Mostrar mensagens com a etiqueta Tony Chu. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Tony Chu. Mostrar todas as mensagens

sábado, 2 de janeiro de 2016

Enfarda Brutos (Tony Chu - Detective Canibal #3)


Argumento: John Layman
Arte: Rob Guillory
Tradução: Filipe Faria


Opinião: Há coisas na vida que valem a pena. Entre as minhas favoritas estão aquelas coisas tão parvas que se tornam geniais. Como certos filmes de série B que já nascem praticamente como paródias de si próprios, mas que se revelam autênticos rasgos de génio.

Tony Chu não é bem assim, mas anda lá perto. O espírito é exactamente o mesmo que o desses filmes de série B: nem sequer há a mínima preocupação com fazer sentido, as coisas são assim e pronto, e é tudo tão absurdo e exagerado que dói.

No entanto tudo acontece de forma tão convicente e segura, que é impossível não levar a sério. Não tenho dúvidas que se vos explicar minimamente a história - que inclui canibais psíquicos, um implacável galo assassino, fruta alienígena que sabe a frango, híbridos de rãs e frangos, um polícia com meia cara cibernética e muito, muito mais - a primeira coisa que vocês vão dizer é “isso é ridículo, estúpido e não faz qualquer sentido”.

E sabem que mais? Não vão estar errados. Nenhum dos elementos individuais desta saga faz o mais pequeno sentido. Quando se começam a juntar, as coisas começam a ficar ridículas muito depressa. Eu próprio, ao ler a sinopse, pensei “que estupidez”.

O que acontece é que o conjunto, neste caso, é realmente maior do que a soma das partes. Eu não sei bem como, mas John Layman consegue criar um argumento coeso e consistente, com um enredo cativante e um ritmo fantástico. De tal forma que pela terceira vez acabo um livro da saga e tenho vontade de simplesmente virar a página e descobrir o que acontece.

A arte do cliffhanger está quase perdida, mas este tipo domina-a na perfeição. Ainda para mais apoiado na arte de Rob Guillory, entre o cartoon e o realista, com liberdade para expressar muito bem todas as emoções e pensamentos das personagens ao mesmo tempo que mostra momentos verdadeiramente tocantes e/ou sangrentos de forma credível.

Uma das melhores coisas nos desenhos é que são de extremos, ora extremamente limpos e relativamente vazios, com poucas fontes de distracção, ou estão populados de tantos detalhes e pormenores, muitas vezes em segundo plano, que é preciso fazer uma pausa na leitura para absorver tudo.

As revelações feitas neste volume em particular são difíceis de digerir - perceberam, perceberam? - especialmente a final, que ainda por cima é acompanhada de um momento emocional muito forte, ainda que discreto, e que muito me agradou. E mais uma vez, como já disse, fica quase tudo em aberto até ao próximo volume, que vou esperar com alguma ansiedade. Era tão fácil simplesmente perguntar ao Tio Google o que raio se vai passar…

Mas tenho de ser forte. São poucos os Universos ficcionais que merecem este tipo de auto-controlo da minha parte, por isso se querem uma atestado de qualidade, aqui o têm!

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sabor Internacional (Tony Chu - Detective Canibal #2)


Argumento: John Layman
Arte: Rob Guillory
Tradução: José Hartvig de Freitas


Opinião: Há tanta coisa incrível a acontecer neste livro que nem sei por onde começar. As habilidades especiais relacionadas com comida continuam a aparecer - e são geniais. Uma personagem regressa com melhoramentos cibernéticos e faz algo inesperado e chocante que nunca ninguém vai adivinhar até ver o que é. E as dicas de arcos narrativos e personagens ainda por descobrir continuam a empilhar-se umas nas outras.

Vejamos. Tony Chu, o detective canibal que tem visões do passado daquilo que come, continua na sua heróica demanda de, simplesmente, viver sossegado. Mas um trabalho árduo, e frequentemente nojento, um parceiro esgrouviado, um chefe impossível de aturar, um irmão irresponsável e montes de peripécias que insistem em cair-lhe no colo, o homem não tem a vida fácil.

E é incível a quantidade de manigâncias em que é possível ele envolver-se por casa de frango. Seja um fruto que sabe a frango ou um galo de luta desaparecido, tudo é possível. Já mencionei o vampiro e o cozinheiro que fala através da comida que cozinha?

