sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Laranja Mecânica


A obra maior de Anthony Burgess, "A Laranja Mecânica", mergulha-nos num mundo onde a violência é banal, e vista como o entretenimento óbvio para os adolescentes durante a noite. O aspecto mais proeminente neste livro, é o facto do narrador, o "humilde" Alex, narrar em "nadescente", que é o calão usado pelos adolescentes daquela altura, com carradas de palavras inventadas pelo autor, que foi buscar inspiração às várias gírias inglesas, ciganas, e línguas russas e eslavas. Aí tenho que destacar o belíssimo trabalho do tradutor, José Luandino Vieira, que conseguiu manter a história minimamente legível.

Claro que essa língua, o "nadescente", torna o livro numa leitura complicado, ao início. O glossário torna-se o nosso melhor amigo, e o nosso mais odiado conjunto de páginas. Mas ao fim de algum tempo habituamo-nos. E quando nos habituamos, ficamos presos à história. O narrador, Alex, um aficionado por música clássica, especialmente Beethoven, sai com os seus drucos (amigos) todas as noites para se divertir. Claro que esse divertimento envolve espancamentos, brigas, violações, e muito sangue, mas era o divertimento deles. E de todos os adolescentes.

Mas um dia Alex é apanhado pela polícia, e depois de dois anos na prisão é submetido a um tratamento de choque que o faz repudiar tudo o que seja violência. Basicamente obrigaram-no ao Bem. E isso, clara, levanta questões. Será um homem ainda um homem, se não tem livre-arbítrio? Existirá sequer um livre-arbítrio? Será que não é a mesma coisa um homem ser forçado a praticar o Bem, e um homem que escolhe praticar o Mal? Eu cá acho que: não, sim e sim. O livre-arbítrio existe definitivamente, um homem sem ele não é homem não é nada, e é a mesma coisa eu escolher praticar o Mal, e forçarem-me a praticar o Bem. São ambas acções completamente erradas, e embora a primeira seja erro meu, a segunda completamente imoral, e nem sequer devia fazer sentido a sua hipótese.

Todo o livro é muito forte, muito violento, e especialmente arrepiante, é a naturalidade com que a violência é descrita. Alex descreve os actos de violência praticados como algo belo, esplêndido, magnífico, quase como uma arte. Tudo isto em "nadescente" o que dá uma nova profundidade ao livro. Um... ante-final (?) inesperado, e um final um bocado estranho e um bocado... desmancha-prazeres, mas mesmo assim um grande livro.

1 comentário:

Caroline Rodrigues disse...

Tão bom quanto sua versão cinematográfica de 1971!