segunda-feira, 24 de março de 2014

Peril at End House


Autora: Agatha Christie

Adaptação: Didier Quella-Cuyot
Ilustrações: Thierry Jollet

Opinião: Se ler Agatha Christie é sempre uma bela duma experiência, porque não experimentar as adaptações a BD? Esta foi encontrada casualmente ao desbarato na FNAC, e nem sabia que existia.

A primeira impressão é que a adaptação está bem feita. A história já é boa, pois foi imaginada e escrita por Agatha Christie, portanto não havia muito por onde falhar, desde que não se inventasse muito. E Quella-Cuyot não se perde, mantendo-se fiel à autora e ao seu estilo, sem cair no erro da caricatura ou da interpretação pessoal.

Sim, as personagens soam um bocado artificiais, os acontecimentos precipitam-se um pouco, e o Poirot consegue fazer as suas deduções de forma demasiado disfarçado durante toda a história, mas isto são tudo pormenores que fazem parte do encanto da autora, nomeadamente o facto dela ter conseguido quase sempre contornar essas "falhas" incorporando-as no seu estilo ou construindo uma narrativa tão forte e envolvente que atira o resto para a categoria de "pormenores irrelevantes".

Nesta adaptação isso não funciona tão bem, pois não são exactamente as palavras da autora que estamos a ler. Perde-se um bocado o efeitio, se preferirem, apesar do bom trabalho de Quella-Cuyot.

Mas o que funcionou pior foi outra coisa. Começo por apresentar David Suchet no seu papel de Poirot, provavelmente o mais famoso e a definitiva representação do mais famoso detective francês belga.

Fonte
O desgraçado do actor não é particularmente deformado, mas olhem para aquela foto. Ele tem a cabeça de ovo que Agatha Christie diz nos seus livros que o Poirot tem. Não vou ficar aqui a desbobinar todas as formas como Suchet é um Poirot perfeito, mas é inegável que é bastante semelhante à ideia que toda a gente tem do detective.

Não é que o aspecto físico de Poirot seja particularmente relevante para as histórias, mas é um traço distintivo e é parte do que faz o Poirot o Poirot. Nada que seja imutável, entenda-se, que eu uma vez vi um filme que tinha uma versão aloirada (ia tendo um ataque cardíaco), mas funciona melhor quando o resultado é bastante parecido com a visão original que a autora transmite nos seus livros.

Pois bem, apresento-vos agora o Poirot deste livro.


Reparem na banalidade. Na cabeça completamente normal. No leve ar de galã de Hollywood dos anos 60. Não, não e não! Esta personagem é descrita em todos os livros basicamente como um homem um pouco estranho, e não só por estar constantemente a falar das suas "célulazinhas cinzentas". Esta sua representação, para mim, cai completamente ao lado.

Mas tirando esse pormenor, que não é tão insignificante quanto isso, gostei desta leitura, que passou demasiado depressa. Fiquei seriamente espantado com a rapidez com que se consegue ler este livro. Os policiais desta autora raramente são leitura que se aguente mais do que três ou quatro dias nas minhas mãos, mas esta BD lê-se em coisa de meia hora.

E a história percebe-se. É de louvar. Tirando isso, a história em si é o costume: acontecimentos estranhos, assassínios curiosos, esquemas estranhos e rebuscados, deduções brilhantes que nos fazem sentir burros, e uma série de coincidências que atraem invariavelmente o detective para o centro da trama.

Assim, sem ser nada de extraordinário, aconselho este livro, que permite ter um vislumbre da rainha do crime num formato completamente diferente do habitual de forma bastante satisfatória.

2 comentários:

Loot disse...

Epá realmente transformaram o Poirot no James Bond Belga :S

E sim para mim o David Suchet também será sempre o Poiro :)
Já agora a série com ele regressou para uma última temporada (que ainda não vi)

Rui Bastos disse...

Pois, ficou mesmo desagradável... Não é que seja propriamente essencial à história, mas é essencial para a personagem!

E eu cá só vi episódios aleatórios, mas ainda os vou ver todos!