Um assunto delicado: o preço dos livros em Portugal.
Se compararmos o preço de um livro no nosso país e noutro (em que se dá mais valor à leitura) como por exemplo no Reino Unido, a diferença é tão grande que até pensamos ser impossível, mas a verdade, é que um romance comum com cerca de 400 páginas, em Inglaterra custa cerca de cinco libras, ao passo que em Portugal pode custar-nos entre quinze a vinte euros.
Estou mal informada quanto às razões pelas quais os nossos livros são tão caros, mas a causa, passa muito provavelmente pelo facto de em Portugal ainda se ler pouco.
É também verdade que os hábitos de leitura no nosso país crescem de ano para ano, o que pode também ser uma consequência do fenómeno que eu apelidarei de livros-de-supermercado.
De há uns anos para cá as grandes superfícies passaram a ter uma secção dedicada à literatura, onde se vendem (mais baratos do que nas livrarias) os livros mais recentes e best-sellers. Claro que o facto de termos à disposição uma pequena livraria no supermercado, faz com que as pessoas parem para dar uma vista de olhos, quando provavelmente nunca iriam a uma livraria de propósito para comprar um livro, seja isto por falta de interesse ou de tempo. Para além de os livros também serem mais baratos nas grandes superfícies, o que leva mais facilmente um português afectado pela crise a comprar um livrinho para se entreter nas férias.
Bom, mas com isto só quero chegar à conclusão do seguinte: o facto de os livros serem bastante caros no nosso país é uma consequência da pouca leitura que aqui se pratica, mas a pouca leitura é também uma consequência do preço dos livros.
E por isto - e acho que falo por todos os leitores - quando digo ser imperativo que os livros em Portugal sejam consideravelmente mais baratos, ou que as bibliotecas sejam mais divulgadas. Porque se um livro barato não faz com que o consumidor o queira comprar, pelo menos ajuda muito.
12 comentários:
Há um factor determinante para que os livros sejam muito mais caros em Portugal: pelo facto de as tiragens serem muito mais pequenas (mas muito mesmo), o custo unitário terá de ser, invariavelmente, maior. Nos EUA ou no Reino Unido conseguem praticar preços mais baixos porque fazem tiragens de muitos milhares de livros, o que permite que eles saiam mais baratos - nas edições paperback, porque as hardcover não são assim tão mais baratas (às vezes até são mais caras). Para além disso, não contam com os custos de tradução, por exemplo. Isto é válido para explicar uma boa parte dos preços caros em Portugal, mas cai tudo por terra com os livros do José Rodrigues dos Santos ou do Miguel Sousa Tavares, que têm tiragens muito maiores que o livro "comum" e não têm custos de tradução. Aí são só as editoras a quererem aproveitar-se do sucesso destes autores...
Eu diria que os livros são caros para os leitores compulsivos como nós, que compram muitos livros. Para um comprador ocasional, não ficaria muito mais barato, por exemplo, comprar um livro por mês, do que fumar um maço de tabaco por dia? É tudo uma questão de prioridades... ;)
Obrigada pelo esclarecimento ;D
Acredito que em Portugal, se lê muito e acredito que se gostasse de ler mais ainda, mas não posso concordar com a Célia, quando ela fala dos tradutores, que (infelizmente) são os que menos ganham com todo este negócio.
As pessoas em Portugal, não têm dinheiro para que a comida chegue ao final do mês, quanto mais poder dar-se ao luxo de comprar uns livritos.
além de as tiragens serem menores é obvio, existem muitos grupos editoriais como o enorme monstro que é a Leya, que come tudo e practicamente não deixa nada.
dou o exemplo da revista sábado que volta e meia publica livros por um euro que são printados em, espanha, e não me venham com a desculpa que têm menos 5 cm para cada lado e que as letrinhas tiveram de ser encolhidas. afinal de contas quanto custa um livro????
talvez a pergunta deva ser feita à maior grafica a trabalhar com a maioria das editoras em Portugal, a Peres-Soctip S.A. (o custo aproximado de um Dan Brown é de 4 Euros) é verdade 4 Euros.
Rio das Flores de Miguel Sousa Tavares, continua nos 29 Euros ao fim de 6 anos de ter sido lançado.
