sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Saga #3


Argumento: Brian K. Vaughan
Arte: Fiona Staples




Opinião: A minha namorada teve a melhor reacção de sempre a um livro, depois de ler este: “porque raio é que há um planeta com tubarões coloridos a voar?”. Sim, há mesmo. E é uma boa pergunta, que tem uma resposta simples: porque é Saga.

Não há muito que saber, depois de ter lido os outros dois livros. A complexidade e a diversidade do mundo imagino por Vaughan e Staples nunca deixa de surpreender, e é fácil ter reacções como as da minha namorada ao virar de cada página.

Neste caso foram tubarões com pintas coloridas a voar pelos céus de um planetóide com comida alucinogénica, mas podia ter sido com a nave espacial de madeira em que os protagonistas viajam, ou com as cabeças de televisão de uma espécie bastante particular de realeza. O que interessa é que este mundo é colorido, fascinante e esconde surpresas ao virar de cada esquina.

A estrutura narrativa também é peculiar. Que ninguém se deixe enganar pelos carismáticos Marko e Alana, o casal que encarnam um Romeu e Julieta com mais sucesso, um com cornos a outra com asas; a verdadeira protagonista é Hazel, a filha desses dois que nasce nas primeiras páginas do primeiro livro e em torno da qual todas as histórias parecem girar. Juntem a isso o facto de a narradora da história ser uma versão futura desta miúda, e estão a ver a importância dela...

Nem sempre é óbvio como é que o fazem. Pelo menos até agora. Neste terceiro volume já é bem patente o rumo que a história está a tomar, e a forma como todos os arcos narrativos vão convergir. Nunca fiando, é certo, que aqui não há palhaçadas – qualquer personagem pode morrer a qualquer momento, e as acções e reacções das personagens raramente são cem por cento previsíveis – mas posso dizer com segurança que tenho expectativas bem claras sobre o que vou ler nos próximos livros, algo que até agora não tinha propriamente acontecido.

O meu problema agora é que não posso falar muito mais desta leitura sem começar a revelar detalhes cruciais, não só deste volume como dos anteriores. Vou tentar fazê-lo ao máximo, mas perdoem-me desde já quaisquer deslizes, que eu posso nem dar por eles...

De Marko, Alana e Hazel, já falei, mas digo mais ainda. A terceira é demasiado pequena para ter alguma relevância directa, mas os dois primeiros são personagens muito interessantes, um casal apaixonado e determinado, ao mesmo tempo guerreiros ferozes e pais extremosos. Às vezes literalmente ao mesmo tempo, como o prova a cena de luta neste livro em que Alana tem Hazel numa mão, uma maça na outra, e está à pancada a um monstro gigante feito de ossos reanimados por estranhos insectos alienígenas.

A mãe de Marko também é uma personagem curiosa, ainda que mais irritante, mas confesso que depois da morte do marido dela, sabe bem ver a sua relação terna com Oswald Heist, o escritor ciclope. Tudo sempre muito vigiado pela enigmática Izabel, o espectro que serve de ama a Hazel e que parece ter alguns segredos seus ainda por contar.

Por outras paragens, também são interessantes os dilemas do The Will e da Slave Girl – agora Sophie – juntamente com Gwendolyn, a ex-noiva de Marko, e o Lying Cat, companheiro de The Will e pertencente a uma raça peculiar de gatos alienígenas que conseguem detectar quando alguém está a mentir.

No entanto uma das personagens mais interessantes é uma das que tem menos tempo de antena. Falo de Prince Robot IV, um dos cabeças de televisão de que falei antes, pertencente à realeza, não sei bem de quê, mas sem dúvida a personagem que mais gozo me dá acompanhar. Não sei se por ser mais ou menos vilão, se por ser mais ou menos vítima, ou ambas as coisas ao mesmo tempo.

Que mais posso dizer? O enredo avançou, apesar de o ter feito de forma subtil, e mal posso esperar para ter mais volume disto nas mãos. Só tenho uma preocupação, que tem a ver com a tal convergência de todas as linhas narrativas: tudo parece conspirar para um final tremendo, com consequências épicas, mas ainda é demasiado cedo.

A ver se me faço entender. Começo a ter a sensação de que se está a aproximar o fim da história. Tudo parece andar ao ritmo certo para tal, mas nem pensar que tudo acaba no próximo livro, ou em mais dois ou três. Ou seja, o que raio é que estes tipos vão inventar a seguir? Como é que vão fazer a história avançar? Ah!, se conseguissem perceber a minha curiosidade! Acho que só lendo. Façam-no!