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segunda-feira, 20 de julho de 2015

O Baile


Argumento: Nuno Duarte
Arte: Joana Afonso


Opinião: As expectativas sempre foram boas. Boa(s) capa(s), um argumento de Nuno Duarte, argumentista de A Fórmula da Felicidade, e desenhos de Joana Afonso, uma das artistas que mais me tem fascinado nos últimos tempos. A história promete ser sobre zombies e a PIDE. Venha ela!

A primeira coisa a confirmar-se é que a arte é de facto fenomenal. Um traço meio de cartoon, muito expressivo, ligeiramente exagerado e, acima de tudo eficaz. As personagens transmitem emoções e sensações com a cara e a linguagem corporal, com facilidade, e os cenários em pano de fundo funcionam muito bem.

O argumento não é a ideia mais original e bem pensada de sempre, mas está sem dúvida bem escrito. Algo de que gostei muito foi que apesar do protagonista ser exactamente um agente da PIDE, a história foca-se pouco nisso, ou na ditadura, que não passa nunca de simples pano de fundo, contexto histórico. O que é interessante são os zombies na pequena vila piscatória (um sítio irónico para uma história tão lovecraftiana), e é isso que ocupa a maior parte do tempo de antena.

Enquanto livro, o maior defeito, para mim, é mesmo o facto de ser tão pequeno. Esta história podia ter durado mais, podia ter contado mais coisas. Não que esteja mau como está, porque não está, mas mesmo assim pareceu-me apressado, embora tenha que fazer a ressalva que isso pode ter sido fruto da minha leitura rápida e não do próprio livro.

É que as personagens são sem dúvida boas, assim como a reviravolta, que me conseguiu surpreender, mas fica a faltar qualquer coisa. Mais conteúdo... Deixem-me explicar. A sensação com que fiquei foi a de que tudo o que li/vi era enredo. Ou seja, não houve tanto espaço para caracterização das personagens, dos espaços, do contexto, para criar empatia com o leitor. O Baile é uma história sempre a direito, o que não é necessariamente mau, e neste caso é apenas não tão bom quanto poderia ter sido.

Resumindo, é um bom livro, que precisava de uns retoques e de mais páginas, com um argumento bom e uma arte muito boa, e que merece, sem dúvida, ser lido, especialmente por quem diz que autores portugueses não escrevem/desenham nada de jeito.

sábado, 13 de junho de 2015

Feira do Livro 2015 e os Impérios do Mal


Bem-vindos! Os mais distraídos ficam a saber que não só a Feira do Livro já começou, como está prestes a acabar! Há anos em que até costumo avisar e fazer publicidade e isso tudo, mas isto está cada vez mais complicado... Portanto ficam com este aviso para lá passarem entre hoje e amanhã, que já não é mau.

Vamos agora às queixas. Isto da Feira do Livro é uma coisa muito engraçada, com cada vez mais editoras (e a Chiado, também), e gosto de lá ir comprar livros e tudo, mas aquilo é uma desgraça autêntica. Um tipo olha para o mapa e fica com vontade de chorar: bastam três grupos editoriais para preencher quase metade da Feira. Porto Editora, Presença, e o Império do Mal por excelência, a Leya.

Análise de mercado não é propriamente uma das minhas especialidades, mas parece-me óbvio que isto não é bom. Ainda por cima quando é fácil de perceber a falta de escrúpulos destes grupos. São autênticos Golias empresariais que sugam pobres Davids para dentro da sua estrutura livreira e os reconvertem às suas práticas. Uma espécie de Romanos ao contrário.

"Bah, estás a exagerar!"

Ai estou? Digam-me onde anda a colecção azul de FC da Caminho? E os Saramagos sem capas ridículas? E os Argonautas? Onde? Nos alfarrabistas?

Pois é.

E estes são só os casos de que me lembro. E não serão os últimos. Acreditem em mim, isto só vai piorar. Os afluentes editoriais destes Impérios do Mal parecem continuar relativamente independentes, mas não se deixem enganar. Mais dia menos dia e tornam-se indistinguíveis uns dos outros.

(e vou ignorar completamente o facto da Chiado ter uma das maiores zonas da Feira, nem sequer ter na ideia que alguém considera aqui alguma coisa, eu não a deixava ir para lá, ainda para mais para ter aquela caixa ridícula de "deixe aqui o seu manuscrito")

Enfim. Vamos deixar estas coisas para outra altura e passar a falar de livros. Reparem outra vez na foto lá de cima e observem as minhas fantásticas compras. Quero que comecem por notar nos três volumes de História das Ciências que comprei por dois euros cada, e que validam o meu certificado de nerd até ao próximo ano. Depois reparem no King Kong, que me custou outros dois euros, e que valida o meu certificado de geek até ao próximo ano.

