Devo começar por dizer que a edição que estou a ler é mesmo ao meu gosto: grande, capa dura, cheia de dourados.
As ilustrações de Lima de Freitas, maravilhosamente bem inseridas, retratam vários momentos da história, ajudando a visualizar vários episódios, que já são, muitas vezes, bem visuais.
A juntar a isso, tenho ainda que referir os 3 textos iniciais: o prefácio de Hernâni Cidade, muito elucidativo e interessante, e que de certa forma serve de preparação para a leitura do texto; o Alvará Régio, da edição de 1572, ainda com grafia antiga, escrito/mandado escrever por D. Sebastião (se não estou em erro, e se era assim que as coisas se processavam), em que este permite a publicação d'Os Lusíadas durante os próximos 10 anos e onde louva a qualidade do texto e dos seus "dez cantos perfeitos"; e ainda o Parecer do Censor do Santo Ofício, da mesma edição, com a mesma grafia, escrito pelo Frei Bertholameu Ferreira, que achei delicioso, especialmente quando diz que não vê nada de escandaloso, mas que acha necessário avisar os leitores que o autor usa a "fição dos Deoses dos Gentios", mas apenas com fins poéticos, não sendo por isso inconveniente "esta fabula dos Deoses", "Ficando sempre salva a verdade de nossa sancta fe, que todos os Deoses dos Gentios sam Demonios.".
Pormenores à parte, já li os 2 primeiros cantos, e vou a meio do terceiro. A habilidade que o autor tinha a manipular a língua portuguesa é de mestre. Acho fascinante a ideia de tanta estrofe sempre com o mesmo esquema rimático, o mesmo número de sílabas métricas, e que consegue contar uma história.
É claro que se há algo que me fascina ainda mais, é a mitologia. Todos os deuses greco-romanos e todas as suas intervenções são, fora de brincadeiras, divinais. Mas isso sou eu, que tenho um fraquinho por mitologia.
Agora um assunto mais sério. A Alice, aqui do blog, farta-se de dizer que este livro é a obra mais nacionalista que alguma vez viu, e que não gosta dele por isso mesmo. Em jeito de resposta, tenho a dizer que, primeiro, até podia ser um manifesto fascista subliminar, pouco me interessa. Eu sei que sempre foi moda misturar intervenção política/religiosa com a literatura e a arte em geral, mas por vezes é bom distinguir as coisas. Tenha o livro o contexto político que tiver, é uma obra bem escrita, fascinante, que só poderia ter saído da mente de um génio como o era Camões.
Segundo, voltando a misturar as coisas, temos que analisar essa parte da obra dentro do seu contexto... Foi publicada em 1572, na ressaca dos descobrimentos, o povo português era realmente o maior povo do mundo! Sim, essa parte pode ser discutível, mas acho que compreendem a ideia. Portugal era um Império que estendia pelos 4 cantos do mundo, era um país rico que tinha acabado de descobrir metade do planeta. Acho que é normal que as obras dessa época enalteçam o povo português, a soberania Lusitana... Ela existia!
Mas pronto, vou acabar a conversa dizendo que estou a gostar, e muito.