Pois é. Caríssimos, isto é uma leitura leve, engraçada, silly até, mas não é de todo uma má leitura. Antes pelo contrário. O argumento desenvolve-se bem, a arte integra-se bem, e ambas as coisas conseguem ter um delicado equilíbrio entre o humor mais visceral e as cenas mais negras e dramáticas. Um regalo para os olhos e para a imaginação.

A mim fascina-me particularmente que alguém tenha conseguido criar um mundo tão parecido com o nosso, e ainda assim tão diferente, com ideias tão simples e originais. Pode não ser a primeira coisa em que se repara, mas há aqui verdadeira genialidade imaginativa. Só por isso já vale a pena acompanhar, mas a história é genuinamente interessante, e as várias pontas já deixadas soltas apenas cativam mais e mais. Ou seja: mal posso esperar pelo próximo volume!

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Estantes Emprestadas [14] - Canibalismo literário (mais ou menos)


Sabem aqueles amigos que vocês têm perfeita de que são loucos? Também tenho disso. Apresento-vos a Alexandra Rolo, também conhecida por Pantapuff, dona do blog Folha em Branco e culpada frequente de se ver envolvida em vários projectos de milhentas áreas.

Um deles foi a Oficina de Escrita a que pertenço, e foi assim que a conheci. Se eu era o sanguinário do grupo, aqui a Alexandra era a minha second in command nesse departamento. Vocês nem fazem ideia. Infelizmente, já há uns tempos que ela deixou de contribuir com contos para as sessões, mas de vez em quando ainda se digna a aparecer, principalmente se houver bolo envolvido.

Tendo em conta esta descrição, eu devia ter logo percebido que me ia arrepender de a convidar para participar nas Estantes Emprestadas. Sem mais demoras, passemos à pergunta dela, e depois à minha resposta. Obrigado Alexandra! (E raios te partam!)

P.S.: Aqui fica a resposta dela, e umas palavrinhas minhas quanto a isso.

------------------------------------

Tu és sádico e dado a coisas com um bocadinho de sangue... se tivesses de fazer uma refeição estilo Hannibal Lecter, que personagens (e que partes) usavas e porquê?


Eu não disse que me ia arrepender?  Mas vamos lá, isto vai ser engraçado. Ia começar por me queixar de que não há praticamente nada que eu possa dizer em resposta a isto, mas... Fui ver a lista das opiniões aqui do blog e tenho aqui vinte e dois links que posso mencionar. Estou honestamente impressionado.

Comecemos pelas batotas, que são a maior parte dos links. Podia usar personagens de Fórmula da Felicidade, que são animais antropomórficos, assim as de Maus, ou então algumas das de A Quinta dos Animais ou do mundo de Alice no País das Maravilhas, que são literalmente animais. Isto poupava-me bastante trabalho, mas era desonesto, e corria o risco de repetir a história de Philip K. Dick, Beyond lies the wub.

Portanto não o vou fazer. Mas posso usar batotas mais sofisticadas. Como por exemplo dizer que me tornava num vampiro ou num zombie, e a minha resposta passava a ser "qualquer uma que estique o pescocinho" ou "BRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAINS". Aliás, esse tipo de coisas até está bastante na moda, diga-se de passagem...

Mas também era batota, e não quero ir por aí. Até por o canibalismo tem as suas vantagens em várias obras de ficção. Pessoalmente, não me importava mesmo nada de ter a habilidade cibopática de Tony Chu, de ver as memórias de alguém, ou algum animal, que coma. E no universo negro de Joe Abercrombie, há toda uma espécie de seita com poderes praticamente sobrenaturais que ganham após comerem carne humana. Vantagens, é o que eu digo!

Nham nham
Enfim, tenho que parar de divagar e de fazer publicidade a opiniões antigas aqui no blog, e responder realmente à pergunta, não é? Seja. Mas vou fazer uma pequena batota na mesma. Sim, sim, vou sim, e não quero saber.

Ora bem, vou precisar que fiquem com quatro (conjuntos de) obras em mente: The HobbitParque Jurássico, a Saga Bubu do Dragonball e Lovecraft. Confusos? Óptimo.

A (não tão) pequena batota (quanto isso), é que a parte do canibalismo a que a Alexandra quer chegar, vai ser ligeiramente distorcida. E as três personagens que vou de facto incluir na refeição, são especiais. Mas imaginem o que era comer um bocadinho de carne de Smaug, de dinossauro, ou de uma das entidades cósmicas de Lovecraft? Ah! Carne de dragão deve ser qualquer coisa, e então carne de dragão inteligente com a voz do Cumberbatch... Um petisco!