Agora o bicho que mais se destaca: A Voz do Fogo, de Alan Moore, que só me custou cinco euros e para o qual me ando a babar há anos. Nem vou comentar, venha ele!

O que sobra? Algo que me deixa muito orgulhoso: quatro livros de autores portugueses, sendo que dois são BD's! Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa vai-se tornar um clássico, não tenho dúvida alguma, e portanto não podia deixar de o ter nas minhas estantes. O Batalha, do David Soares, era olhado com expectativas altíssimas, e agora com umas expectativas mais baixas, mas ainda é um livro deste autor que sempre me deixou interessado. Fábula cuja protagonista é uma ratazana ateia? É que falamos bem.

Por fim, Cidade Suspensa, de Penim Loureiro, e O Baile, de Nuno Duarte e Joana Afonso. O primeiro livro tem um ar fantástico e promete recorrer ao imaginário Fantástico português de uma forma que me deixa muito curioso, e o segundo, enfim, vem das mãos de um dos meus argumentistas portugueses preferidos, e é ilustrado por uma das minhas artistas portuguesas preferidas. É que mal posso esperar!

E com isto tudo, não comprei um único livro que tenha custado mais de dez euros. O total nem chega aos cinquenta! Provavelmente ainda vou comprar mais qualquer coisa (Afonso Cruz, estou a olhar para ti), mas não gasto muito mais.

Da vossa parte, não se deixem intimidar pelas Impérios do Mal e ataquem. Passem na Feira do Livro e percam tempo a procurar e a folhear, que encontram-se coisas muito, muito boas.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crumbs - An anthology of delicious comics by portuguese toast makers


Argumento: André Oliveira, Fernando Dordio, David Soares, Mário Freitas, Pedro Cruz, Francisco Sousa Lobo, Nuno Duarte, Joana Afonso, Ana Matias, Zé Burnay
Arte: André Pereira, Afonso Ferreira, André Caetano, Bernardo Majer, Pedro Serpa, Sérgio Marques, Pedro Cruz, Francisco Sousa Lobo, Osvaldo Medina, Inês Galo, Joana Afonso, Ricardo Venâncio, Zé Burnay


Opinião: Este livro começa bem logo com esta capa (e contracapa) fantástica de André Pereira e Afonso Ferreira. O tamanho também é qualquer coisa, e se o objectivo era chamar a atenção, bem, sucesso!

Agora, o que já não começa tão bem é logo a premissa. Pelo menos à partida, quando soube que era um livro inteiramente de autores portugueses, mas em inglês, fiquei de pé atrás. Aquele sentido de patriotismo linguístico veio ao de cima e barafustei um bocado mentalmente contra a ideia.

Mas compreendo a escolha. Crumbs é um livro com um propósito muito específico, o de apresentar e representar lá fora o que de melhor se faz por cá. Faz sentido que seja inteiramente em inglês, portanto deixei passar essa resmunguice.

A única coisa que faltava era o livro convencer-me, com a sua qualidade, de que valia a pena. A citação de Cebulski que vem na contracapa, sobre a verdadeira identidade dos autores portugueses de banda-desenhada é verdade, e isso bem aplicado podia originar aqui um livro tremendo. Infelizmente, não é o caso. Já passo à opinião específica de cada uma das histórias, mas fiquem já com a ideia de que ficam aquém. Muito aquém, na generalidade.

E o problema que vejo é exactamente a diversidade de estilos que Cebulski louva. Não que isso seja intrinsecamente mau, mas não é fácil conjugá-los todos numa antologia, que pede o mínimo de coerência. Ainda por cima se o livro fosse em português, talvez não se notasse, mas não sendo, até esse elemento de "portugalidade" se perde, e o resultado são inúmeras histórias completamente diferentes umas das outras. O resultado final é um livro pouco coeso, um bocado all over the place.

Mas vamos lá ver cada uma das histórias. A primeira é Light Bearer, de André Oliveira e André Caetano, que sofre do mesmo mal que sofre Palmas para o Esquilo e que tanto me chateou: arte e argumento não contam exactamente a mesma história, pelo menos não da mesma maneira, e não estão interligadas de forma normal. É um problema pessoal, que não gosto mesmo nada disso, porque acho que se perde muito ao separar as duas coisas em vez de se fazer um esforço para as integrar e usar uma para reforçar a outra. No entanto, e focando-me principalmente na arte, conta uma história interessante e tem um final curioso e inesperado que me agradou.