Asim não! não são os Portugueses que não gostam de ler, não são os tradutores que cobram milhares, não são as baixas tiragens que inflacionam os preços.
não precisarei de ir ao Reino-Unido, bastará ir aqui ao lado onde o valor do IVA na cultura é mais baixo. e também vem de fora, também se paga a traduçao.
é bom que se começe a pensar um pouco mais nisto, o pão é comida para a boca, os livros são comida para o espirito, são essenciais, para o desenvolvimento pessoal e de todo um povo.
enquanto em Portugal S.A. continuarmos só a alimentar uns quantos o povo irá continuar a não gostar de ler.
gostei bastante deste artigo. muito obrigado.
Caro Nuno,
Quem tem gosto pela leitura, lê de qualquer modo, ganhe muito ou ganhe pouco. Existem as bibliotecas, os livros em 2.ª mão, as várias colecções a preços muito convidativos (como a que referes, da revista Sábado). O problema é precisamente fazer com que as pessoas tenham gosto pela leitura.
Eu não consigo fazer a correspondência directa entre poucos rendimentos/livros caros - fracos índices de leitura, porque acho que o problema é muito mais profundo e passa por uma questão de mentalidades. Julgo que na nossa sociedade, principalmente nos valores que os pais passam para os filhos, ainda falta que a leitura seja mostrada como algo positivo.
Concordo com o facto de os tradutores não levarem a principal fatia do bolo, mas dei esse exemplo apenas para exemplificar um custo que não existe nas edições originais em inglês. Mas não podemos esquecer uma coisa: as editoras são empresas, e não ONG. Como leitora, dava-me bastante jeito que os livros fossem mais baratos, mas compreendo que é o negócio deles e que tentem obter o máximo lucro. Era o que eu faria se tivesse uma editora. Poder-se-ia dizer que o Estado poderia intervir de modo a regular o preço dos livros e a tornar a cultura mais acessível a todos, mas trabalho numa empresa pública que é obrigada a limitar os preços praticados por imposições estatais e tem um buraco que nunca mais acaba, por isso acho que o sector editorial deve funcionar numa normal economia de mercado.
Como já disse, acho que a questão do preço dos livros "chateia" particularmente leitores que gostam de comprar e ter os seus livros, em grandes quantidades. Felizmente, posso comprá-los, mas se não pudesse iria arranjar alternativas para continuar a ler. ;)
Falsa questão. Se fizerem uma pesquisa pelos sites das editoras (da Presença por exemplo) encontram centenas de títulos a preços bastante mais baixos que nas livrarias físicas e com portes ridículos, por vezes gratuitos. Façam o teste.
Olá Célia uma vez mais.... ou a célia não vive em Portugal S.A. ou então tem uma visão um pouco deturpada da realidade social deste nosso cantinho, ou melhor (e ainda bem para si)que a sua situação económica lhe permite pensar dessa forma.
não corcordo com a sua opinião quando diz que quem gosta de ler; lê; "ganhe muito ou ganhe pouco" não entrando em números lhe digo que adoro livros é quase um vicio,e que tenho sérias dificuldades em lhes resistir, mas quando penso que já lá vão 3 meses e a minha mulher não recebeu ordenado... e quando penso que a minha empresa só os consegue pagar lá para dia 12 ou 13, penso então com terror que tenho uma filha com 18 meses para dar de comer, vestir pagar colégio etc... etc... a isso junto a casa o carro, etc... etc... a agua a luz... etc... etc... (todas as aquelas "despesazitas" que toda a gente tem, quando realmente olho para o que me sobrou... penso que ainda possa dar para comprar este ou aquele livrito que adio todos os meses, mas volto a lembrar-me que à minha filha (não a mim) pode dar uma dor de barriga e depois???
o mercado livreiro teria muita sorte se fosse apenas eu que estivesse nesta situação, mas parece que é geral! e acredite que é verdade, existem milhares e milhares de compatriotas. seria de muita petulância da minha parte julgar que sou o único que gosta de ler.(esta é a minha opinião!)
como leitor e comprador compulsivo e creio que como eu existe tb. muita gente, Bibliotecas??? prazos de entrega??? o sentimento de pocessão para com o livro???
quando diz que não consegue fazer correspondência directa entre rendimentos e livros, talvez seja bom pensar nisto.