O livro não tem nada a ver com o título, infelizmente...
Os dinossauros eu sei que não são bem personagens, mas até que são, e eu seria o primeiro na fila para dar uma trinca em carne de dinossauro, porque eu gosto assim tanto de dinossauros.

(Não achavam que eu ia ser amigo de alguém como a Alexandra sem ser eu próprio um bocadinho louco também, pois não?)

As entidades cósmicas do Lovecraft seriam uma categoria à parte. Se calhar nem tinha que as comer literalmente a elas, que seres capazes de criar objectos e cidades inteiras com geometrias não-euclidianas, devem fazer um tesseracto de lasanha do caraças. Ou então comida fractal! Se bem que isso já existe, e chama-se "sandes", porque se cortarmos uma sandes ao meio, as "meias-sandes" são na realidade sandes mais pequenas. Quanto mais cortarmos, mais sandes temos, em ponto mais pequeno. Ah!

Perdoem-me o desvio. Vamos ao canibalismo, então? É aqui que peço ajuda ao Bubu do Dragonball, e à sua capacidade de tornar as pessoas em doces. Tecnicamente é canibalismo, e caía mesmo bem depois duma refeição de dragão, dinossauro, entidades cósmicas e/ou tesseractos e fractais comestíveis. Toma esta, Alexandra!

Gelado de pessoas, alguém quer?
Vá, vou ser simpático e escolher algumas personagens para transformar em doces. Alguém como o Wolverine era o ideal: imaginem um doce com capacidade de regenerar. Uma tablete de chocolate que voltava a ficar inteira depois de cada trinca. Chocolate infinito!

De resto só se forem personagens mesmo muito desagradáveis, das quais me quisesse ver livre. E de momento não me ocorre nenhuma. Raios parta. Mas já escrevi muito, considera-te satisfeita, Alexandra! Agora diz tu de tua justiça. E vocês que estão a ler isto com ar horrorizado, façam favor, também!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Ao Gosto do Freguês (Tony Chu - Detective Canibal #1)


Argumento: John Layman
Arte: Rob Guillory
Tradução: José Hartvig de Freitas


Opinião: Divertidíssimo até ao tutano, este primeiro volume de Tony Chu é uma boa revelação. Comprado quase por impulso, durante o Fórum Fantástico, valeu completamente a pena!

Vejamos: detective canibal num mundo em que a gripe das aves teve um impacto ainda maior do que no nosso, e o departamento policial de controlo da comida se torna no mais agressivo e badass que existe. Vamos lá.

Os (apenas) nove euros para a edição fantástica que é, de capa dura e com qualidade, ajudaram bastante à compra, mas pareceu-me genuinamente engraçado. Os desenhos são meio cartoonescos, o que chama logo a atenção, e basta passar os olhos por meia dúzia de páginas para ver como está recheado de sillyness. O que é bom, bastante bom!

Há alguns problemas de tradução, como querer dizer o mais recente, de the latest one, e dizer o último. Até dói. Mas nada demasiado grave, pelo menos... A nível de enredo, só há duas coisas que, vá, me fizeram espécie: uma das personagens a mencionar a determinação do protagonista em encontrar o irmão, quando isso nunca acontece nem sequer é mencionado como possível história paralela. O tipo parece pura e simplesmente não se importar, durante a maior do tempo.

E depois há o planeta alien. Muito estranho. Nem sei o que dizer.

Mas tirando isso, sim senhor, um humor cinco estrelas, uma ideia original, esta da cibopatia, de ter impressões psíquicas de tudo o que se come - excepto, obviamente, de beterrabas - e um detective que aproveita essa capacidade para resolver crimes, tendo frequentemente que dar umas trincas em coisas mortas, invariavelmente em estados avançados de decomposição, com o ar mais nojento de sempre. Ah, e ocasionalmente são coisas humanas.

Nada como um vilão relativamente estereotipado para animar a festa, no entanto. Ou melhor, nem é bem um vilão, é mais um justiceiro de meia tigela com a mania que pode fazer o que muito bem lhe apetece em nome da sua própria versão do bem e do mal. Não deixa de ser interessante, até porque é uma personagem enorme, extremamente ágil e hábil com armas, sempre impecavelmente vestido e com uma forma de falar peculiar.

Em tudo contrastante com Chu, um desmazelado que só quer sossego e paz para as vítimas. É interessante ver a evolução da forma como esta personagem lida com as suas capacidades e com o potencial que elas têm para aquilo que faz, combater o crime.

No fim, o humor, muitas vezes puramente visual, é muito recompensador... Além de que se trata de um detective canibal. O que é que pode correr mal com isto?