Depois veio Tunnels, de Fernando Dordio e Bernardo Majer, que tem a premissa curiosa de ilustrar uma música, nomeadamente a Tunnels dos Arcade Fire, e os autores conseguem fazer com que funcione, de uma forma estranha, aleatória e abstracta. Mas não é o meu estilo, e portanto não apreciei devidamente. Já para não falar da arte, da qual não gostei, demasiado simplista e viciada (as caras são todas iguais...).

The Boar-man is getting married, or Leng T'che, de David Soares e Pedro Serpa, tem uma das melhores artes e uma das piores histórias (se é que havia uma) do livro. Volta a aparecer a separação entre escrita e desenhos que me aborrece de morte e tira todo o interesse à história. É uma boa leitura, mas apenas graças à arte de Pedro Serpa, ainda que confesse que a ideia, que deve ter sido 100% do David Soares, é bem porreira!

Em Orwell, the Soviet Cat, é a vez de Mário Freitas, o organizador da antologia, apresentar uma história desenhada por Sérgio Marques. E não tenho muito a dizer para além de "bom título, boa arte, história assim assim". Depois de ler esta história fiquei plenamente convencido que todas as histórias pecam por serem tão pequenas!

Young Enlil goes to Hell, de Pedro Cruz, é um grande cliché em forma de BD, com um final super estranho e que serve mais como "trailer" e publicidade do que outra coisa, e que, portanto, não me agradou minimamente.

A história seguinte, The Green Pool, de Francisco Sousa Lobo, conseguiu algo extraordinário: uma premissa interessante, uma história interessante, um bom argumento e uma arte porreira, que tudo junto dão origem a uma BD mediana. Não sei o que se passou, mas suspeito que, lá está, esta história precisasse de mais espaço para se desenvolver.

Uma das histórias mais interessantes foi definitivamente Low Battery, de Nuno Duarto e Osvaldo Medina, que tem uma boa ideia e uma arte muito boa. Peca um pouco pela forma ligeiramente idiota como se desenvolve, mas é uma boa história que consegue ter um final interessante, apesar do diálogo meio ranhoso, de vez em quando.

Depois há Hanging Garden, de André Oliveira e Inês Galo, com uma boa arte e uma boa história... Se ignorarmos completamente a narração. É outra BD moderna com uma separação entre escrita e desenhos, mas que consegue contar uma boa história. Aliás, uma história muito boa, que perde muito do seu peso por causa da péssima narração que a acompanha.

Um problema que não aflige Joana Afonso, em Ick!, que tem uma das melhores artes do livro, e um dos finais que menos me agradou, apesar de ter uma história bastante interessante. Foi das poucas histórias que conseguiu realmente adaptar-se ao formato e mostrar algo interessante sem cair em idiotices.

In Clouds, de Ana Matias e Bernardo Majer, tem uma certa inocência infantil na forma como conta a história. Os desenhos não são maus, embora sejam de um estilo que não me agrada particularmente, mas a vertente mais infantil dá-lhe outra graça.

Já quase no final, aquela que deve ter sido a minha BD favorita, Omega, de Nuno Duarte e Ricardo Venâncio, que tem bons desenhos, uma excelente história, e um final muito interessante. É uma boa abordagem à escrita, especialmente à escrita de BD, e à forma como é fácil um autor ficar preso a uma personagem, ou a um Universo. Muito bom.

Só tenho pena que para terminar tenha sido escolhido Walpurgis 77, de Zé Burnay. Ou melhor, que tenha aparecido de todo nesta antologia, porque isto não é BD, são desenhos semi-aleatórios, uma história à là Chilli com Carne sem interesse nenhum e que não me fascinou de nenhuma forma. Uma autêntica pena.

Como podem ver, não foi uma má leitura. Até foi bastante boa, tendo em conta que são portugueses a escrever em inglês para apresentar o que de melhor se faz por cá. Só que pronto, tem alguns pormenores que resultam dos autores se perderem, de certa forma. É fácil ficar preso no meio de "tenho de ser diferente!" e "preciso de impressionar" e "modernismo, modernismo, modernismo", e muitas destas pequenas BD's sofrem disso mesmo, o que é uma pena e faz desta uma leitura mediana.

