sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Uma Viagem à Índia [2/2]: ou como Gonçalo M. Tavares me fez desistir de um livro pela primeira vez em muitos, muitos anos


Autor: Gonçalo M. Tavares


Opinião: Leram bem. Não acabei o livro. Nem consegui chegar a meio, para ser sincero. Fiquei praticamente onde estava desde a última vez em que falei do livro. E entretanto decidi largá-lo e avançar. Algo que eu já não fazia desde que tinha uns... treze anos. Portanto obrigado, M. Tavares, conseguiste fazer-me quebrar um recorde de nove anos.

Questionemos a minha decisão. Como perceberam com o outro texto, não estava nada satisfeito com o que estava a ler. Não me estava a dar o mínimo de prazer, e a partir de certa altura passei a ver o livro como um empecilho que estava entre mim e coisas que valiam a pena ler.

Não foi uma decisão fácil, por um lado, mas foi simples e deu-me um alívio tremendo, por outro. Depois de quase duzentas páginas lidas, ainda me faltavam mais de duzentas. E o que é que eu estava a retirar da leitura? Nada. Já nem o conseguia analisar minimamente, para depois dizer mal (ou bem, ou neutro, ou chamar nomes). Eram apenas palavras numa folha que eu tinha de ultrapassar para chegar a um sítio melhor.

E quando a leitura começa a ser uma obrigação, está na altura de largar. Já não estou na escola, em que era mesmo obrigado a ler as coisas (se bem que nem por isso, já que os professores de português fazem vista grossa aos resumos e livros de análise de afins). Posso decidir o que leio, e quando é que o faço!

Foi então que num momento de rebelião contra os meus próprios princípios, tirei o meu marcador, fechei o livro e arrumei-o na estante. Poucas coisas nos últimos tempos me souberam tão bem. E ninguém me convence de que este autor é uma ilusão. Um tipo com talento, sim senhor, mas incapaz de escrever algo coerente.

Perdoem-me a comparação, a sério, mas Gonçalo M. Tavares, para mim, é uma versão discreta, com escrúpulos e mais intelectualidade, do Pedro Chagas Freitas. Não há volta a dar. o PCF é um aldrabão e nem sequer o considero um escritor, é um idiota que por ali anda a ganhar dinheiro; não digo tanto do M. Tavares. Mas que é mais uma manobra de marketing do que um escritor realmente bom? Sem sombra de dúvida.

3 comentários:

Pedro Corga disse...

Confesso que gostei mais do primeiro post sobre Uma Viagem à Índia... tinha mais substância... Mas, como diria alguém famoso (consegue adivinhar quem é sem googlar?): "é fraqueza desistir-se da cousa começada"...

Agora, um pergunta: acha que foi o peso da obra de Camões que fez com que, ao tentar comparar ambos os textos, desenvolvesse a tal aversão de que fala ao texto de GMT? É que o mesmo aconteceu com o Ulisses de Joyce no início do século passado (que estou a ler e a adorar). E *wink wink nudge nudge* Uma Viagem à Índia tem muito de paródico e subversivo a la JJ (não, não estou a falar do Judas do SCP).

Por último... eu próprio tenho escrito algo sobre o autor e estou a fazer uma tese precisamente sobre esta obra... portanto, considero este tema de grande interesse e muito proveitoso. Não quero armar-me em defensor de Tavares, mas penso que posso trazer algo de útil a um debate sobre o tema.

Se googlar, porderá encontrar alguns dos meus textos, alojados no academia.edu

Rui Bastos disse...

Depois desse post não li muito mais. Tentei, esforcei-me, mas quando já tenho que me esforçar daquela maneira para ler um livro, é porque não vale a pena. E não cheguei ao dono da citação sem googlar, mas não concordo com ela a 100%, de qualquer forma.

A resposta à pergunta é: não. Eu tenho um sério problema com este autor, que penso ser um dos mais overrated da Literatura portuguesa actual. Para mim, GMT está naquela onda de artistas que fazem o que lhes apetece, mas com cara série, e como se fosse a maior e melhor coisa à face da Terra. Basta serem levados a sério uma vez, ficam num pedestal e pronto.

Eu até já disse várias vezes que vejo talento em GMT. Ele sabe escrever, sem dúvida! Só que escreve as coisas erradas, da forma errada, e muita da fama que tem é mal atribuída.

Como é óbvio, tenho todo o gosto em discutir o tema!

R. P. disse...

Ah, esquecia-me: e depois aquele coisa de se julgar um filósofo, de buscar ideias a filósofos (ainda por cima aos charlatães continentais) faz com que digam dele que é um filósofo. O homem percebe tanto de filosofia como eu de pescar em alto mar.
Ele busca ideias de autores como Foucault e Deleuze, por exemplo. E as pessoas só por isso acham que ele é "enorme". Mas é uma valente bosta.