sábado, 3 de julho de 2010

Géneros Literários (1) - As Bases


Se perguntarem a um professor de português quais são os géneros literários, ele diz-vos, com muita calma e serenidade, que são o dramático, o lírico e o narrativo. E é exactamente a partir daí que eu quero começar.

Ao contrário do que muita gente pensa, os géneros literários, por excelência, não são as categorias em que se inserem os tipos de livros. Tem a ver com a forma, e não o conteúdo.

Isto é como quem diz que em vez de se avaliar a história em si, avalia-se a forma em que está escrita. E, partindo desse pressuposto, criou-se uma divisão, que já remonta à Antiguidade, aos nossos amigos Platão e Aristóteles, em três géneros, acima mencionados: o género dramático, o lírico e o narrativo.

E é dentro destes três géneros, que, agora sim, se acabará por avaliar o conteúdo, e se dirá se são livros de terror, fantasia, ficção-científica, etc. De notar, no entanto, que acima destes três géneros-base, ainda existem dois "domínios": ficcional e não-ficcional. Ou seja, os textos dramáticos, líricos ou narrativos, podem todos ser ficcionais ou não-ficcionais.

Bem, adiante. Embora se distingam os géneros, há, obviamente, pontos em comum entre eles. Todos eles são influenciados pelas personagens, pelo espaço e pelo tempo, sendo até eles que, por vezes, definem a categoria do texto/livro. Mas levanta-se agora uma questão. Se até têm pontos em comum... Porque é que se distinguem? O que é que os faz diferentes uns dos outros? Eu sei que agora pode parecer uma pergunta meio-parva... Afinal, toda a gente que saiba ler sabe distinguir um poema de uma peça de teatro e de um romance. Mas pergunto-vos: formalmente, o que é que os distingue?

O mais fácil de distinguir é o género lírico, que vem normalmente em verso (nem sempre!), e que se foca principalmente na beleza das palavras e na melodia das frases, não se preocupando tanto com o contar uma história, característica base para os outros dois géneros. Géneros esses que também não dificultam muito a distinção, diga-se. Os textos dramáticos são aqueles que são escritos para serem representados e, para esse efeito, têm certas particularidades que o distinguem da narrativa, embora ambos os géneros sejam normalmente escritos em prosa, como o nome das personagens antes das suas falas, as descrições detalhadas dos ambientes (que são poucos, normalmente), bem como indicações entre parênteses sobre as reacções das personagens, a famosa didascália.

Sobra-nos, portanto, o género narrativo, ou, como algumas pessoas o conhecem, o texto corrido. Este género foca-se essencialmente em transmitir tudo ao leitor através da escrita (ao contrário do género dramático, que tem como objectivo as dramatizações), e que normalmente não explora a musicalidade das palavras de uma forma tão intensa como o género lírico. É, no fundo, o tipo de texto mais comum, no qual este post (e todos os outros, acho) se inserem.

E pronto, são estas as bases, os pilares sobre os quais assentam todas as outras categorias, e que eu não posso deixar de referir, se quero que o resto, daqui para a frente, faça algum sentido.

6 comentários:

Célia disse...

Muito bom, Rui.
Vou continuar a seguir estas tuas crónicas com muita atenção, não só porque me interessa muito, mas porque admiro a tua "paciência" para construir textos tão interessantes sobre este tema ;)

Rui Bastos disse...

Muitíssimo obrigado! Espero corresponder às tuas expectativas :p

E a paciência... "Quem corre por gosto, não cansa", e este é exactamente o tipo de coisas que eu adoro =D

Ana C. Nunes disse...

Boas descrições que poderão esclarecer muito boa gente.
Eu pessoalmente só fiquei confusa cuma altura com um livro que é suposto ser poema (lírico), mas que está escrito como "texto corrido" (narrativo), o que me deixou algo surpreendida. Agora não me lembro do nome do livro, mas fiquei intrigada.

Rui Bastos disse...

Obrigado ^^

Irei falar desse tipo de textos num dos posts, daqui a uns dias, mas sim, são essas coisas que mais promovem a confusão nos leitores :p

Tiago Mendes disse...

Bom começo... como já disse no outro post, continuarei a seguir com atenção ;)

Rui Bastos disse...

Obrigado ;)