Mas louvo o esforço, o trabalho, a concretização e o resultado final. Apesar da qualidade ficar aquém, é bom ver alguém a mexer-se e a apresentar iniciativas da forma que Mário Freitas e todos estes autores o fazem, e por isso, estão de parabéns.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Estantes Emprestadas [14] - Canibalismo literário (mais ou menos)


Sabem aqueles amigos que vocês têm perfeita de que são loucos? Também tenho disso. Apresento-vos a Alexandra Rolo, também conhecida por Pantapuff, dona do blog Folha em Branco e culpada frequente de se ver envolvida em vários projectos de milhentas áreas.

Um deles foi a Oficina de Escrita a que pertenço, e foi assim que a conheci. Se eu era o sanguinário do grupo, aqui a Alexandra era a minha second in command nesse departamento. Vocês nem fazem ideia. Infelizmente, já há uns tempos que ela deixou de contribuir com contos para as sessões, mas de vez em quando ainda se digna a aparecer, principalmente se houver bolo envolvido.

Tendo em conta esta descrição, eu devia ter logo percebido que me ia arrepender de a convidar para participar nas Estantes Emprestadas. Sem mais demoras, passemos à pergunta dela, e depois à minha resposta. Obrigado Alexandra! (E raios te partam!)

P.S.: Aqui fica a resposta dela, e umas palavrinhas minhas quanto a isso.

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Tu és sádico e dado a coisas com um bocadinho de sangue... se tivesses de fazer uma refeição estilo Hannibal Lecter, que personagens (e que partes) usavas e porquê?


Eu não disse que me ia arrepender?  Mas vamos lá, isto vai ser engraçado. Ia começar por me queixar de que não há praticamente nada que eu possa dizer em resposta a isto, mas... Fui ver a lista das opiniões aqui do blog e tenho aqui vinte e dois links que posso mencionar. Estou honestamente impressionado.

Comecemos pelas batotas, que são a maior parte dos links. Podia usar personagens de Fórmula da Felicidade, que são animais antropomórficos, assim as de Maus, ou então algumas das de A Quinta dos Animais ou do mundo de Alice no País das Maravilhas, que são literalmente animais. Isto poupava-me bastante trabalho, mas era desonesto, e corria o risco de repetir a história de Philip K. Dick, Beyond lies the wub.

Portanto não o vou fazer. Mas posso usar batotas mais sofisticadas. Como por exemplo dizer que me tornava num vampiro ou num zombie, e a minha resposta passava a ser "qualquer uma que estique o pescocinho" ou "BRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAINS". Aliás, esse tipo de coisas até está bastante na moda, diga-se de passagem...

Mas também era batota, e não quero ir por aí. Até por o canibalismo tem as suas vantagens em várias obras de ficção. Pessoalmente, não me importava mesmo nada de ter a habilidade cibopática de Tony Chu, de ver as memórias de alguém, ou algum animal, que coma. E no universo negro de Joe Abercrombie, há toda uma espécie de seita com poderes praticamente sobrenaturais que ganham após comerem carne humana. Vantagens, é o que eu digo!

Nham nham
Enfim, tenho que parar de divagar e de fazer publicidade a opiniões antigas aqui no blog, e responder realmente à pergunta, não é? Seja. Mas vou fazer uma pequena batota na mesma. Sim, sim, vou sim, e não quero saber.

Ora bem, vou precisar que fiquem com quatro (conjuntos de) obras em mente: The HobbitParque Jurássico, a Saga Bubu do Dragonball e Lovecraft. Confusos? Óptimo.

A (não tão) pequena batota (quanto isso), é que a parte do canibalismo a que a Alexandra quer chegar, vai ser ligeiramente distorcida. E as três personagens que vou de facto incluir na refeição, são especiais. Mas imaginem o que era comer um bocadinho de carne de Smaug, de dinossauro, ou de uma das entidades cósmicas de Lovecraft? Ah! Carne de dragão deve ser qualquer coisa, e então carne de dragão inteligente com a voz do Cumberbatch... Um petisco!

O livro não tem nada a ver com o título, infelizmente...
Os dinossauros eu sei que não são bem personagens, mas até que são, e eu seria o primeiro na fila para dar uma trinca em carne de dinossauro, porque eu gosto assim tanto de dinossauros.

(Não achavam que eu ia ser amigo de alguém como a Alexandra sem ser eu próprio um bocadinho louco também, pois não?)

