segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Hoje Não

Título: Hoje Não
Autor: José Luís Peixoto


Opinião: A minha história com este autor remonta a uns anos atrás e não tem nada a ver com a escrita dele.

José Luís Peixoto era júri de um concurso de mini-contos promovido pela Coca-Cola, ao qual participei. Aquilo tinha limite de palavras, e eu andei a cortar o meu texto para ficar dentro dos limites.

Não ganhei nada, mas isso não me chateou. Chateou-me ver textos escolhidos com quase o dobro do tamanho permitido. Desde aí, fiquei com um ódio quase incompreensível ao senhor, e muito provavelmente injusto. Mas fiquei.

Tanto que demorei 3 ou 4 anos a decidir-me a ler qualquer coisa sua. Comecei por este livro, que até me disseram que era porreiro. Agora antes de começar a crítica propriamente dita, digo já que li o livro sem preconceitos e sem "eu não gosto de ti, portanto o livro não vai prestar". Li e avaliei como faria a qualquer outro livro. É óbvio que para que eu gostasse mesmo, tinha que ser mais extraordinário do que um livro de outro autor, que não consigo evitar o sentimento de desconfiança, mas tentei ao máximo ser mais imparcial.

Com este aviso feito, sinto-me seguro para dizer que não gostei do livro. É formado por contos, alguns mais longos e dois ou três bem pequenos, mas praticamente todos banais e inconsequentes, pouco desenvolvidos, com personagens com pouca profundidade, e mais focados em serem profundos e simbólicos do que serem bons.

Começando logo por Legalize Airlines, que até tem uma ideia porreira (ponto a favor, o autor tem uma boa imaginação) em que uma rapariga herda um avião de passageiros e decide criar a sua própria companhia aérea juntamente com os amigos, mas que não parece ter propósito e é contado sem graça

Depois vem Biografia sem dentes, um dos contos mais parvos que já li na vida. Uma pessoa perde os dentes em várias situações importantes da sua vida. É tudo. Pequeno e passageiro.

Joana dos cabelos verdes, zero de relevância, não me interessei pela história, que tinha a premissa interessante de um autor que encontra entre freiras uma rapariga revolucionária que tinha conhecido há uns tempos. O autor aqui conseguiu pegar na história e torná-la honestamente desinteressante.

Quando cheguei a Eu e as poetisas, já estava farto de ler este livro. E agora aparecia-me um conto que metia poesia no título. Revirei os olhos, bufei, resmunguei para quem quisesse ouvir, respirei fundo e continuei a ler. Ainda foi dos contos em que a escrita mais me agradou, mas a história sobre uma poetisa que fala demasiado baixo para ser ouvida é tão... espera, eu disse história? Devo-me ter enganado.

Quase no fim há :-) e :-(, que tem um título curioso e que até me estava a interessar minimamente ao início, mas que rapidamente se tornou aborrecido. Um tipo diz ter inventado aquelas carinhas só para impressionar uma mulher (bastante peluda, go figure). Mas as situações artificiais e idiotas e as personagens de papel não me deixaram gostar.

Finalmente aparece o Fantasma escritor, o único traço de algo bom neste livro, uma viagem meta-literária que ainda consegui apreciar, em que o autor goza um pouco consigo próprio (talvez tenha sido por isso que gostei, eheh) e demonstra que a sua escrita consegue ser bastante superior ao que vi nos outros contos.

No fundo é um livro de contos aleatórios e inconsequentes, sem interesse e recheados de frases vazias. A escrita não é nada de extraordinário, a estrutura tem momentos pouco ortodoxos curiosos, mas pouco relevantes. Nota alta para a capacidade do escritor em se situar em vozes diferentes, conforme o narrador que usa, e para a sua imaginação e humor, que mesmo não tendo tido momentos brilhantes, promete.

Livro lido, continuo a não gostar do autor. Este livro não me convenceu de que é extraordinário e uma promessa da literatura portuguesa. Mas por outro lado também não me convenceu a desistir por completo. Talvez tenha mais sorte se ler um romance do autor, mais estruturado e cuidado.

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