma geral.

Não que não seja uma história interessada e carregada com os seus próprios simbolismos: também há uma espécie de acordo feito com uma espécie de Diabo. Mas este livro é basicamente um pecado capital das personagens interessantes: uma história de origem desnecessária.

Da mesma forma que explicar de onde vem o Joker, e o porquê de ele ser como é, lhe tira força enquanto vilão e enquanto personagem, por nos tentarem fazer sentir empatia por uma personagem que é suposto deixar-nos perturbados, também esta história de origem nos vai obrigar a ver o protagonista sobre outro ponto de vista completamente diferente. O que não é bom, neste caso.

Safa-se a arte, que é realmente impecável, e é uma pena que o autor tenha escolhido uma via tão banal, com uma arte tão excepcional e um argumento com algum potencial.

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