As entidades cósmicas do Lovecraft seriam uma categoria à parte. Se calhar nem tinha que as comer literalmente a elas, que seres capazes de criar objectos e cidades inteiras com geometrias não-euclidianas, devem fazer um tesseracto de lasanha do caraças. Ou então comida fractal! Se bem que isso já existe, e chama-se "sandes", porque se cortarmos uma sandes ao meio, as "meias-sandes" são na realidade sandes mais pequenas. Quanto mais cortarmos, mais sandes temos, em ponto mais pequeno. Ah!

Perdoem-me o desvio. Vamos ao canibalismo, então? É aqui que peço ajuda ao Bubu do Dragonball, e à sua capacidade de tornar as pessoas em doces. Tecnicamente é canibalismo, e caía mesmo bem depois duma refeição de dragão, dinossauro, entidades cósmicas e/ou tesseractos e fractais comestíveis. Toma esta, Alexandra!

Gelado de pessoas, alguém quer?
Vá, vou ser simpático e escolher algumas personagens para transformar em doces. Alguém como o Wolverine era o ideal: imaginem um doce com capacidade de regenerar. Uma tablete de chocolate que voltava a ficar inteira depois de cada trinca. Chocolate infinito!

De resto só se forem personagens mesmo muito desagradáveis, das quais me quisesse ver livre. E de momento não me ocorre nenhuma. Raios parta. Mas já escrevi muito, considera-te satisfeita, Alexandra! Agora diz tu de tua justiça. E vocês que estão a ler isto com ar horrorizado, façam favor, também!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Que as citações nos caiam em cima [28]


"Devia limitar-me a ser o que esperam de mim. Ficar quieto no meu estado de autismo privilegiado e indulgente. Só que a vida a sério não é como nos livros ou nos filmes. Aqui, vacilamos e reagimos, consoante o que estamos a sentir. Aqui tornamos cinzento o que devia ser branco ou preto. Agimos com coragem, mesmo sendo cobardes, usando todos os meios ao nosso alcance, sem medir bem as consequências de tais actos. Sem perceber que a felicidade de uns é o maior pesadelo de outros. E que no fim todos ficamos sozinhos?!"

Victor, em A Fórmula da Felicidade #1
Nuno Duarte

domingo, 12 de maio de 2013

A Fórmula da Felicidade #2

Título: A Fórmula da Felicidade #2

Argumento: Nuno Duarte
Desenhos: Osvaldo Medina
Cores: Gisela Martins, Ana Freitas, Patrícia Furtado, Sara Ferreira e Filipe Teixeira
Legendagem: Mário Freitas

Sinopse: Servindo-se da fórmula matemática da felicidade que um dia brotou da sua imaginação, Victor tornou-se numa espécie de santo com personalidade e tiques de diva da pop.

Usando este estatuto, o outrora simplas e virtuoso rapaz de província é agora uma celebridade amoral e mega-mediática, a quem nenhum capricho é negado.

Todavia é num mundo à beira de um cataclismo bélico que sombras do passado o farão reavaliar as suas prioridades, em busca daquela que será a sua redenção e a sua própria fórmula da felicidade...

Opinião: Depois de um fantástico primeiro volume, seguiu-se um fantástico segundo volume. Passaram-se 3 anos desde que Victor descobriu a fórmula da felicidade, e a história é agora um pouco mais negra e depressiva.

De costas viradas para o mundo, Victor perdeu todas as noções de moral e é agora uma estrela a nível mundial, com um estranho fetiche por bater em prostitutas. Leva uma vida fácil, com direito a tudo o que quer, rios de dinheiro e mulheres sempre a postos a baixarem as calças e a apanharem umas pancadinhas não tão suaves quanto isso.

E tudo isto em troca de ocasionais leituras da fórmula da felicidade. O interessante neste livro é ver como uma personagem capaz de gerar felicidade instantânea se tornou em alguém infeliz e amargurado, incapaz de sentir algo para além de tristeza e depressão, nos intervalos da sua apatia quase cruel.

Com ilustrações do mesmo nível, este volume tem um argumento mais negro por ser uma história do "depois". A história podia ter acabado no final aberto do primeiro volume, mas este livro vem continuá-la, mostrando as consequências da descoberta da fórmula da felicidade. Curiosamente, ou não, nenhuma dessas ditas consequências é propriamente boa.