Quanto aos valores a passar para os filhos, é outra história, quem não tem habitos de leitura é natural que não os transmita aos seus, mas as coisas vão mudando "muito lentamente" e ainda bem.
mas os hábitos de leitura vão-se adquirindo aos poucos, não se passa a gostar de um dia para o outro e muito menos se nos for impingido ou mesmo obrigado.
quando um aluno que não tem hábitos de leitura chega ao 12º ano e lhe é ordenada a leitura de um memorial atrofiante é natural que não goste é pouco provavél que o faça por prazer ou mesmo por iniciativa própria, estamos a falar de "crianças" com 18 anos, acredite que existem coisas bem melhores do que ler um livro.
a responsabilidade começa nos pais e em casa Sim! mas cada livro a seu tempo, cada assunto a seu tempo, devagar, devagarinho o espirito de leitura é semeado e acredito que no futuro dê os seus frutos.
Uma vez mais reafirmo que cabe ao estado, por cobro a esta roubalheira! e incentivar através de inúmeras iniciativas que poderemos ter desde o jardim escola a ensinar às crianças o valor dos livros, primeiro com histórinhas, depois com aventuras de lhes tirar o folego e que os façam sonhar, e depois então venha o resto. mas claro, quanto mais caro melhor, ganham as grandes editoras ganha o estado em impostos, perde o povo em cultura.
ouvi dizer à muitos anos que quanto mais um povo lê, mais um povo sofre.
sinceros cumprimentos.
Estive recentemente em França e tive a oportunidade de visitar livrarias e constatei que os livros (praticamente só se vende livros de bolsos) são extremamente baratos em relação aos de Portugal. Por exemplo, "Os Pilares da Terra" de Ken Follett em livro de bolso tem um custo aproximado de 12€ (em Portugal o 1º volume custa 20,19€ e o 2º 25,24€ dá um total 45,59€); a série "True Blood" de Charlaine Harris custa cada livro aproximadamente 9€. Por cá cada livro custa 18,02€.
Dizem que se lÊ pouco em Portugal, o que é mentira, cada ano que passa há mais pessoas a ler. Já as editoras têm lucros estrondosos, por exemplo na venda de livros de autores portugueses como o caso de Miguel Sousa Tavares e José Rodrigues dos Santos.
Nós leitores também somos roubados tal como o Governo rouba ao povo portugues.
É de facto verdade que as pessoas em Portugal estão a ler cada vez mais, na verdade a percentagem de pessoas que lê livros no nosso país é de 25%, ou seja, um em cada quatro portugueses lê pelo menos um livro por ano.
Mas não há dúvida que o preço dos livros ajudaria bastante a uma maior aderência à leitura, uma vez que numa família em Portugal que nem tem dinheiro suficiente para comprar medicamentos, um livro passa a ser um bem não de segunda, mas de quinta necessidade.
É um facto que as editoras se aproveitam muito do preço dos livros e temos o exemplo da Quetzal que se gabou de colocar à venda o livro "2666" de Bolaño, com 1008 páginas a um preço de 29,23€ mas, passados poucos meses, colocou à venda o "Terceiro Reich" do mesmo autor, com 352 páginas por 21,15€. Quer isto dizer o quê? Quer dizer que o dinheiro que eventualmente perderam com o "2666" recuperaram com "O Terceiro Reich", tão simples como isto. Creio que os hábitos de leitura pouco têm que ver com isto e a ideia de que em Portugal se lê pouco é uma falácia.
Eu acho que os livros são caros, mas arranjei solução: bibliotecas. Eu não acho que em Portugal se leia assim tão pouco como se diz. No entanto, como os preços não baixam, prefiro ir às bibliotecas e não tenho nenhum problema com isso. Não tenho nenhum complexo em ter obrigatoriamente os livros que vou lendo na minha estante. Ainda que não os compre, isso não me impede de os ler. Até hoje, foram poucos os livros que quis e que não existiam na biblioteca.
Discordo. Parece-nos a nós, leitores regulares que em Portugal se lê, porque falamos constantemente com pessoas que lêem muito, mas não nos podemos deixar enganar, pois estamos longe de sermos uma maioria.
È uma grande verdade... Se em portugal quisessem ou se importassem com as pessoas que amam a leitura baixariam os preços. Portugal está a deteriorizar-se pouco a pouco...
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