"Livros quentinhos!", podiam as editoras apregoar, durante estes dias. O Parque Eduardo VII não tem qualquer tipo de protecção contra o Sol, que tem estado literal e metaforicamente on fire, nos últimos dias. Se quiserem lá ir, vão assim mais ao final da tarde. À noitinha. Mais cedo que isso, e é melhor andarem com garrafões de água atrás, protector solar espalhado em todas as partes expostas do vosso corpo, e dinheiro suficiente na carteira para, além dos livros, irem comprando gelados.
Mas a feira lá continua, com programação diária para pequenos e graúdos, descontos com um ar promissor, e muita, muita gente. Confesso que é bom ver que a afluência continua em alta. É sempre agradável ver mais e mais gente a ter contacto com o mundo da literatura, seja pelo Saramago, Dickens, Pessoa, Bradbury, Martin, Tolstoi e outros tantos, ou pelas farturas. De uma forma ou de outra, a probabilidade de acabarem por levar qualquer coisa é bastante elevada, dada a quantidade de livros abaixo dos 5 euros que por lá andam.
Não posso é deixar de reparar em várias coisas, a começar pelos preços. Há editoras e há editoras, e há algumas mais gananciosas e comerciais que outras. Por exemplo, apesar de não ser grande fã da Leya (já lá vou), a verdade é que deve ser a editora com a maior quantidade de livros baratos, e das poucas que não põe qualquer tipo de restrição aos livros que entram na hora H: precisam apenas de ter sido publicados há mais de 18 meses. E além disso anuncia-o abertamente.
O contrário se passa com a Saída de Emergência, uma editora de quem gostava bastante, mas que ultimamente me tem desiludido, e que nunca me deixa muito feliz na Feira do Livro. E porquê? Já nem falo do facto de dividir obras em 2 volumes, obrigando as pessoas a pagar quase o quádruplo do preço do que pagariam pela mesma coisa, em inglês. Há mais editoras que o fazem. E também vou deixar de parte a vertente mais comercial que está a começar a tomar, editando cada vez mais livros que vendem só porque sim, e esquecendo-se da premissa original de editora de Fantástico e afins. Mas relativamente à sua participação na hora H, para começar, os livros que ficam com desconto estão um bocado no segredo dos deuses. E nunca mais me vou esquecer de quando há 2 ou 3 anos lá fui e tentei comprar Martin com desconto, e me disseram "não não, estes não estão na hora H, que vendem muito".
Enfim, ignoremos. Até porque há outra coisa em que reparei e que não sei se me há-de deixar preocupado ou não. Já viram o espaço que o grupo da Porto Editora e o da Leya ocupam? Só as duas devem ocupar 1/3 ou 1/4 da feira, o que é dizer muito para basicamente 2 editoras. O que é que isto significa exactamente? Mais dinheiro por trás de toda a máquina de edição, publicação e distribuição dos livros, fazendo-nos chegar mais livros, de melhor qualidade, e preços mais baixos? Talvez. Poderá significar uma monopolização do mercado editorial, fazendo-nos pagar o que muito bem lhes apetecer pelos livros? Talvez.
Eu cá sei apenas que ir à Feira do Livro é agradável, mesmo com um orçamento bastante limitado. Pelo menos os Argonautas nunca desiludem, e já trouxe um Stephen King, um António de Macedo, um Ursula K. LeGuin e mais 12 livros, por menos de 20 euros, no total. Sou um gajo feliz? Nah. Mas pelo menos tenho livros, montes deles.
2 comentários:
Houve um ano memorável em que fui á feira em plena hora de almoço e estavam para cima de 30 graus...Mais calor que este ano. Façanha a não mais repetir...Por acaso não acho este ano os descontos muito apetecíveis, tirando a hora H, livro do dia e essas campanhas já habituais. E os preços nos alfarrabistas estão pela hora da morte...É obviamente uma monopolização. As megas editoras asfixiam as mais pequenas, bem como os pequenos livreiros. Cada ano a Leya ocupa mais espaço, parece um polvo...Mas sim, é sempre agradável ir á feira nem que seja só em passeio.
cumps
É verdade, a coisa anda complicada...
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