As pessoas estão viciadas na fórmula, que já só é dita a pessoas ricas que paguem bem por ela. Isto leva a que as classes mais baixas se revoltem por lhes ser vedada a oportunidade de serem felizes, mesmo que seja uma felicidade temporária e genuína apenas na medida em que é vazia de significado e tudo menos duradoura. Com a fórmula, as pessoas tornam-se felizes sem razão aparente, aquilo a que eu chamo "palermas entretidos". Não é de estranhar que a felicidade dure pouco, pois não significa nada!

E no meio disto tudo Victor, o centro das atenções, provavelmente a pessoa (cão?) mais influente da história, com as prioridades trocadas e cada vez mais farto da sua vida. Excepcional. As personagens são expressivas e mais humanas que algumas pessoas que conheço, a história não tem grandes requintes nem complicações, é simples e relativamente linear, conseguindo ter uma grande força sem se esforçar muito. Os desenhos são óptimos e o conjunto é genial.

Não falo só deste volume, tudo isto se aplica também ao primeiro. Em suma, A Fórmula da Felicidade é, no seu conjunto, uma das melhores BD's que já tive o prazer de ler.

sábado, 11 de maio de 2013

A Fórmula da Felicidade #1

Título: A Fórmula da Felicidade #1

Argumento: Nuno Duarte
Desenhos: Osvaldo Medina
Cores: Ana Freitas, Gisela Martins, Jorge Coelho
Legendagem: Mário Freitas

Sinopse: Filho de uma vendedora hippie de marijuana e de um pedaço de vinil de um álbum de Jimmy Hendrix, a vida de Victor, um jovem génio enterrado algures no Baixo-Alentejo, ganha um novo alento quando descobre a fórmula matemática da felicidade.

É entre o mito e a verdade da sua figura que se apercebe que é mais fácil oferecer felicidade do que obtê-la. Começa aqui a jornada de descoberta de um deus em potência que, na realidade, quer ser apenas um homem comum.

Opinião: Uma fábula dos tempos modernos. É assim que vejo este livro. Todas as personagens são animais antropomórficos, e tudo se processa exactamente como se fossem humanos. Não conhecia o livro, mas a capa convenceu-me. Tem ali umas derivadas e uns integrais, e uns números imaginários, e funções de onda... E um cão de óculos.

Pois bem, como devem imaginar, não sabia o que esperar deste livro. Pareceu-me interessante, ou pelo menos intrigante, pela capa. Mas a história de Victor, o génio menosprezado que descobre a fórmula matemática da felicidade, é muito mais do que isso.

Começando por mostrar a sua infância complicada, com uma mãe com problemas e um pai que nunca conheceu, Victor era gozado pelas outras crianças e ocasionalmente apanhava porrada. O seu único retiro era a matemática. As contas, as equações, os números. Era a única coisa que o segurava e lhe dava alguma paz. E desde cedo que demonstrou que não só tinha amor à matemática, como um jeito natural.

Não é portanto de estranhar que anos mais tarde faça um curso mais depressa do que era suposto e seja professor, vivendo apenas para a matemática. Apático e sem rumo, tenta ignorar todos os sentimentos e vive cabisbaixo e derrotado pela própria vida. A única coisa que lhe anima os dias é a matemática.

Mas a sua vida toma um novo rumo quando descobre a fórmula matemática da felicidade. Se a história já estava interessante até aqui, com as emoções latentes em cada personagem e acontecimento, a partir daqui foi a loucura. A noção de existir uma fórmula matemática que quando lida por Victor leva as pessoas à felicidade instantânea é fantástica. A forma como o mundo reage a isso é ainda mais fantástica.

Victor vai espalhando felicidade, até praticamente toda a gente andar atrás dele para que ele diga a fórmula. É aí que as coisas se complicam. A felicidade dada pela fórmula não é duradoura, e passado algum tempo as pessoas querem mais. Ficam viciadas. A felicidade induzida pela fórmula de Victor torna-se num vício, mostrando que algo tão desejado como a felicidade se pode tornar num pesadelo: basta tê-la e perdê-la para sentirmos um vazio e uma necessidade doentia de voltar a sentir aquela emoção.

Ao longo das poucas, mas suficientes, páginas deste primeiro volume, Nuno Duarte leva-nos numa viagem entre a fábula, a parábola e a metáfora, ilustrada de forma excepcional e estranhamente expressiva, tendo em conta que as personagens são animais antropomórficos. Achei este livro muito bom, uma BD que tem a Ciência como causadora de felicidade, e em como isso é das piores coisas que podia ter acontecido. Só lendo!